Com vários analistas prevendo para 2023 uma recessão moderada nos Estados Unidos e na Europa, além de uma desaceleração significativa no crescimento da China, os preços das principais commodities atravessam forte pressão de baixa, o que pode significar, para o Brasil e outros países da América Latina, uma faca de dois gumes: alívio na inflação, de um lado, e perda importante de receitas de exportação, de outro.
O agressivo ciclo de alta de juros pelos maiores bancos centrais do mundo é um dos principais fatores que devem afetar negativamente o PIB mundial em 2023 e, por tabela, os preços de matérias-primas como petróleo, minério de ferro, cobre e alumínio, entre outras. Além disso, a crise no setor imobiliário da China é outra ameaça à demanda por essas commodities industriais.
A S&P Global Market Intelligence, que estima uma alta de 2% para o PIB mundial em 2023, está prevendo queda de 7% nos preços do cobre, visto como o termômetro da economia global.
Após o impacto inicial da guerra da Ucrânia, que levou à disparada nos custos de energia e de alimentos, os analistas dizem que o pico nas cotações de petróleo, por exemplo, já ficou para trás e que o enfraquecimento da demanda mundial deve conter os preços. O barril do petróleo Brent já acumula queda de quase 5,5% neste mês. O índice global para os preços dos alimentos registrou alta anual de apenas 1,9% em outubro, em comparação com o pico de 40% de alta anual observado em maio, segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).
A consultoria Capital Economics diz que a queda nas receitas de exportação de países da América Latina, em razão de preços de commodities mais baixos, vai contribuir para aumentar os riscos em relação às finanças públicas no Brasil e na Colômbia em 2023.
Enquanto, para a balança comercial, Colômbia e México estão mais vulneráveis a uma recessão nos EUA, o desempenho da China afeta mais diretamente Brasil, Argentina, Chile e Peru.
Assim, o desfecho para o que vai acontecer com a política de covid zero do governo chinês se tornou um risco crucial a ser monitorado. A ameaça é se, diante dos protestos crescentes contra os lockdowns adotados para conter a disseminação do vírus, a China vai abandonar essa política de forma forçada e desordenada ou se a saída será de forma gradual e controlada. Um abandono caótico à política de covid zero pode fazer disparar as contaminações e mortes, levando à imposição de restrições draconianas.
Diante do delicado equilíbrio entre inflação e crescimento, fica difícil dizer se uma queda persistente nos preços das commodities será tão comemorada na América Latina.
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