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Quem é Gabriel Galípolo e o que representa a indicação do número 2 de Haddad para diretoria do BC

Analistas veem ida de secretário executivo da Fazenda para o Banco Central como indicativo de que irá assumir comando da instituição em 2024

Indicado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para ocupar o cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo é mestre em economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e tem passagem tanto pelo setor público como pelo privado.

É apontado por colegas como um negociador habilidoso com trânsito no setor empresarial e financeiro que gosta de trabalhar em equipe. Já foi chefe da Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (2007) e diretor de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo (2008).

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Na iniciativa privada, teve passagem destacada pelo setor financeiro. Foi presidente do Banco Fator entre 2017 e 2021. Também é coautor do livro “Manda Quem Pode, Obedece Quem tem Prejuízo”, lançado pela Editora Contracorrente, sobre o funcionamento do mercado financeiro e a relação da economia com a política.

Na avaliação do economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, a nomeação de Galípolo para o BC é uma tentativa de aproximação entre o governo e a autarquia. “Não vejo como tentativa do governo de mudar a postura do BC de dentro para fora, porque o Galípolo é um dos nomes mais alinhados ao mercado financeiro. Ele já foi presidente de banco e, quando foi nomeado para ser o número dois da Fazenda, a leitura foi de que era uma tentativa do PT de se aproximar do mercado financeiro”, afirma.

Para Galhardo, é difícil prever qual será a relação do novo indicado com os demais membros do BC. “Mas, de qualquer forma, ele não vai poder, sozinho, mudar o direcionamento da política do BC, que tem outros membros”, afirma o economista, que, por isso, avalia que a nomeação não deve trazer impacto significativo sobre as expectativas dos agentes de mercado para a inflação. “Pode até gerar um impacto imediato, mas seria algo transitório”, emenda o analista.

Gabriel Galípolo é um dos principais nomes do Ministério da Fazenda comandado por Fernando Haddad Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Já o economista Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, diz que ainda é preciso ouvir as próximas declarações de Galípolo sobre a economia e a condução da política monetária do País para se ter uma ideia mais efetiva do que a nomeação significa.

“Vai ser importante ouvir o que ele tem a dizer na sabatina do Senado e, em particular, qual é a posição dele sobre a execução da política monetária, se ele vai professar ou não as teses da MMT (Teoria Monetária Moderna, na sigla em inglês), que tem gerado mais nervosismo no mercado”, diz Kawall.

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As preocupações em torno da associação de Galípolo à MMT - uma teoria econômica heterodoxa que defende que países que emitem sua própria moeda sempre poderão imprimir mais dinheiro para pagar sua dívida - decorrem do histórico acadêmico do economista. No ano passado, o nome dele aparece no texto “Diretrizes de Políticas Públicas para 2023″, do Cebri, junto ao do economista André Lara Resende, tido como um dos expoentes da MMT no País.

No capítulo de política monetária do documento, o Cebri defende que o BC deveria controlar toda a estrutura a termo da taxa de juros - e não apenas a taxa overnight, como hoje. Como consequência, o mercado deixaria de determinar as taxas para prazos longos e passaria a determinar o prazo médio da dívida. “O prazo da dívida é irrelevante, dado que o BC, emissor de uma moeda fiduciária, não tem problema de rolagem de dívida”, diz o documento.

Banco Central é a instituição responsável pelo combate à inflação - e a taxa de juros Selic é o principal instrumento para tal Foto: Marcello Casal Jr / Agencia Brasil

Para Kawall, o posicionamento de Galípolo acerca da MMT se torna ainda mais importante considerando que a sua sabatina no Senado provavelmente acontecerá em junho, às vésperas da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre as metas de inflação. Assim, as declarações de Galípolo e o futuro das metas podem determinar o espaço para cortes da taxa Selic.

Ruídos na comunicação

Para o banco Goldman Sachs, a indicação de Galípolo para o BC tem o potencial de aumentar os ruídos na comunicação do Comitê de Política Monetária (Copom) no curto prazo. “Não ficaríamos surpresos se começarmos a ver decisões divididas e visões diametralmente opostas dentro do Copom sobre qual seria a posição adequada de política monetária”, escreve o diretor de Pesquisa Macroeconômica do banco para América Latina, Alberto Ramos, em relatório.

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O economista lembra que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem criticado o Banco Central e pressionado por uma diminuição da taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano. Galípolo é visto como braço direito do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que já defendeu publicamente um corte da taxa de juros.

Para Ramos, a percepção de que Galípolo será o indicado para a Presidência do BC após o término do mandato de Roberto Campos Neto em dezembro de 2024 também pode gerar atritos dentro do comitê.

Nessa linha, o professor de Economia da FGV e ex-economista-chefe do Citibank, Marcelo Kfoury, diz que a indicação de Galípolo só faz sentido se ele for substituir Campos Neto no ano que vem. A ideia do governo, na visão do economista, é a de acelerar a redução da taxa básica de juro, a Selic, já que Galípolo é muito ligado ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo, amigo próximo e um dos conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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