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Opinião | Área de finanças cresce no agronegócio

Pesquisa do Fesap Group aponta que entre 2007 e 2015 a média de buscas por profissionais com esse tipo de formação foi de 29% do total

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Atualização:

Tais Carvalho, sócia-consultora do Fesap Group 

Pesquisa realizada pelo Fesap Group aponta que a busca por profissionais da área de finanças para atuar no agronegócio representou 35% do total das posições trabalhadas para o setor no decorrer de 2015. "Entre 2007 e 2015, a busca foi crescente. Neste período, a procura por profissionais de finanças representou 29% do total das posições trabalhadas", diz a sócia consultora do Fesap Group, Tais Carvalho.

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Segundo ela, o mercado de agronegócio busca profissionais formados em economia, finanças e ciências contábeis. "Porém, são cada vez mais frequentes casos de administradores e de agrônomos atuando na área financeira." Tais afirma que essas posições têm foco em controladoria, planejamento financeiro, orçamento e gestão de risco. "Atuamos fortemente no preenchimento de vagas para posições de gerência e diretoria."

O diretor de risco da Naufarm, David Telio, é um exemplo dessa tendência. Formado em administração, é responsável pela área de crédito e cobrança da empresa. "Todas as atividades que exerci sempre estiveram ligadas, direta ou indiretamente, ao agronegócio", conta. Ele diz que fez especialização em derivativos, entre outras. "Fui agregando novos conhecimentos para oferecer mais às corporações. Quanto mais a pessoa investe na carreira, mais oportunidade tem."

Segundo ele, um dos pontos fortes em relação a atratividade de profissionais de finanças no agronegócio é a gestão de riscos comuns a atividade. "É crescente a necessidade de se ter profissionais fazendo gestão para diminuir o risco de crédito. Cada vez mais as indústrias de insumos, bancos, tradings e financeiras investem no agro e querem ter controle dos riscos."

Tais conta que nos últimos anos, houve mudança no perfil esperado de quem atua na área de finanças. "É exigido que ele contribua mais com o negócio. Antes, esses profissionais não apareciam muito. Hoje, estão na linha de frente. Negociam com a área comercial, dão pitacos na área de marketing e transitam em outras áreas, fazendo uma interface muito bem amarrada. A dinâmica das operações aumentou e ele passou a fazer parte das decisões."

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Telio diz que as corporações buscam pessoas que pensem em inovação e criem estrutura financeira diferenciada. "Os profissionais precisam se preparar para isso. O Brasil é o único país que ainda tem muita área para aumentar o plantio e a produção. Todas as multinacionais que estão aqui crescem ano após ano. É comum uma empresa do agro crescer de 15% a 20% ao ano, enquanto no mundo o crescimento é de 1%."

Diretor de gestão de risco da Naufarm, David Telio  Foto: Estadão

Ele diz que com essa perspectiva de crescimento, as incorporações precisam ter estruturação e conforto para continuar a assumir riscos. Tais conta que ao abrir uma vaga, a empresa procura quem tem entendimento do agronegócio, por ser um segmento muito específico, com particularidades em questões como operações financeiras e oscilações cambiais. "Isso exige que o profissional da área financeira do segmento se reinvente para não perder o 'time' das coisas."

A consultora destaca ser imprescindível a fluência no inglês e ter MBA ou mestrado na área de finanças ou economia. "Ele tem de acompanhar o mercado financeiro nacional e internacional, e saber como ocorre a organização empresarial e econômica do negócio." Segundo ela, existem cursos de finanças focados no agronegócio. "Jovens interessados em entrar na área devem começar como estagiário de finanças, ou analista. Neste caso, a chance de fazer carreira é maior porque já estarão ganhando conhecimento específico do setor", diz.

A pesquisa do Fesap Group também identificou que aproximadamente 80% das posições trabalhadas para o agronegócio financeiro foram de pessoas que já atuam no segmento. "Poucos profissionais vêm de banco, empresa de auditoria ou de corporações com atuação correlacionada, como as do ramo químico."

Além de ser inovador, ele deve ter proatividade, flexibilidade e jogo de cintura para lidar tanto com os acionistas quanto com a diretoria, que precisa de números muito rápidos. "Tem de ter olhar estratégico e estar antenado com o que acontece no mundo. Tudo isso, lógico, sem perder o foco de entregar as coisas do dia a dia", pontua.

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A consultora lembra que o agronegócio normalmente está em regiões remotas. "Apesar de ter muitas atividades nos grandes centros, o agronegócio ocorre no campo. Quem tiver disponibilidade de morar em regiões distantes terá vantagem. Numa primeira abordagem, 35% das pessoas declinam da posição por conta da necessidade de mudança", afirma.

O diretor financeiro de empresa do segmento do agronegócio instalada no Centro-Oeste, Eron Martins, conta que deixou o Rio Janeiro junto com a família. "Deu um certo medo no início, mas a qualidade de vida acabou compensando. Todos estão bem adaptados."

Segundo ele, o diretor financeiro dentro do mercado do agro tem de focar justamente a questão da concessão do crédito e a proteção com respeito ao câmbio. "Isso nos obriga a ter grande interação com as áreas de marketing e comércio, para que as análises de crédito não sejam puramente financeiras, mas tenham viés comercial."

Pré-requisitos técnicos ajudam profissional que busca colocação

A gerente de divisão da recrutadora Robert Half, Ana Carla Guimarães, conta que vê uma movimentação de bancos ampliando contratações dentro da área financeira, com foco no agronegócio. "Instituições que não atuavam nesse segmento estão criando estruturas e trabalhando de forma mais intensa e focada em produtos de 'soft commodities' (mercadoria agrícola)."

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Ana Carla Guimarães, gerente de divisão da Robert Half 

 

Segundo ela, para os cargos de entrada o ponto principal é o comportamental. "O conhecimento técnico não é tão excludente. Vemos que o que tem sido mais relevante são as características comportamentais e pessoais para o desenvolvimento de conhecimento de um novo produto. Avaliamos o quanto esse profissional tem interesse, investiga, se aprofunda e busca ferramentas para entender cada vez mais sobre o produto de forma específica."

Ela diz, no entanto, que para atuar no mercado financeiro, obviamente, existem características que são pré-requisitos técnicos que ajudam esse profissional a entrar no segmento. "Ter conhecimento de modelagem financeira, saber analisar o balanço de uma empresa, ter entendimento de forma macro sobre com está esse mercado e quais são produtos estão em alta ou em baixa é recomendável. Bem como, saber o que acontece na China e em outros países. Precisa, enfim, ter uma antena ligada com a atualidade."

Outra gerente da Robert Half, Isis Borge, comenta que tem observado o surgimento de várias vagas no mercado do agronegócio. "Esse segmento sofre menos com as conjunturas críticas e tem bastante oportunidades, principalmente por questões cambiais. As empresas estão exportando muito e isso tem provocado movimentação no mercado de trabalho dessas empresas."

Segundo ela, todas as áreas do agronegócio têm tido demandas. "Dentro do mercado financeiro, podemos falar com olhar mais generalista de profissionais com formação em administração, economia e engenharia. São formações acadêmicas que normalmente se enquadram bastante no perfil dos profissionais contratados."

Isis afirma que é muito bem visto pelas empresas quando, no momento da entrevista, o candidato demonstra que se preparou e pesquisou bastante sobre a empresa. Segundo ela, para as áreas de apoio em departamentos como financeiro, recursos humanos e tecnologia da informação, não há exigência específica por conta de ser do segmento agro.

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"Especializações são bem-vindas, mas o que tem sido ressaltado é o perfil pessoal do candidato. O comportamental está valendo mais que o técnico, bem como demonstração de interesse pelo mercado. Tem de saber explicar porque quer entrar no segmento e o que chama a sua atenção. Tem de ter profundidade nesse sentido para passar boa impressão."

Opinião por Cris Olivette
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