Taxa Rosa: produtos femininos podem custar quase o dobro dos similares neutros; entenda

Sobrepreço em itens cuja única diferença é o público-alvo, ou que tem embalagens em tons rosa, é desconhecido pelos consumidores brasileiros

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RIO - Produtos e serviços embalados ou caracterizados com roupagem de apelo feminino - quase sempre em tons rosa - podem custar até o dobro do preço de seus similares neutros. Porém, a tática usada para o sobrepreço, chamada de Taxa Rosa, é desconhecida pela maioria dos consumidores brasileiros. Os dados são de uma pesquisa da agência de marketing digital Macfor, obtidos com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.

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Cerca de 56% dos consumidores ouvidos pela empresa desconheciam o conceito de Taxa Rosa (Pink Tax, no termo em inglês). Menos de um terço (31,7%) dos entrevistados acreditava que o tema tinha alta relevância e o afetava em sua rotina de consumo. A pesquisa foi conduzida online com mais de 3 mil entrevistados de diferentes regiões do País entre os dias 27 de fevereiro e 7 de março deste ano.

Um levantamento de preços feito em março pela Macfor encontrou disparidades de preços de até 92,79% entre produtos iguais, de mesma marca, vendidas pelo mesmo estabelecimento comercial, tendo como diferença apenas a cor. Tons rosas, personagens e motivos que remetiam ao gênero feminino tornavam os produtos mais caros que seus similares neutros ou masculinos. Uma caneta rosa era vendida a R$ 9,62, contra R$ 4,99 de uma idêntica de cor amarela. Já um mordedor infantil rosa custava R$ 41,99, cifra 40,01% mais cara que o azul do mesmo modelo.

A pesquisa encontrou ainda uma diferença de 10,72% entre um chinelo azul e um rosa, vendido por R$ 15,49. O mesmo acontecia com um copo infantil rosa, que era negociado a R$ 32,99, sendo 10% acima do preço de um copo preto da mesma marca e para a mesma faixa etária.

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Produtos voltados para o público feminino são mais caros, aponta pesquisa Foto: Amanda Perobelli / Estadão

Segundo Louize Fischer, chefe de inteligência de mercado da Macfor, as mulheres são mais vulneráveis à aquisição de produtos por um impulso emocional, e algumas marcas se aproveitam para cobrar mais caro apenas por uma embalagem com uma roupagem mais feminina.

“Você olha um termogênico que não é para homem, é simplesmente um termogênico. Ele vai ter um preço. E aí você tem um termogênico que é exclusivamente para mulheres, ele é rosa, ele vai trazer um monte de benefícios específicos para mulheres, e que vai ser num preço muito mais caro. Só que quando você olha a composição, ele é exatamente igual (ao neutro). Então é muito frustrante isso”, exemplificou Fischer. “Eles acabam empacotando isso nesses ‘benefícios’ que têm muita ligação com o emocional, para mexer justamente com esses aspectos femininos. E acabam usando isso para vender mais caro, porque sabem que a mulher vai pagar mais caro se ela entender que aquilo ali vai deixar ela mais bonita”, completou.

Segundo a pesquisa, 33,3% dos entrevistados tendem a sempre preferir produtos destinados a mulheres em vez de produtos comuns. A mesma proporção de consultados (33,3%) tem a percepção de que há mais valor em produtos destinados a mulheres do que nos neutros. Apenas 27% relataram ter deixado de comprar algo destinado ao público feminino por conta da diferença de preço.

“As mulheres têm sido cada vez mais responsáveis pelas compras da casa. Então elas têm mais esse poder de decisão sobre o que é comprado dentro do lar. E quando você liga isso ao fato de que os produtos femininos são mais caros, e as mulheres estão mais responsáveis pelas compras, qual é a escolha que ela vai fazer então? Será que o próprio ticket médio da casa também não está mais alto por conta disso? Eu tendo a achar que sim”, pontuou Fischer.

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Além das armadilhas de marketing de consumo, a mulher ainda enfrenta como desafio ao orçamento doméstico um mercado de trabalho em que persistem as disparidades salariais entre os gêneros. A renda média real das mulheres que trabalhavam no quarto trimestre de 2023 foi de R$ 2.562, cerca de 21% a menos que os R$ 3.233 recebidos pelos homens, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“É uma situação que você reduz o poder de compra da mulher e, além disso, ela compra mais caro”, resumiu Fabricio Macias, CEO da Macfor.

A estratégia de sobrepreço em itens voltados ao público feminino foi mais percebida pelos entrevistados no segmento de beleza e perfumaria (98,30% viam incidência da Taxa Rosa nesse setor), seguido por moda e acessórios (89,70%), serviços em geral (24,10%), decoração (22,40%), brinquedos (17,20%), eletrônicos (15,50%) e livros e papelaria (13,80%).

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