A produção industrial brasileira teve alta de 1,1% em dezembro - o quinto mês seguido com resultado positivo. Com isso, fechou 2023 com um crescimento de 0,2%. Em 2022, o resultado tinha sido queda de 0,7%. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira, 2, pelo IBGE.
O resultado ajuda a colocar a produção das fábricas em um patamar superior ao período da pré-pandemia - 0,7% acima de fevereiro de 2020. Porém, o setor industrial está ainda 16,3% abaixo do maior nível já registrado, em maio de 2011.
Apesar de o ano passado ter terminado no campo positivo, somente nove dos 25 ramos pesquisados mostraram crescimento na produção. Os destaques positivos foram nas indústrias extrativas, produtos derivados de petróleo e biocombustíveis e produtos alimentícios.
Entre as atividades com indicadores negativos destacam-se veículos automotores, produtos químicos, máquinas e equipamentos, máquinas, aparelhos e materiais elétricos e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos.
Segundo o gerente da pesquisa no IBGE, André Macedo, 2023 foi marcado por dois períodos distintos. O primeiro semestre teve um comportamento predominantemente negativo da indústria geral, com uma queda de 0,3%. Já no segundo semestre houve uma melhora de ritmo na produção industrial, resultando num crescimento de 0,5%.
“Isso também fica muito visível quando observamos o indicador mês contra mês imediatamente anterior, com cinco meses de taxas positivas consecutivas, culminando com a expansão de 1,1% em dezembro. Com isso, o acumulado do ano, que ficou negativo uma boa parte de 2023, passou para o campo positivo”, observa.
O pesquisador do IBGE explica que o resultado de 2023 é considerado praticamente estável, ou seja, um crescimento tímido. Entre os fatores que contribuíram para o desempenho da indústria, ele lista o comportamento positivo do mercado de trabalho, com aumento na massa de rendimentos e inflação controlada, especialmente no segmento de produtos alimentícios.
Esta semana, o IBGE divulgou que a taxa média de desemprego do ano passado ficou em 7,8% - a menor desde 2014. Já a inflação oficial terminou o ano passado em 4,62%.
“Vale destacar também a contribuição positiva das exportações, especialmente no que se refere às commodities [matérias-primas básicas negociadas com preços internacionais]. Também se observa, ao longo do ano, o início da flexibilização na política monetária com a redução na taxa de juros”, finaliza.
Avaliação
Apesar de reconhecer que a produção industrial teve, ao fim de 2023, um desempenho mais positivo do que o esperado no início do ano, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, avalia, porém, que o crescimento do setor nas últimas leituras mensais trata-se mais de um “soluço” do que da consolidação de um movimento de robustez.
“Não engrenou ainda, mas a alta anual de 0,2% no ano é melhor do que o esperado. No início de 2023 a perspectiva era de recuo nesse setor”, afirma o economista.
Entre os pontos de atenção, Agostini também cita que o crescimento do setor nos últimos meses não tem ocorrido de maneira uniforme. Ele aponta, em especial, o desempenho dos bens de capital, que recuaram 1,2% em dezembro, acumulando queda de 11,2% em todo ano de 2023, na comparação com 2022. “É uma abertura que mostra que ainda não há confiança para investimento”, afirma.
À frente, a perspectiva da Austin é que a indústria cresça cerca de 0,3% no primeiro trimestre deste ano, desacelerando em relação à alta de 1,2% registrada no quarto trimestre de 2023. A depender dos efeitos de alguns vetores, como o programa Desenrola, a queda de juro e um cenário global menos crítico, esse desempenho pode ser melhor, salienta Agostini.
Entre os vetores de alta para o ano como um todo, ele também cita a nova política industrial anunciada pelo governo federal em janeiro. A iniciativa, porém, deve ser observada com cuidado, em parte devido às experiências recentes dos governos do PT com programas semelhantes, que, segundo, Agostini não deram tanto resultado.
“Uma política industrial é sempre bem-vinda, em qualquer país, mas a questão é em quem ela será focada. O foco deve ser em quem pode trazer resultado, trazendo ganhos na ponta”, avalia Agostini.
Para o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Sousa Leal, os recentes resultados positivos da produção industrial parecem sugerir que, após dois anos muito ruins, o pior momento do setor ficou para trás. “O que não quer dizer que a indústria brasileira não apresenta problema estruturais, e isso fica muito claro quando observamos que a nossa indústria opera 16,3% abaixo do recorde histórico atingido em, surpreendentemente, maio de 2011″, diz o economista, em relatório.
De acordo com Leal, o contexto macroeconômico aponta para uma melhora no médio prazo do setor, com inflação estável, juro em menor nível, famílias menos endividadas e com renda e o governo buscando incentivos para o setor. “Mas são necessários mais dados para traçar um cenário prospectivo mais construtivo”, salienta. A G5 projeta, por ora, crescimento de 2% para a indústria em 2024. / Daniel Tozzi Mendes e Agência Brasil
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