BRASÍLIA - Diante das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central, o PT lançou na Câmara nesta terça-feira, 14, uma frente parlamentar “contra juros abusivos”. O ato político, coordenado pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), contou com a presença da presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann. Nos discursos, houve menção ao economista André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano Real, que tem criticado o nível da taxa básica de juros, a Selic, mantida em 13,75% ao anona reunião mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom).
“Nossa preocupação maior neste momento é com o crescimento econômico. O presidente Lula foi eleito falando de crescimento econômico, geração de empregos e distribuição de renda. Nós não conseguimos entender o fato de o Brasil ter a maior taxa real de juros do mundo, quase 8%”, disse Lindbergh, no Salão Verde da Câmara. O deputado espera terminar de coletar assinaturas para a criação da frente depois do carnaval.
Leia também
Lindbergh afirmou que o movimento “#JurosBaixosJá” é para mostrar à sociedade que o nível da Selic é “indecente”. “Os senhores viram a repercussão da entrevista do economista André Lara Resende, que fala de preocupação com estagnação e até recessão, o que é uma restrição de crédito principalmente na área do varejo, depois dessa crise com as Americanas”, declarou.
Em entrevista ao programa Canal Livre, da Band, exibida na madrugada de segunda-feira, 13, Lara Resende afirmou que manter a Selic em 13,75% é um “erro” porque, na visão dele, esse cenário apenas desaquece a economia sem combater de forma efetiva a inflação. O economista foi um dos idealizadores do Plano Real, que controlou a hiperinflação na década de 1990.
Outros economistas, como o ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, por outro lado, têm criticado a ofensiva de Lula e de governistas contra o BC e Campos Neto. Em entrevista ao Estadão/Broadcast no último dia 9, Meirelles chegou a dizer que o petista “está numa volta ao passado” e que suas declarações causam mais ruídos e incertezas, o que “força o BC a ser um pouco mais duro na sua política monetária”.
Na semana passada, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, lembrou que o banco também foi responsável por colocar a taxa básica de juros na mínima história. “Este foi o mesmo BC, com o mesmo grupo de diretores, que colocou a Selic em 2%”, disse.
No lançamento da frente parlamentar, o líder do PSOL na Câmara, Guilherme Boulos (SP), disse que a Faria Lima quer manter os juros altos “na canetada”, em referência à avenida em São Paulo que simboliza o mercado financeiro. “Não podemos admitir que isso [discutir política monetária] seja um tabu, ainda mais quando 60 milhões de brasileiros foram às urnas, há quatro meses, para dizer que não queriam a política econômica do [ex-ministro da Economia] Paulo Guedes, do [ex-presidente Jair] Bolsonaro e nem de quem participa de grupo de WhatsApp de ministros de Bolsonaro”, disse o deputado, em referência a Campos Neto.
Presidente do PT, Gleisi Hoffmann voltou a defender que Campos Neto vá ao Congresso “o mais rápido possível” para explicar a Selic. A deputada afirmou que o nível dos juros no País inibe o investimento privado e encare o crédito para a população, o que afeta a geração de empregos. “O Brasil é um país que tem seu fiscal saudável. Temos de parar com essa conversa de que temos risco fiscal. Qual é o risco fiscal? De não pagar dívida pública? Uma dívida inteiramente em reais, sendo que o Brasil tem reservas internacionais e uma dívida cuja proporção do PIB é plenamente razoável”, defendeu.
A deputada disse que a autonomia não dá direito ao BC de ser “irresponsável” com a economia do País. Além disso, afirmou que a inflação no Brasil não é de demanda. “O Banco Central não pode aplicar o remédio errado e comprometer o crescimento do Brasil”, criticou. “Esse é um debate econômico e político. Aliás, é político, a economia tem de ser discutida na política”, emendou.
Gleisi disse ainda que Campos Neto precisa explicar aos parlamentares o nível da taxa de juros. Já o Congresso, na visão dela, precisa pressionar para que a política monetária mude. Alguns integrantes do PT dizem que o presidente do BC pode ser convocado pelo Legislativo, mas a interpretação majoritária é de que, após a aprovação da autonomia do órgão, ele pode ser apenas convidado.
Mais cedo, no Twitter, Gleisi disse que Campos Neto “não explicou o básico” na entrevista que concedeu na noite de ontem ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Ontem, em ato político em comemoração ao aniversário do PT, a dirigente partidária disse que o BC “corrobora com a mentira” do que chamou de um mercado financeiro “antiquado e atrasado”.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.