Quem é que decidiu que era o dólar a moeda? Bem, o mundo decidiu; leia artigo

Enquanto alterações estruturais não se realizam, o dólar seguirá sendo a moeda mais eficiente globalmente

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Por Reginaldo Nogueira e Pietro Rodrigues
Atualização:

Em viagem recente à China, o presidente Lula da Silva fez uma pergunta: “Quem é que decidiu que era o dólar a moeda?”. Bem, o mundo decidiu; e decidiu em dois processos, um natural e outro formal.

O processo natural se iniciou com o crescimento da economia dos EUA a partir da segunda metade do século 19. Com as altas taxas de crescimento econômico e financeiro, não demorou para o dólar se tornar uma alternativa à libra esterlina como moeda de reserva internacional, o que se consolidou com a 1.ª Guerra Mundial.

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Mas, em 1944, com a proximidade do fim da 2.ª Guerra Mundial, os países aliados se reuniram na cidade de Bretton Woods e construíram o modelo financeiro do pós-guerra, no qual o dólar assumiu formalmente a posição central.

Essa mesma reunião viu a criação do Banco Mundial, que ajudaria a reconstruir a Europa com dinheiro americano, e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que daria solidez financeira ao sistema acordado.

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Essa é a história resumida de quem decidiu e como. Mas por que o peso do dólar ainda continua?

Brasil e China fizeram acordo para utilizarem suas moedas nacionais em vez do dólar em determinadas transações Foto: Estadão

Em primeiro lugar, vale olhar um conceito econômico chamado “externalidade de rede”. Muitas vezes um produto é líder no mercado simplesmente porque ele é o líder do mercado. É mais barato, seguro e racional seguir com o líder em muitos dos casos. O sistema financeiro construído desde o século 19 simplesmente torna o dólar muito superior a outras moedas.

Além disso, as alternativas ao dólar devem ser capazes de suportar eventuais déficits no balanço de pagamentos. O fato de os americanos gastarem mais dólares no mundo do que recebem é o que garante a estabilidade do comércio, dos investimentos e das reservas internacionais. Mas isso gera pressões políticas internas que Europa e China não parecem dispostas a assumir.

Por fim, a criação de uma alternativa global ao dólar deve ser sustentada por alguma estrutura internacional de governança. Desde o pós-guerra, os EUA têm sustentado boa parte dos custos de manutenção da ordem monetária internacional. Por exemplo, ainda hoje o país é detentor de 17,5% das cotas do FMI, tendo importante papel na definição da agenda e das decisões do órgão.

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Enquanto alterações estruturais não se tornem realidade, o dólar seguirá sendo a moeda mais eficiente globalmente, mesmo abrindo espaço para moedas concorrentes no portfólio de reservas internacionais de bancos centrais ao redor do planeta. / REGINALDO NOGUEIRA E PIETRO RODRIGUES SÃO, RESPECTIVAMENTE, DIRETOR SÊNIOR DO IBMEC; E COORDENADOR DO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO IBMEC SP

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