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Informação para sua carreira

Opinião|É possível sentir o que os atletas sentem, mesmo não sendo atleta?

Livro “A marca da vitória: a autobiografia do criador da Nike” traz reflexões interessantes

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Por Marisa Eboli
Atualização:

Que carreira seria? Seria possível ter uma carreira de atleta fora das quadras, pistas, salões, piscinas etc.? Fora das competições esportivas? Fazendo estas perguntas é que o fundador da empresa líder no ranking de marcas esportivas mais valiosas do mundo, começou a pensar no futuro de sua carreira.

Já sabe a qual empresa estou me referindo?

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Se pensou na Nike...Acertou!

“Praticar esportes o tempo todo em vez de trabalhar? Ou ter tanto prazer no trabalho a ponto de ele se tornar, essencialmente, um esporte?”, questionava Phil Knight.

Em vários momentos, ele havia fantasiado se seria um grande escritor, um grande jornalista, um grande estadista. Porém, seu maior sonho sempre foi ser um grande atleta. Infelizmente, o destino, segundo suas palavras, o havia feito bom, mas não ótimo. Aos 24 anos, ele estava, enfim, aceitando esse fato.

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Como Phil Knight transformou-se de um jovem em dúvida sobre seu futuro no criador de uma das marcas mais conhecidas e bem-sucedidas do mundo, a Nike, é o relato do livro “A marca da vitória: a autobiografia do criador da Nike” (Sextante, 2016). Título original: “Shoe Dog – A Memoir by the Creator of Nike”. Fiquei me perguntando afinal o que significaria Shoe Dog...Descobri. É uma gíria americana utilizada para designar homens que dedicaram sua vida aos calçados.

De acordo com Andre Agassi, um dos maiores esportistas da história e figura notável do tênis, o livro é uma biografia para quem ama esporte, mas acima de tudo para quem ama biografias. Declara na orelha do livro: “Conheço Phil Knight desde que eu era criança, mas não o conhecia realmente até abrir este belo livro, surpreendente e pessoal. E o mesmo vale para a Nike. Uso a marca com orgulho, mas não sabia da notável saga de inovação, sobrevivência e êxito que estava por trás de cada swoosh (*).

Outro depoimento relevante sobre o livro é de Rich Karlgaard, da Forbes: “A melhor biografia que me lembro de ter lido. Como relato empresarial, está à altura de livros recentes como Walt Disney, de Neal Gabler, e Steve Jobs, de Walter Isaacson. Mas, como relato pessoal, “A marca da vitória” atinge um nível de honestidade e emoção que nem mesmo as melhores biografias conseguem alcançar.”

Cofundador e CEO da Nike, Phil Knight, revela os primeiros dias da empresa e sua jornada de evolução ao longo dos anos em uma das marcas mais icônicas e rentáveis do mundo. Uma das principais mensagens do livro é que o sucesso não acontece da noite para o dia - ele é realizado através de muito sacrifício, perseverança, apostas arriscadas sem medo de mudar, perante os constantes desafios e problemas enfrentados pela empresa.

“A marca da vitória”, de Phil Knight Foto: Editora Sextante/Divulgação

Inicia seu relato resgatando sua história. Formou-se em uma excelente faculdade, na Universidade do Oregon. Fez mestrado em uma das melhores escolas de negócios - Stanford. Prestou serviço militar dos Estados Unidos em Fort Lewis e Fort Eustis. Seu currículo afirmava que era um soldado resoluto, um homem completo de 24 anos... Então, por que se sentia como se ainda fosse um menino? Com tantas dúvidas...

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“Estávamos nos anos 1960, a era da rebeldia, e eu era a única pessoa nos Estados Unidos que ainda não tinha se rebelado. Assim como todos os meus amigos, eu queria ser bem-sucedido. Ao contrário deles, não sabia o que isso significava. Dinheiro? Talvez, Esposa? Filhos? Uma casa? Claro que sim, se tivesse sorte. Esses eram os objetivos que eu aprendera a almejar e que parte de mim de fato desejava, instintivamente. Mas, lá no fundo, eu buscava algo diferente, algo mais. Tinha uma sensação dolorosa de que o nosso tempo é breve, muito mais efêmero do que jamais saberemos, tão breve quanto uma corrida pela manhã, e queria que o meu tempo significasse alguma coisa. E que tivesse um propósito. E que fosse criativo. E importante. E, acima de tudo... diferente. Eu queria deixar uma marca no mundo. Queria vencer. Esporte. Sim, pensei, é isso. Essa é a palavra.”

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Tudo isso pensado e decidido enquanto ele corria pela rua numa manhã fria, em meio à névoa no Oregon.

Em abril de 2022, Knight doou US$ 75 milhões à Universidade de Stanford que está lançando um novo programa científico multidisciplinar para estudar a resiliência cerebral e condições neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Com uma fortuna de US$ 41,5 bilhões, em 2022 ele estava entre os 20 mais ricos dos Estados Unidos, segundo a Forbes. Atualmente ele tem 86 anos.

Gostaria de confessar como e quando surgiu meu interesse nessa biografia de Philip Knight. Foi depois de ter assistido ao filme “Air: A História Por Trás do Logo” (2023) e ter conhecido a polêmica e, ao mesmo tempo, bem-sucedida decisão da Nike, em criar a linha Air Jordans, que foi um imenso acerto da empresa para revigorar sua marca. Lembrando sempre que é um filme baseado em uma história real. Porém, trata-se de uma ficção. Não é um documentário! Nem tudo é verdade. Há licenças poéticas...

“Air: A História por trás do Logo” é dirigido pelo ator Ben Affleck, que também atua desempenhando o papel de Phil Knight. O enredo aborda a trajetória de Sonny Vaccaro (Matt Damon), o funcionário da Nike que criou a linha Air Jordan e investiu em um único jogador: Michael Jordan, que na verdade já era bem conhecido antes de chegar à NBA; foi campeão universitário pela North Caroline. Ou seja, não era uma aposta tão cega fazer o contrato com ele.

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No início da década de 1980, a Nike nada mais era do que uma marca de tênis de corrida. E estava bem abaixo das demais concorrentes, Adidas e Converse. Sem medir esforços, Sonny tenta convencer a companhia de que a próxima estrela do basquete mundial seria Michael Jordan. A dúvida principal era entre apostar num só jogador ou dividir a verba em dois ou três. A inovação foi apostar em apenas um.

Destacam-se na narrativa a valorização da cultura da Nike, os valores da marca (movimento, dinamismo, qualidade, inovação e excelência), seus objetivos e o modelo de trabalho. São apresentados ao longo do filme os curiosos 10 Princípios de Sucesso da Nike.

Ao revelar os bastidores da desafiadora parceria entre a Nike e Michael Jordan, o filme proporciona ricos ensinamentos sobre inovação, empreendedorismo, liderança e gestão da mudança. E claro, tudo isso só foi possível por inserir-se numa cultura propícia.

Sem esgotar todas as possibilidades de análises, seguindo apenas o Manual de Oslo sobre Inovação, identificamos que a referida parceria implicou: inovação de produto, inovação de processo, inovação de marketing e inovação organizacional. A implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa teve impacto nas relações externas e em toda indústria.

OS 10 PRINCÍPIOS DE SUCESSO DO COFUNDADOR DA NIKE

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1) Nosso negócio é mudança.

2) Estamos no ataque, o tempo todo.

3) Resultados perfeitos contam — não um processo perfeito. Quebre as regras: combata a lei.

4) Isso é tanto sobre batalha quanto sobre negócios.

5) Não presuma nada. Certifique-se de que as pessoas cumpram suas promessas. Dê impulso a si mesmo e aos outros. Estenda o possível.

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6) Viva da terra.

7) Seu trabalho não está terminado até que esteja terminado.

8) Perigos: burocracia; ambição pessoal; tomadores de energia versus doadores de energia; não coloque coisas demais no prato.

9) Não será bonito.

10) Se fizermos as coisas certas, ganharemos dinheiro quase que automaticamente.

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A parceria entre a Nike e Michael Jordan, que resultou na admirável linha de tênis Air Jordan, significou intenso processo de mudança organizacional e oferece várias lições valiosas:

  • Visão e inovação: A Nike, enfrentando dificuldades no mercado, decidiu apostar em uma ideia inovadora. A visão de criar uma linha de tênis exclusiva para um único jogador de basquete, Michael Jordan, mostrou a importância de ter uma visão de futuro e inovadora para superar desafios.
  • Tomada de decisões corajosas: Decisões ousadas e arriscadas podem ser essenciais para promover mudanças significativas. A decisão da Nike de investir pesado em um contrato, fora dos padrões do setor, com Jordan, exemplifica a necessidade de coragem e capacidade de correr riscos para implementar mudanças transformadoras.
  • Alinhamento organizacional: Para que a mudança seja bem-sucedida, é necessário que todos na organização estejam alinhados com a nova visão. No filme, a equipe da Nike trabalhou em conjunto para convencer Jordan e sua família, mostrando a importância do trabalho em equipe e do alinhamento interno.
  • Adaptação e flexibilidade: A capacidade de se adaptar rapidamente a novas circunstâncias é vital. A Nike precisou ajustar sua estratégia de marketing e design para atender às demandas específicas de Jordan e do mercado de basquete.
  • Valorização do talento humano: Reconhecer e valorizar o talento das pessoas pode ser um diferencial competitivo. A aposta da Nike em Michael Jordan, um talento em ascensão na NBA, embora já fosse bem-sucedido e muito conhecido no mundo do basquete universitário, mostra como a identificação e valorização de talentos pode impulsionar a inovação e o sucesso.

Essas lições mostram que a gestão da mudança requer visão, coragem, alinhamento, adaptação, comunicação eficaz, valorização do talento humano e uma gestão cuidadosa dos riscos.

Gerenciar mudanças é crucial para viabilizar inovação. E a inovação é fundamental para o sucesso da Nike, especialmente no atual ambiente comercial turbulento e competitivo. Uma das principais razões pelas quais ela conseguiu superar marcas gigantes é a sua mentalidade inovadora. A história da linha Air Jordans foi um imenso acerto da Nike para revigorar a marca.

Além de uma bonita fotografia de época e trilha sonora empolgante, a trama do filme prende; romantizado, certamente, com um clima de tensão constante, mas agradável, e por vezes divertido, é um filme que vale à pena ser visto, também pelo que nos ensina em termos de gestão empresarial. Se combinado com a leitura do livro, o aprendizado acontecerá e se consolidará.

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Opinião por Marisa Eboli

Doutora em Administração pela USP e Especialista em Educação Corporativa. É Professora do Mestrado Profissional e Coordenadora da Pós em Gestão da Educação Corporativa na FIA Business School.

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