O impacto para a economia brasileira das tarifas de importação para o aço e o alumínio impostas pelos Estados Unidos ainda é difícil de ser mensurado. Os economistas consultados pelo Estadão apontam que os desdobramentos econômicos da medida anunciada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, vão depender da capacidade de negociação do governo brasileiro.
Na segunda-feira, 10, Trump assinou duas ordens executivas impondo uma tarifa de 25% sobre aço e alumínio de todos os países globalmente — O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA.
Por ora, a grande dificuldade para traçar um cenário se dá porque não se sabe se a tarifa de 25% vai valer para todos os países. Se algum país conseguir reverter totalmente ou parcialmente a medida, certamente vai ganhar vantagem em relação a concorrentes.
O governo brasileiro tem algumas vantagens para tentar amenizar o impacto. Pode, por exemplo, argumentar que 90% do que exporta para os Estados Unidos é de aço semiacabado — um produto intermediário, que, se ficar mais caro, pode, na ponta final, representar mais inflação para o consumidor norte-americano. O País também é deficitário nas relações comerciais com os EUA. Ou seja, importa mais do que vende para os norte-americanos.
“O Brasil precisa ser muito estratégico na negociação por exportar um produto intermediário e pelo fato de ter um déficit com os EUA”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. “São argumentos que podem suavizar esse quadro.”

No seu primeiro mandato, em 2018, Trump chegou a impor tarifas de importação para o alumínio e aço. O Brasil, no entanto, conseguiu negociar e o sistema de cotas passou a vigorar. A cota brasileira é de cerca de 4,2 milhões de toneladas ao ano — 3,5 milhões de toneladas de placas e mais 680 mil de aços acabados.
“A melhor postura para o Brasil é reforçar o diálogo com as autoridades públicas dos EUA”, diz Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP. “O diálogo é a estratégia mais correta para o governo.”
Nesta terça-feira, 11, a indústria siderúrgica se reuniu com o governo brasileiro em busca de soluções para enfrentar tarifas de Trump. Como mostrou o Estadão, entre as siderúrgicas que atuam no Brasil, as mais atingidas pelas medidas de Trump são as fabricantes de placas ArcelorMittal, com duas unidades fabris no País, e a Ternium, no Rio de Janeiro.
Leia também
Numa conjuntura mais difícil, em que o aço e o alumínio do Brasil seriam taxados em 25%, mas algum outro país consiga avançar a negociação, a leitura é de que os produtos brasileiros perderiam espaço nos Estados Unidos. E pior: a indústria local lidaria com um cenário interno adverso — a expectativa é de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro desacelere este ano diante da alta de juros e do menor impulso fiscal.
“Com uma tarifa (de importação) dessa magnitude, certamente haveria uma sobra de produção aqui dentro”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
Nesse cenário de desvantagem, a indústria do aço e do alumínio veria uma queda na exportação, o que traria impactos na produção industrial e, consequentemente, na atividade econômica e no emprego.
Peso dos EUA
No ano passado, os Estados Unidos foram o segundo principal destino das exportações brasileiras. O País exportou US$ 40,3 bilhões para os norte-americanos. Foi um valor abaixo apenas do que foi vendido para os chineses (US$ 94,3 bilhões). “Algum impacto essa medida deve ter, mas é difícil dimensionar”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Em 2024, 61% do aço exportado pelo Brasil foi para os Estados Unidos — as vendas para todos os países somaram de 9,6 milhões de toneladas, mostra um relatório produzido pelo Itaú. Em 2015, a participação dos EUA na compra do produto brasileiro era de 40%.