Presidente do Bradesco: ‘Vemos o Brasil com juros de 7% a 8% nos próximos cinco anos’

Marcelo Noronha avalia que País tem elementos necessários para controlar a inflação, com indicadores apontando em direção positiva, mas reforça o desafio de ‘acompanhar sempre’ a questão fiscal

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Foto do author Matheus Piovesana
Atualização:
Entrevista comMarcelo Noronhapresidente do Bradesco

O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, afirma que é razoável esperar que a taxa básica de juros do País, a Selic, recue para a casa entre 7% e 8% anuais em um horizonte de cinco anos. Hoje, a taxa está em 11,25% ao ano. Na visão dele, o País tem os elementos necessários para manter a inflação sob controle, o que deve abrir as portas para juros reais mais baixos.

“Trabalhar com um juro real (acima da inflação) de 4% é bem razoável porque, agora, estamos com uma taxa de juro real muito alta”, disse ao Estadão/Broadcast.

O executivo disse que o cumprimento da nova regra fiscal do governo, que limita o crescimento das despesas públicas a partir do aumento das receitas, é um desafio no médio prazo, mas considera que os principais indicadores apontam para uma direção positiva.

Segundo Noronha, a agenda de reformas microeconômicas – ações voltadas a melhorar o ambiente de negócios – tocada pelo Ministério da Fazenda, comandado por Fernando Haddad, ajuda a reforçar a segurança jurídica do País, e é um dos pilares dessa visão positiva. “Quanto mais segurança jurídica tivermos no arcabouço microeconômico, melhor. O conjunto da obra é positivo.”

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Para Marcelo Noronha, presidente do Bradesco, agenda de reformas microeconômicas da Fazenda ajuda a reforçar a segurança jurídica do País. Foto: Egberto Nogueira

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

As projeções e o plano do banco no médio prazo consideram que a taxa de juros da economia estará em um ou dois dígitos?

Debatendo com nossos economistas, olho para o Brasil com taxas de um dígito. A perspectiva deste ano depende muito do que acontecer com a taxa de juros nos Estados Unidos.

Como o sr. vê a política econômica do governo até aqui e o que o sr. espera para este ano?

Nossa visão é positiva. Na semana passada, vimos o FMI e o governo americano chancelando a posição diferenciada do Brasil em relação ao mundo. Estamos crescendo, a inflação está em queda, o juro também. Temos a reforma tributária e o arcabouço fiscal. Continuamos atraindo investimentos externos e nossa balança comercial é uma fortaleza. A política econômica é sensata do ponto de vista de encaminhamento político das medidas e robusta no que se refere às propostas, principalmente fiscais e microeconômicas. O governo conseguiu, queira ou não, aumentar a arrecadação, e eu acho que tem algumas oportunidades sem aumentar a carga tributária.

Como fazer isso?

Tem um desafio da política fiscal que não é desse governo, é estrutural. Mas eu acho que ganhamos consciência. A questão fiscal é o desafio que se coloca na mesa, principalmente de 2026 para a frente. Meu olhar é para cinco anos. É um olhar otimista e com algumas crenças. Quando me refiro à consciência, refiro-me à crença da população contra a inflação. A crença de que a inflação é um duro pedágio para todos, especialmente para a população de menor renda e que toda a população repudia ou repudiará qualquer desvio mais significativo em nossa inflação. Esse comportamento é determinante numa sociedade que quer desenvolvimento e aumento de renda. Já temos gerações que não conhecem aquelas taxas de inflação passadas. Mas levando-se em conta o curto prazo, é preciso ressaltar mais uma vez que a política fiscal é chave para crescimento, inflação e taxa de juros – ou seja, o equilíbrio das contas públicas.

Temos uma política monetária eficiente que derrubou a inflação; mas, como falei, o aspecto fiscal é um desafio que temos de acompanhar sempre. Temos hoje um dos menores diferenciais de taxas de juros entre Brasil e EUA, então a equação não é simples. Nossos economistas consideram que as políticas fiscal e monetária serão eficientes e que conseguiremos chegar em cinco anos nesse cenário de taxa de juros nessa banda (intervalo) entre 7 e 9%. Com 8% no meio da banda, considerando inflação entre 3 e 4%, e uma taxa real (acima da inflação) de 4%.

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Neste ano, o déficit zero é possível?

Parece que está sob controle, nossos economistas dizem que é factível. Tem desafios, mas se não der para ser zero, não é algo que o mercado vá penalizar este ano.

Quais suas expectativas sobre a reforma tributária sobre o consumo e sobre a renda?

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No caso dos bancos, o (secretário de Reformas Econômicas) Marcos Pinto tem dito que temos que ter cuidado para não onerar o custo do crédito para o consumidor. O mundo ideal é termos um equilíbrio. Acho que o governo está com uma agenda bem neutra, positiva com relação ao IVA (Imposto sobre Valor Agregado), e que o Congresso é sensível ao tema. A discussão está sendo capitaneada pela Febraban, e eu tenho uma expectativa positiva de que vamos sair com um arcabouço razoável, de tentar desonerar esse Custo Brasil. Tem um processo de implementação ao longo de alguns anos. Não é trivial fazer uma mudança em um sistema tributário complexo como o brasileiro.

O que é prioritário nas propostas apresentadas pelo Ministério da Fazenda em relação à agenda de crédito no Congresso?

Todos os temas são prioritários. São projetos importantes, que modernizam o sistema. O hedge (proteção) cambial para trazer investimentos de longo prazo é uma super iniciativa, porque dá muito mais tranquilidade para o investidor estar aqui. Quanto mais segurança jurídica tivermos no arcabouço microeconômico, melhor. O conjunto da obra é positivo.

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