Rio - O preço do petróleo abriu a semana em forte alta no mundo, como consequência da guerra em Israel, motivada pelos ataques terroristas ao país feitos no sábado, 7, pelo grupo Hamas. No final da manhã desta segunda-feira, 9, o barril do óleo tipo Brent registrava alta de 4,11%, cotado a US$ 88,06. Já o óleo tipo WTI subia 4,46%, sendo cotado a US$ 86,48.
Para especialistas, a tendência das cotações, pelo menos no curto prazo, é de se manterem pressionadas por conta do conflito, que atinge uma região importante para o abastecimento de petróleo no mundo. Adriano Pires, sócio e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), prevê a commodity chegando a US$ 100 o barril, como ocorreu no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2022. O tempo que isso irá durar, porém, ainda é uma incógnita, afirmou.
Segundo ele, com o dólar cotado no Brasil acima dos R$ 5, essa situação poderá levar ao aumento dos preços de combustíveis por aqui nas próximas semanas. “Acho que a Petrobras vai esperar uma semaninha, dez dias, para ver como fica a guerra em Israel. Mas, de qualquer maneira, tem sempre aquele medo de ter uma defasagem muito grande, principalmente em relação ao diesel, pelo risco de ter desabastecimento”, disse Pires. “O mercado de petróleo é muito sensível a questões geopolíticas.”
O Brasil importa cerca de 30% do diesel que consome. A boa notícia, destacou Pires, é a volta das exportações russas do combustível, produto que vinha sendo vendido com desconto de até 18% antes da suspensão das importações. Com a liberação das vendas externas, e se mantido os descontos, o diesel russo pode amenizar a necessidade de aumento pela estatal. “Isso se a guerra não atrapalhar”, destacou. Uma das hipóteses é do diesel russo ser vendido sem desconto, principalmente com o inverno no Hemisfério Norte se aproximando, ressaltou.
Segundo Pires, quando o petróleo tocou US$ 97 na semana retrasada e o dólar disparou, o mercado criou a expectativa de um possível aumento de preços pela Petrobras. Na semana passada, porém, a commodity voltou a ceder e fechou na sexta-feira em torno dos US$ 83 o barril. A defasagem dos derivados da estatal em relação ao mercado internacional, principalmente do diesel, chegou a registrar dois dígitos por vários dias nesse período, mas recuou no final da semana.
Diferenças com 1973
Na avaliação de Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, os desdobramentos da guerra entre Israel e Palestina devem jogar para cima o preço do petróleo, mas a situação do mundo hoje é bem diferente de 1973, quando os conflitos entre os dois países geraram embargos no mundo árabe, que discordava da ofensiva judaica, e fizeram o preço do petróleo triplicar.
“Me parece que temos aqui uma situação diferente de 1973. Vimos o preço subindo muito naquela época porque teve embargo, mas os desdobramentos disso podem envolver pontos mais sensíveis, que são o Irã, a Arábia Saudita e como os Estados Unidos vão participar... Isso pode trazer sim um peso maior para os preços”, disse Arbetman, explicando que a proporção da alta será vista nos próximos dias.
Ele destacou que os Estados Unidos têm feito “vista grossa” para as vendas de petróleo acima da cota pelo Irã, “de cerca de 700 mil barris por dia”, o que pode ser interrompido após os ataques do Hamas.
“A gente pode ver os Estados Unidos não mais relaxando os seus embargos com o país (Irã). No sábado (7), quando Joe Biden (presidente dos EUA) falou que está ao lado de Israel, temos de ver o grau desse lado, porque no passado, os Estados Unidos relaxaram o controle sobre a produção do Irã porque eles não queriam dar mais espaço para a Rússia”, explicou.
Segundo Arbetman, pode ter sim complicação para oferta e demanda num primeiro momento, mas ao contrário de 1973, os passos estão sendo dados com cautela e atualmente há muito mais oferta de petróleo do que há 50 anos, por isso ainda há incerteza sobre o impacto da guerra. “Hoje você tem demanda com mais dúvidas, mas existe oferta que pode ser adicionada pela Arábia Saudita, Emirados Árabes, enquanto Irã e Rússia têm embargos”, afirmou, ressaltando ser lamentável ver esses eventos acontecendo agora.
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