PUBLICIDADE

Publicidade

Quem ganha R$ 8 milhões por ano paga imposto igual a quem recebe R$ 6 mil por mês, mostra Ipea

Estudo aponta que a partir de uma renda anual líquida de R$ 450 mil por ano, alíquota efetiva de impostos começa cair no País

Foto do author Alvaro Gribel

BRASÍLIA - Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta terça-feira, 29, jogou luz sobre o que especialistas chamam de “regressividade” dos impostos no País. Ou seja, a partir de uma determinada renda, a tributação começa a cair, o que acaba se transformando em um benefício justamente para quem ganha mais.

PUBLICIDADE

Segundo dados elaborados pelo pesquisador Sérgio Gobetti, esse efeito faz, na prática, com que os ultraricos brasileiros (0,01% dos declarantes de Imposto de Renda), ou pessoas com renda acima de R$ 8 milhões por ano, paguem a mesma alíquota efetiva de impostos de um assalariado que ganha R$ 6 mil por mês, ou R$ 72 mil por ano.

“Isso acontece porque a partir de uma determinada renda, as receitas dessas pessoas vêm de aplicações financeiras e lucros de empresas, que são menos tributadas do que a folha de salários dos trabalhadores”, explicou o pesquisador.

BRASILIA DF NACIONAL 20/02/2020 SEDE RECEITA FEDERAL Superintendencia da Receita Federal, em Brasília. FOTO Marcelo Camargo/Agencia Brasil Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Quem ganha R$ 6 mil por mês tem alíquota efetiva de impostos de 12,9%, a mesma alíquota desses ultramilionários que ganham R$ 8 milhões líquidos por ano, cerca de R$ 666 mil por mês. Nessa alíquota o pesquisador também colocou na conta dos acionistas o imposto sobre o lucro pago pelas empresas.

Na prática, a alíquota de impostos cresce para quem ganha até R$ 450 mil líquidos por ano, mas, a partir desse valor, o percentual começa a ficar menor, configurando a chamada “regressividade”.

Gobetti defende que o governo federal apresente soluções para esse problema na reforma do Imposto de Renda que está em elaboração pelo Ministério da Fazenda. Uma forma paliativa de atenuar o problema, diz, é estabelecer um imposto mínimo para os que ganham acima desse valor.

“Enquanto tal reforma estrutural não ocorre, medidas alternativas como a imposição de um imposto mínimo sobre os milionários podem cumprir um papel paliativo temporário, compensando a falta de progressividade no topo da pirâmide”, afirmou.

Publicidade

O pesquisador entende que é preciso retomar a tributação de lucros e dividendos distribuídos a pessoas físicas, além de fechar brechas em regimes especiais de tributação, como no caso do Lucro Real.

Além disso, ele entende que o Simples Nacional deveria levar em consideração a renda dos donos da empresa, e não o porte da companhia, em si, para estabelecer a alíquota de tributação do lucro.

“O fato de uma empresa ser pequena não significa que seus donos tenham baixa capacidade contributiva e sejam merecedores de um tratamento privilegiado na tributação de suas rendas”, diz o pesquisador.

Segundo ele, há casos de milionários do Simples que pagam menos impostos do que quem ganha R$ 4,5 mil por mês.

“Os milionários do Simples Nacional pagam, em média, apenas 7,4% de imposto sobre tudo que ganham, incluindo aí os valores imputados de IRPJ/CSLL sobre dividendos recebidos. Ou seja, a carga tributária suportada pelos super-ricos do Simples Nacional é inferior àquela paga por um trabalhador assalariado que ganhe R$ 4,5 mil mensais e inferior também àquela paga por outros empresários com mesmo nível de renda”, afirmou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.