Na avaliação de Armando Castelar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) com a política industrial é “meritória”, mas falta uma visão mais crítica sobre o que já foi tentado por diferentes governos nos últimos anos para o setor, mas deu errado.
“É válido pensar na indústria porque ela vem perdendo participação no PIB brasileiro há bastante tempo”, afirma o pesquisador. “Mas (o artigo) falha em não olhar atrás e tentar tirar lições das várias políticas industriais que o País teve.”
Na leitura dele, o texto não trouxe um diagnóstico “muito elaborado” sobre as razões que levaram o setor industrial a acumular um desempenho tão negativo nas últimas décadas.
“Em geral, o que a gente vê é que a política industrial do Brasil foca em setores que não são mais competitivos. Só foca em proteger setores que perderam competitividade. Se olhar para os dois primeiros governos do presidente Lula, não vão faltar exemplos, como é o caso da indústria naval”.
No artigo publicado no Estadão, Lula e Alckmin falam numa Neoindustrialização para o País e destacam a importância do conteúdo nacional, “seja para a construção de cadeias produtivas mais resilientes a choques, como o que provocou escassez de insumos na pandemia; seja para dar conta do imperativo da mudança climática, a corrida espacial do nosso tempo”.
O texto também aponta a importância da reativação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). “Eu acho que tentar fazer uma política industrial a partir de um conselho nacional é um caminho para conceder benefícios para os setores que já estão aí”, diz Castelar.
O pesquisador do Ibre também aponta que o custo de capital mais baixo e a melhora do ambiente de negócios – como pedem o presidente e o vice-presidente no artigo – não foram suficientemente enfatizados no artigo. “A solução não me parecer ser simplesmente o Estado conceder crédito subsidiado para as empresas. Precisaria ser alguma coisa mais ampla.”
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