Preço baixo faz empresas recomprarem ações

Decisão pode sugerir perspectiva de melhora do valor dos papéis, o que significa que pode valer a pena ficar com a aplicação. Mas alguns analistas alertam que a operação reduz a liquidez destas ações. O investidor deve estar atento aos riscos de não vender seus papéis.

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Por Agencia Estado
Atualização:

O contínuo declínio do valor das ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ao longo deste ano, que acumula uma queda de 22,80% até sexta-feira, abriu espaço para que as empresas tomassem a iniciativa de recomprar seus papéis no mercado. A recompra pode ser uma maneira de estimular a valorização dos papéis e, nos Estado Unidos, vem sendo utilizada em ampla escala depois dos atentados terroristas de 11 de setembro. Na recompra de ações, as empresas pagam pelos papéis o preço de mercado, ou seja, do dia da venda. Trata-se de uma operação que fica aberta por três meses. Veja as ofertas de recompra na Bovespa na tabela abaixo. Neste momento de forte desvalorização da Bolsa, provocada principalmente pelo cenário externo, quem opta pela venda das ações na operação de recompra deve levar em conta que está negociando os papéis por um preço muito baixo. Nesta escolha, vale também a principal recomendação para quem investe em ações: apenas o dinheiro que não tem uma data definida para resgate deve ser direcionado para o segmento. O presidente da Associação Nacional dos Investidores Minoritários (Animec), Waldir Corrêa, acredita que a operação de recompra de ações sinaliza que a empresa tem um volume de dinheiro excedente no caixa e acredita ser mais rentável investir em si mesmo do que em outras aplicações. "Os investidores devem entrar junto, ou seja, comprar ações e não vender nessa hora", recomenda Corrêa. Para o presidente da Associação Brasileira dos Analistas de Mercado de Capitais (Abamec) de São Paulo, Francisco Petros, a recompra é um sinal claro de que o gestor da empresa está dizendo que suas ações valem mais do que está cotado no mercado. "É um sinal de confiança no negócios e vender a ação nessas horas seria uma decisão equivocada", argumenta. Riscos de ficar com as ações Para o gerente de Finanças da corretora Socopa, Gregório Mancebo, a utilização do instrumento vai reduzir a liquidez - volume de negócios - do mercado por algum período, pois a operação de recompra pode totalizar até 10% do volume total, segundo a legislação. Outro aspecto negativo é o objetivo da recompra, aponta Mancebo, pois ela pode ser utilizada para cancelar os papéis comprados posteriormente. "Se a intenção é cancelar, aí o estreitamento de liquidez será permanente, caso em que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) precisa disciplinar o mercado." O executivo da Socopa acredita que, quando a liquidez for comprometida, o melhor mesmo é o investidor negociar suas ações para não enfrentar dificuldade de vender mais tarde. "Nem sempre a recompra garante a recuperação de preços e quem comprar ou ficar com o papel pode ter de vender por um preço muito menor por causa da falta de liquidez", alerta. Segundo o sócio e gestor de Bolsa da GAP Asset Management, Alexandre Silvério, às vezes a empresa anuncia uma recompra, mas não compra nada. "Ela faz isso apenas para tentar aumentar o valor de suas ações, por isso é preciso avaliar bem a questão", orienta. "Além disso, o cenário do mercado pode piorar, criando um amortecedor ainda melhor para a empresa recomprar, porém o efeito é contrário, negativo, para o investidor." Companhias que anunciaram recompra Empresa Publicação (2001)* Total de ações Alfa Financeira 27/8 5,13 milhões Alfa Investimentos 27/8 2,4 milhões Embratel Participações 29/8 10,4 bilhões Alfa Consórcio 3/9 2,1 milhões Bradesco 5/9 91 bilhões Bradespar 5/9 71 bilhões Dimed 11/9 231,9 mil Unibanco 20/9 4,6 bilhões Unibanco Holding 20/9 4,2 bilhões Tele Centro Oeste 25/9 27,7 bilhões Santanense 26/9 614 mil Itaubanco 8/10 3,55 bilhões Cedro 9/10 93,1 milhões Bahema 10/10 29 milhões Ultrapar 22/10 1,4 bilhão * 3 meses a contar da data de publicação Fonte: Bovespa

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