O presidente do Santander Brasil, Mario Leão, afirma que a economia do País está na direção correta, com a inflação sob controle e um espaço para que as taxas de juros continuem caindo. Na visão do executivo, esse contexto reforça a melhoria de perspectiva da nota de crédito do País pela agência Moody’s, de estável para positiva, a despeito da desconfiança do mercado local com as contas públicas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Não foi precipitado, foi um gesto correto, e em um momento bem-vindo, o que reforça o trabalho que o ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad e o ministério como um todo estão fazendo de uma gestão equilibrada do investimento e do gasto”, disse ele em entrevista ao Estadão/Broadcast, na última sexta-feira, 3.
A alteração veio semanas após o governo alterar a meta fiscal para 2025, de um superávit de 0,5% do PIB para zero, a mesma deste ano. A mudança foi vista pelo mercado como um sinal de perda de credibilidade do arcabouço fiscal aprovado em 2023 e provocou alta nos juros futuros e no dólar nos dias seguintes.
Leão considera que o governo fez uma comunicação transparente sobre as possibilidades fiscais para o ano que vem. De outro lado, afirma que a gestão das despesas públicas é um fator importante, e ainda vê um cenário positivo para a economia.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista, concedida na sede do banco, em São Paulo:
Você já disse que nunca esteve entre os pessimistas com a agenda econômica do governo. Como vê a agenda neste momento, e o cenário interno e externo?
Continuo animado com o potencial que temos, ao controlarmos a inflação como controlamos, de seguir vendo os juros caírem. Esse nervosismo que tomou conta do mercado há algumas semanas foi exagerado, e desde então os mercados têm se acomodado, tanto lá fora quanto aqui. Aqui, foi um reflexo do que aconteceu lá, majorado por alguns temas domésticos, como a mudança da ambição do superávit para zero no ano que vem, que foi uma comunicação transparente que o governo fez, dada a avaliação do que era possível. No Brasil, temos um cenário de inflação benigno, o que significa que o Banco Central poderia continuar reduzindo os juros, e se vai mudar algo, é a velocidade com que essa queda acontece, e não para parar muito rápido e voltar a subir no ano que vem. Definitivamente não acreditamos nisso. Em algum momento vai haver uma aterrissagem razoavelmente suave que levará o Fed a reduzir os juros. Tudo isso se acomodou na dinâmica de preços. Do ponto de vista da condução, eu continuo positivo e otimista, com um governo que vai continuar buscando sua agenda de investimento social, que é correta, e buscando o equilíbrio entre esse investimento e o financiamento desse investimento, sem necessariamente aumentar a carga tributária do Brasil.
Não seria importante um compromisso do governo com a revisão de despesas, para que a carga tributária não aumente?
A gestão de despesas, sem dúvida, para qualquer empresa ou governo, é um tema importante. Acredito que, da sua forma, o governo vai buscar ser eficiente e, dentro do próprio governo, parte da resposta de como fazer os investimentos sociais em que acredita. Não acho que precisa de uma declaração pública, acho que precisa de gestão. Se o governo fizer a gestão prática, para mim vale mais que o discurso. Por isso me atenho menos aos ruídos gerados por uma declaração e mais aos fatos e dados, e os dados têm sido positivos. Sem aumento de carga, a arrecadação está em um nível bastante bom, há virtualmente pleno emprego, a renda disponível está aumentando, a inflação está baixa, e a agenda de gastos públicos é importante.
Você acha que a mudança de perspectiva da nota do Brasil dada pela Moody’s foi precipitada?
Não, a mudança foi dada a um Brasil que está, na minha visão, fazendo a lição de casa, buscando um equilíbrio fiscal com todos os desafios. O Brasil tem investimentos contratados de muitos anos, e mesmo assim, o governo está buscando, junto com o Congresso e a Justiça, um equilíbrio fiscal. As contas externas estão bem, e só vão melhorar na margem. O Brasil ainda está subalocado nos portfólios globais, então tem muito mais espaço para alta do ponto de vista do que vem para cá, e se tivesse saídas, temos reservas de sobra. Acho que a Moody’s e a Fitch, que possivelmente também deve mudar (a perspectiva), estão olhando para isso, e claro, com um olhar atento para a continuidade da execução de uma agenda de equilíbrio fiscal. Não foi precipitado, foi um gesto correto, e em um momento bem-vindo, o que reforça o trabalho que o ministro Haddad e o ministério como um todo estão fazendo de uma gestão equilibrada do investimento e do gasto.
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