Ao contrário de toda pompa e circunstância presenciada na posse de Pedro Parente na Petrobrás, ocorrida em maio de 2016, no Palácio do Planalto, com a presença de autoridades, convidados e mídia, o novo presidente da empresa, Ivan Monteiro, tomou posse oficialmente nesta terça-feira, 5, em uma cerimônia interna e discreta na empresa, bem ao estilo do executivo.
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Monteiro, que chega ao mais alto cargo da estatal após o pedido de demissão de Parente, entrou na Petrobrás em fevereiro de 2015 trazido pelo então presidente da estatal, Aldemir Bendine, atualmente preso pela Operação Lava Jato. Monteiro é o 37º presidente da Petrobrás, estatal fundada em outubro de 1953. Seu mandato vai até 26 de março de 2019, mesmo prazo de gestão de todos os outros diretores.
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Ivan da Souza Monteiro nasceu em Manaus, em 1960. Formou-se em engenharia eletrônica pelo Instituto Nacional de Telecomunicações, em Minas Gerais, com pós-graduações no Ibmec e na PUC, ambas no Rio de Janeiro. Fez carreira no Banco do Brasil, onde chegou a ser cotado para assumir a presidência do banco. Participa ou já fez parte de conselhos na Ultrapar, Mapfre, Votorantim e CPFL Energia.
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Como projetado pelo governo, a escolha de Monteiro agradou o mercado. No dia em que foi anunciado, as ações preferenciais da Petrobrás subiram 8,48%, e as ordinárias, 5,83%. Os papéis haviam caído quase 15% na sexta-feira, 1º. Para analistas do Itaú BBA, o novo presidente tem como principal desafio recuperar a credibilidade junto ao mercado, o que dependerá de eventos futuros.
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"O principal desafio de curto prazo que o presidente da Petrobrás enfrentará é o de recuperar a credibilidade do mercado, já que o programa de subvenção do diesel e a renúncia do ex-CEO da Petrobrás levantaram dúvidas e aumentaram a percepção de risco de interferência política", escreveu o banco em relatório. A equipe de análise avaliou que será necessário observar como o programa de subsídios será efetivamente implementado e executado.
Em suas primeiras horas de gestão, Monteiro demonstrou que deve corresponder às expectativas do mercado e dar continuidade ao estilo do seu antecessor, Pedro Parente.
A equipe de comunicação da empresa, por exemplo, foi mantida, e não há expectativa entre os funcionários de grandes alterações na metodologia de trabalho. Diretor financeiro e de relações com o mercado da companhia, funções que ainda acumula, Monteiro tem como característica a divulgação das informações apenas por fatos relevantes, o que não deverá mudar muito.
Na época da indicação de Pedro Parente para a presidência da Petrobrás, Ivan Monteiro aceitou permanecer no cargo, o que era defendido pelo mercado, em função do seu papel na reestruturação financeira da companhia. Analistas e bancos de investimentos destacaram o êxito de sua gestão no reequilíbrio do fluxo de caixa da companhia, nos cortes de gastos e funções administrativas, além da execução do plano de desinvestimentos estimado em US$ 14 bilhões neste ano.
Anúncio. O presidente Michel Temer anunciou a indicação em pronunciamento na sexta-feira. "Escolhido como interino, Ivan Monteiro será recomendado ao conselho de administração para ser efetivado na presidência da Petrobrás", afirmou Temer. No pronunciamento, de cerca de três minutos, ele ressaltou que seu governo mantém o "compromisso com a recuperação e a saúde financeira" da empresa e que, por isso, não haverá qualquer interferência na política de preços da companhia, como alguns políticos pressionam.
"Aproveito para reafirmar que meu governo mantém compromisso da recuperação e saúde financeira da Petrobrás. Portanto, continuaremos com a política econômica que, nesses dois anos, retirou a empresa do prejuízo e a trouxe novamente para o rol das mais respeitadas do Brasil e do exterior. Declaro também que não haverá interferência na política de preços da companhia. E Ivan Monteiro é a garantia de que esse rumo permanece inalterado", declarou Temer.
Processo. Em novembro de 2017, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) fechou um termo de compromisso no valor de R$ 200 mil para encerrar um processo sancionador contra Ivan Monteiro.
A autarquia questionava a companhia por não ter divulgado, em maio de 2016, os valores envolvidos na negociação referente à venda da participação da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), responsável pelos ativos de transporte de gás natural na região, apesar do vazamento dos valores à imprensa.
O Comitê de Termo de Compromisso, diante das características do caso concreto e de precedentes com características comparáveis, entendeu ser conveniente e oportuno aceitar a proposta. / DENISE LUNA, MARIANA DURÃO, PEDRO LADISLAU LEITE E RENATO CARVALHO
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