As recentes ondas de calor, queimadas e deterioração da qualidade do ar que atingem praticamente todo o País chamam ainda mais a atenção para uma questão que vem se transformando numa questão de sobrevivência: a emergência climática. Um tema que no Brasil ganha ainda mais importância, uma vez que o País se prepara para receber, no ano que vem, a COP-30, que será realizada em Belém, em uma região, a Amazônia, cuja preservação é apontada como fundamental para a questão do clima. Esse será um dos temas do Summit ESG - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030, promovido pelo Estadão e que será realizado no dia 26 de setembro, no Teatro B32, em São Paulo.
De acordo com o físico Paulo Artaxo, professor da USP e especialista em mudanças climáticas, por conta de tudo que vem acontecendo, é necessário consolidar, porém, o entendimento de que o evento programado para Belém não é sobre a Amazônia. “A COP 30 é sobre clima global. É um evento para discutir o futuro planetário e, sobre isso, existem grandes questões na lista de pautas”, afirma o cientista. “A redução de emissões, principalmente de combustíveis fósseis, é um dos itens principais que estará em debate. Além dos mecanismos de adaptação ao novo clima e das formas de estruturar mecanismos financeiros que ajudem os países em desenvolvimento no enfrentamento das mudanças climáticas.”
“O planeta precisa encontrar maneiras de se adaptar ao aumento de eventos climáticos extremos. A emergência climática está se intensificando rapidamente, e a COP-30 será fundamental para pressionarmos por maiores ambições de reduções por todos os países e para acabar com a exploração e uso de combustíveis fósseis como o petróleo. A Amazônia e a proteção dos povos tradicionais certamente fazem parte da agenda, mas a questão climática e o fim dos combustíveis fósseis constituem a agenda central”, diz Artaxo.
Em um evento da Amcham Brasil realizado nesta segunda-feira, 9, o coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), Sérgio Xavier, chamou a atenção dos empresários para o desafio do setor para evitar que eventos climáticos extremos destruam seus negócios.
“Esse é o foco-chave do processo. E, indo ainda mais no foco, já que estamos aqui em um ambiente empresarial, em um ambiente que não tem hedonismo, eu diria que há dois desafios que são fundamentais na economia. O primeiro é evitar a destruição dos negócios”, disse. “Porque, do jeito que estamos indo, muitos negócios vão ser destruídos ou pelos eventos extremos, ou pelo próprio mercado que não vai apoiar os produtos que estão contribuindo com o com a poluição, com a degradação, etc.”
De acordo com ele, setor empresarial precisa abrir a percepção e passar a participar ativamente da construção de uma nova economia, que é o segundo ponto. Isso implica em as empresas passarem a aproveitar as oportunidades da economia regenerativa. “A gente tem uma economia que, por melhor que ela seja, com mais atenção que ela tem, vai continuar dormindo, perdendo tempo. E temos de fazer isso, uma conversão muito rápida desses modelos para uma nova economia de forma acelerada”, disse.
Destruição das florestas
Para Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma instituição do terceiro setor, o fato de Belém estar ao lado da Amazônia vai, de alguma forma, ajudar a impactar os visitantes internacionais também sobre a questão da destruição da floresta. “Vai ter muita gente querendo saber e indo para a Amazônia, o que vai abrir novas oportunidades. Uma questão muito prática, por exemplo: se você quiser convencer alguém de que a floresta está pegando fogo, está sendo desmatada ou tem os impactos nocivos do garimpo, basta pegá-la, colocá-la dentro de um avião e fazer um sobrevoo das regiões com impacto”, disse. “Ninguém sai de dentro de um sobrevoo na Amazônia do mesmo jeito que entrou.”
Mas ele concorda que o fato de a Amazônia virar uma grande atração nas discussões internacionais realmente não muda o grande objetivo de uma COP, seja ela onde for. “É um evento que vai trazer essa possibilidade, de se olhar para a floresta. Mas, apesar dessa oportunidade, é uma COP sobre clima, não é sobre a Amazônia e nem sobre o Brasil. São coisas bem diferentes” disse Astrini. Mesmo porque, existe uma armadilha que precisa ser evitada, segundo o representante do Observatório do Clima: como os combustíveis fósseis são os grandes vilões das mudanças climáticas, diminuir a importância do tema para aumentar o debate sobre destruição das florestas pode acabar se tornando um desvio de foco.
Como está a preparação para o evento
Ao discursar na COP-28 em 2023 na cidade de Dubai, no evento que oficializou Belém como a sede da COP-30 em novembro de 2025, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez questão de enfatizar: “Uma coisa é discutir a Amazônia no Egito. Outra é discutir a Amazônia em Berlim. Outra é discutir a Amazônia em Paris. Agora, não. Vamos discutir a importância da Amazônia dentro da Amazônia. A questão indígena vendo os indígenas. A questão dos povos ribeirinhos vendo os povos ribeirinhos e vendo como eles vivem.”
Leia também
Como forma de alavancar a infraestrutura na capital paraense, o governo federal já liberou R$ 1,3 bilhão das verbas de patrocínio da Itaipu Binacional para os setores de infraestrutura viária, coleta de esgoto, pavimentação, iluminação e equipamento de controles de tráfego. Outra medida já firmada é a criação da secretaria Extraordinária da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), órgão que está sob o controle do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.
A expectativa é que, além dos representantes de 196 nações e dos 100 delegados oficiais da conferência, aproximadamente 50 mil pessoas viajem a Belém, cidade que, hoje, conta com aproximadamente 10 mil leitos.
“A questão da infraestrutura não pode ser minimizada, ela é muito importante para que você tenha chefes de Estado, presidentes, primeiros-ministros e membros do primeiro escalão dos governos vindo para a conferência. E isso vai atrair mais gente e fazer com que você tenha mais notícias da Amazônia, que você tenha mais pessoas que tomam decisão pisando no chão da floresta. Sem acomodação e segurança, por exemplo, os países-chave não mandam os seus representantes mais importantes e isso influi no funcionamento da COP”, disse Marcio Astrini.
Assíduo frequentador das reuniões climática pelo mundo, o executivo da ONG é enfático em dizer que gargalos no trânsito, impedindo os negociadores ir e vir, ou comunicação insuficiente por causa de redes de internet ruins, que barra a circulação e análises dos documentos oficiais, são ingredientes que podem separar o sucesso e o fracasso de uma reunião internacional. Além de um funcional aeroporto, para as chegadas e partidas. / Colaboraram Francisco Carlos de Assis e Eduardo Laguna
O Summit ESG Estadão - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030 será realizado em 26 de setembro, das 8h30 às 19h, no Teatro B32, em São Paulo. Para se inscrever, acesse este link.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.