Promessa de ajuste, cutucada no BC e atrito com a imprensa: a semana de Haddad na Fazenda em 6 atos

Em reunião, ministro da Fazenda pediu aos colegas de Esplanada cuidado para que não sejam feitas novas despesas, sob pena de corte

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Foto do author Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - Posse com hino nacional cantado e tocado por músicos ao vivo, compromisso de acabar com o rombo das contas públicas, prorrogação da desoneração do combustível, cutucada no Banco Central, vazamento do plano de ajuste fiscal, irritação com pergunta sobre moeda do Mercosul, ataque a setores da imprensa e pedido aos colegas da Esplanada cuidado para que não sejam feitas novas despesas, sob pena de corte.

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A primeira semana do ministro Fernando Haddad, começou em Brasília com reuniões de trabalho para fechar o plano de ajuste ao presidente Lula e muito incômodo com o batalhão de jornalistas no seu encalço, situação que acontece com todos os ministros da Fazenda, considerado o mais importante posto da Esplanada porque detém a chave do cofre do Tesouro Nacional e o poder sobre a cobrança de impostos pela Receita Federal.

Nos primeiros dias de trabalho, Haddad descartou a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) este ano, mas prometeu trabalhar pela aprovação da reforma tributária ainda em 2023, junto com o novo arcabouço fiscal para substituição do teto de gastos.

A assessores, o ministro mostrou surpresa com reportagens publicadas com base num simulação apresentada na primeira reunião de equipe, que acabaram vazando numa foto. Ele não entendeu porque o plano que ainda não estava fechado foi destaque na imprensa.

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Fernando Haddad, ministro da Fazenda.  Foto: Ton Molina/AP Photo

Dia 1 - O combinado

No dia de posse de Lula, ele combinou com três outros ministro da equipe econômica - Geraldo Alckmin (Indústria), Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dwek (Gestão) - de só falarem sobre economia depois de reunião de alinhamento, que ainda não aconteceu. Depois de tirar fotos com a família, na rampa do Palácio do Planalto, só aceitou responder pergunta da imprensa argentina, na qual defendeu o fortalecimento da integração na região e disse que Lula tem obsessão pelo Mercosul.

Dia 2 - A posse

É o primeiro a tomar posse no teatro do CCBB, que ficou, no entanto, fechado ao acesso dos jornalistas da imprensa escrita. A cantora Myrla Muniz, acompanhada dos músicos Alberto Sales ao violão e José Ocelo Ferreira no violoncelo, cantou o hino nacional. Prometeu responsabilidade fiscal e apresentação da nova âncora fiscal e disse que não haverá aventuras e nem bala de prata, mas não detalha plano de ação. Mercado financeiro não reagiu bem e petistas reclamaram que é apenas o primeiro dia de governo.

Deu explicações sobre o decreto que prorrogou a desoneração dos combustíveis, medida que não era defendida pela sua equipe. Conseguiu revogar outras medidas adotadas no apagar das luzes do governo Bolsonaro, que tiravam dinheiro do caixa de Lula. Disse que Fazenda é o patinho feio da Esplanada e que fica isolada.

Dia 3 - A Live

Fez live com o portal 247. Sem citar o Banco Central de Roberto Campos Netto, disse que os juros no Brasil são os mais altos do planeta quando a inflação é menor do que nos Estados Unidos e Europa. Situação classificada por ele de anômala. Criticou a alta volatilidade do câmbio dizendo que atrapalha a economia, verbalizando, mesmo que indiretamente, o desconforto dentro do governo com a avaliação de que Campos Neto não atua para conter a alta do dólar, o que piora o quadro inflacionário. Haddad disse que a “ficha caiu” para o mercado do impacto das medidas feitas por Bolsonaro para ganhar as eleições.

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Descartou a correção da tabela do IRPF em 2023, justificando que se trata do princípio de “anualidade” tributário. O princípio de anterioridade, que trata do IR, no entanto, permite medidas para reduzir tributos sem que seja necessário esperar o ano seguinte. Disse que fará pente-fino nas deduções de saúde do IR para coibir abusos, como o abatimento de gastos com tratamento estético.

Criticou a cobertura da imprensa: “Tem uma parte dessa grande imprensa, dos jornalões, que está de boa fé, preocupada e torcendo para dar certo e informando, e tem uma parcela que é viúva da derrota e visivelmente torcendo contra”. Fez primeira reunião com equipe para discussão do plano de ajuste. Simulações vazam.

Dia 4 - Despacho com Lula

Recebeu o presidente da Febraban, Isaac Sidney, e depois a presidente da Caixa, Maria Rita Serrano. Não compareceu à posse de Geraldo Alckmin com Lula. Justificou que estava preparando o despacho para a reunião de apresentação do plano de ajuste a Lula. Fez a reunião com Lula e levou Gabriel Galípolo, seu secretário executivo. Disse que o ajuste será apresentado nesta semana.

Dia 5 - O dono do cofre

Compareceu à posse da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e ouviu dela que é o ministro mais importante da Esplanada, o “dono do cofre”. Simone defendeu austeridade fiscal, fala em divergências na área econômica, mas pediu para elas ficarem para depois. Mercado ensaiou melhora. Haddad se irritou com pergunta sobre moeda única no Mercosul, mandou o repórter se informar, mas não explicou sua proposta de trabalhar por uma moeda comum para transações comerciais explicitada em artigo escrito com Galípolo. Nas redes sociais, militantes do PT atacaram a imprensa por mostrar irritação de Haddad e ressaltam que não dá para comparar com ataques de Bolsonaro à imprensa.

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Dia 6 - Reunião ministerial

Participou da primeira reunião ministerial sob o comando de Lula. Ouviu de Lula que a equipe aposente a palavra “gasto” de seu vocabulário e que o único gasto aceito é o dos juros. Haddad pediu aos colegas cuidado para que não sejam feitas novas despesas, sob pena de corte. Argumentou, ainda, que todos os anúncios de medidas e programas devem levar isso em conta.

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