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Pressão sobre inflação de alimentos diminui, mas preços continuam em patamar elevado

Economistas explicam que houve aumentos expressivos de preços no passado e uma pequena devolução em 2023; no início do ano, produtos in natura, como batata, cenoura, feijão, laranja, dispararam

Foto do author Márcia De Chiara
Atualização:

O pior momento da alta dos preços dos alimentos que turbinou a inflação neste início de ano já passou, afirmam economistas especializados em inflação. O repique da cotação da comida no domicílio, que acumula alta de quase 3% em janeiro e fevereiro, de acordo com Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, foi concentrado basicamente em produtos in natura. Isto é, aqueles alimentos vendidos na feira, como frutas, verduras e legumes.

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O aumento dos preços de alimentos perecíveis, comprados quase semanalmente, foi uma das hipóteses aventadas para a queda da popularidade do governo. Tanto é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou reunião com os ministros para atenuar o problema. De acordo com economistas, o que pode explicar o descontentamento dos brasileiros é que o nível de preço da comida está em patamar elevado, por causa das fortes altas que houve em anos recentes.

Uma das explicação para o aumento dos preços foi o impacto do fenômeno climático El Niño na oferta de alimentos. Como as safras dos alimentos in natura são curtas, com colheitas a cada 30, 40 dias, a perspectiva é de que a oferta se regularize e os preços recuem, à medida que as novas safras cheguem ao mercado.

Oferta de alimentos foi afetada pelo El Niño Foto: FELIPE IRUATA /ESTADAO

Em fevereiro, a alimentação no domicílio subiu 1,12%, muito acima do resultado da inflação geral que foi de 0,83%, segundo IPCA. Os preços de seis grupos de produtos in natura, no período, se descolaram da média da inflação no domicílio.

O campeão foi o grupo tubérculos, raízes e legumes, que registrou inflação de 4,39% no mês, puxado pela batata inglesa (6,79%), seguido pelo grupo cereais, leguminosas e oleaginosas, com destaque para o arroz (3,69%) e o feijão (5,07%). Na sequência estão as frutas que ficaram 3,74% mais caras em fevereiro, as hortaliças e verduras, com inflação de 2,31%, seguidas por aves e ovos (1,22%) e leites e derivados (1,21%).

A inflação do feijão com arroz fez acender o sinal de alerta no governo que procura alternativas para atenuar os impactos no bolso do consumidor e na sua imagem perante a opinião pública. No entanto, economistas veem pouca efetividade nessas ferramentas para resolver a alta de preços.

“Os instrumentos que o governo dispõe para atenuar a alta de preços dos alimentos são alguns, mas não são muitos, e eles não afetarão os preços no curto prazo”, afirmou o economista José Roberto Mendonça d Barros, sócio da MB Associados, em entrevista à Rádio Eldorado.

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Segundo ele, a discussão está chegando atrasada no radar do governo. “A entrada da safra de verão vai trazer alívio de preços que foram muito pressionados pela chuvarada e calor excessivos que o El Niño provocou. É uma preocupação legítima mas está um pouco ultrapassada.”

Apesar do recuo dos preços na ponta com as entradas de novas safras, como a do arroz, Mendonça de Barros alertou para o fato de o nível de preços dos alimentos hoje estar muito mais alto que no passado.

Em 2020, por exemplo, a alimentação no domicílio subiu 18,2%; em 2021, a alta foi de 8,2%; e em 2022, houve um aumento de 13,2%, segundo o IPCA. No ano passado, entretanto, houve um recuo de apenas 0,5%. Ou seja, houve uma escalada de preços e um ligeiro recuo que manteve o preço dos alimentos num patamar muito alto.

“Costumo dizer que é como se os preços dos alimentos tivessem subido a montanha com um carro muito veloz e agora estão descendo a pé”, afirmou Fabio Romão, economista da LCA Consultores.

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Romão observou que a sensação térmica para o consumidor não é boa atualmente porque o nível de preços está elevado. Houve aumentos expressivos de preços no passado, uma pequena devolução em 2023 e neste início de ano os produtos in natura importantes para o consumidor, como batata, cenoura, feijão, laranja, por exemplo, dispararam. Esse conjunto de movimentos pode ser a origem dessa sensação de desconforto do brasileiro.

Para este ano, a perspectiva é que a alimentação no domicílio tenha alta moderada de 4%, segundo a LCA. A MB Associados também projeta aumento entre 3% e 3,5% e o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, espera um avanço de 3,7%, ante um IPCA de 3,8% para o ano.

Recuo no campo

Braz observou que a tendência para os produtos in natura é de desaceleração e de devolver a alta acumulada por conta dos efeitos climáticos. No Índice de Preço ao Consumidor da FGV de março, por exemplo, ele já constatou que os produtos in natura estão subindo menos do que em meses anteriores. Isso é uma sinalização de que rapidamente esse aumento será devolvido, argumentou.

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Dados do IPCA-15 de março divulgados nesta terça-feira, 26 (prévia do IPCA cheio, mas com período diferente de coleta) apontam que o preço da batata inglesa, uma das vilãs da inflação de fevereiro, caiu quase 10% este mês (-9,87%). Também a cenoura ficou 6,10% mais barata no período.

No entanto, a maior fatia da inflação de alimentos é formada pelo movimento dos preços de produtos semielaborados e industrializados. E estes são influenciados pelas cotações de grandes commodities, como soja, milho e trigo, no mercados internacional. Braz observou que no mundo há hoje uma maior oferta de grãos. Por isso, os preços desses produtos não estão em alta, mesmo com os efeitos do El Niño.

Um indicador antecedente importante do que vai acontecer nos preços ao consumidor é o Índice de Preços Agrícolas no Atacado (IPA) da FGV, que mede as variações das cotações ainda no campo. Em março, até o dia 10, o indicador apontava queda de 3% para o milho, 8% para o arroz e de 5% para a soja. Até o preço da batata recuou 12% no indicador este mês, acrescentou Braz.

No caso do IPA dos alimentos processados em geral, que inclui arroz, açúcar, biscoitos, café, carnes, derivados de leite, queijos e óleo de soja, a queda foi de 0,6% este mês.

Bovinos na contramão

Apesar de as previsões serem bem comportadas para inflação de alimentos este ano, Romão alertou que o preço da carne bovina poderá surpreender e registrar uma aceleração moderada ao longo do ano.

Como houve um grande abate de fêmeas no final de 2022, o efeito é uma oferta de animais mais apertada este ano, o que pode pressionar preços. No ano passado, também houve forte queda nas cotações do milho e da soja, usados na ração animal. “Neste ano, não teremos um aumento dos preços do milho e da soja, mas aquele cenário róseo de custos de 2023 não deve se repetir.”

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