Impulsionada pela digitalização de alto desempenho que enlaça máquinas, sensores, dispositivos móveis e pessoas (colaboradores e clientes), a quarta revolução industrial está em pleno andamento no mundo, com o Brasil incluído. As fábricas modernas não trabalham mais exclusivamente com boas matérias-primas, projetos funcionais para os produtos e força pesada. A indústria 4.0 traz à operação um novo elemento, a análise de dados. Algo essencial para as cadeias de vários setores, entre eles o automotivo, o têxtil, o farmacêutico e o de eletrodomésticos.
Segundo previsão da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o mercado da chamada indústria 4.0 no Brasil pode chegar a US$ 5,62 bilhões até 2028, a partir de um crescimento anual de 21%. Globalmente, a consultoria McKinsey estima que, até 2025, os processos relacionados à Indústria 4.0 poderão reduzir custos de manutenção dos equipamentos entre 10% e 40%. As contas de energia também podem cair entre 10% e 20% e a produtividade, medida pela eficiência dos processos, aumentar entre 10% e 25%.
“Falar em indústria 4.0 é falar em orquestração de várias soluções: fazer com que máquinas e sensores captem os dados, conversem com softwares e esses também se comuniquem entre si”, explica João Alfredo Delgado, diretor-executivo de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Agora, uma empresa não compra apenas uma máquina, ela adquire junto uma integração de software.”
Tecnologias como a Internet das Coisas, robótica, automação, inteligência artificial (IA), big data, nuvem, vídeo analítico, bem como a integração entre elas (sistemas máquina-máquinas) e dali às linhas de produção é o enredo seguido por uma fábrica que vise obter dados, analisá-los e tomar decisões.
A base de todo o processo é a conectividade de alto desempenho. Para que isso ocorra, duas tecnologias ganham força no mercado: redes 5G privativas e Wi-Fi 6, sistema com frequência de operação maior e, por consequência, uma largura mais ampla dos canais de dados.
Segundo Jefferson Gomes, diretor de Inovação da CNI, “a indústria 4.0 representa uma nova etapa na organização e no controle de uma cadeia de valor industrial inteligente e integrada num ecossistema de inovação e colaboração”. Analisados com a ajuda da IA, os dados, segundo os especialistas, abrem inúmeras possibilidades.
A orientação dia a dia fica mais inteligente. É possível planejar melhor desde o recebimento das matérias-primas até a distribuição da produção. Ao lançar um novo produto, a empresa consegue ainda reorientar suas linhas fabris com muito mais velocidade. Da porta para fora, identificar as preferências dos consumidores também fica mais preciso. “Quem não inova, fica para trás”, ratifica Delgado.
‘Mar de dados’ pode ser cilada
A implementação das novas tecnologias em um ambiente industrial pode ser feita aos poucos. O segredo, diz João Delgado, da Abimaq, é a empresa identificar muito bem o que precisa fazer e testar as tecnologias mais aderentes ao que precisa.
“Já tivemos muitos casos de organizações que compraram máquinas caríssimas e supermodernas sem necessidade”, revela. É justamente nesse ponto que surge a importância da correta implementação das tecnologias.
As tecnologias vêm ficando mais acessíveis, mas é muito fácil uma empresa cair, segundo Delgado, em um “mar de dados” e depois não usar aquilo de maneira efetiva. “Depende de que estágio você está e do que precisa. Nada impede, por exemplo, de você testar uma solução de forma isolada, antes de expandir a todos os ambientes.”
É de olho nesse mercado que fornecedoras de equipamentos, empresas orquestradoras de tecnologias e operadoras se movimentam para desenhar soluções inteligentes e funcionais com as fábricas. Instituições educacionais também investem em novos programas de capacitação com foco digital, e entidades como Sesi, Senai, Sebrae, CNI, Fiesp, ABDI, Abimaq e outras, por meio de câmaras setoriais, estimulam a inovação com programas e incentivos.
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