Eles não são famosos que envelheceram e passaram a dar dicas pelas redes sociais, mas estão ficando famosos por terem, com mais idade e tempo livre, escolhido plataformas digitais para ocupar as horas, a cabeça e fazer dinheiro.
Não apenas a tecnologia, mas o envelhecimento da população explica o comportamento dos influenciadores digitais mais velhos. Se na década de 1980 os brasileiros com mais de 65 anos eram 4% da população, nos anos 2010 saltaram para 7,4% - a projeção do IBGE é que em 2060 eles já sejam um quarto da população (25,5%).
Assim como os influenciadores digitais jovens, os chamados maduros falam sobre variados assuntos (moda, decoração, alimentação) dialogando tanto com o público sênior quanto com os mais jovens. E por conseguirem falar com esse público idoso crescente, viraram alvo de marcas que também precisam dialogar com eles.
Esse nicho de atuação foi captado pela consultoria de marketing Hype60+, focada no público com mais de 60 anos e que criou neste ano o Silver Maker, um hub de estratégia para fazer a ponte entre marcas e influenciadores. São mulheres como Rosangela Marcondes (Domingo Açucarado e It Avó), que tem 150 mil seguidores no Facebook, além da dupla do Morar.Com.Vc e do trio das Avós da Razão. Lá fora, fazem sucesso nomes como a americana Iris Apfel, que virou ícone da moda depois dos 90 anos e era representada pela atriz Nathalia Timberg na peça Através da Iris, em cartaz até março em São Paulo.
"A gente entende que os influenciadores maduros são estratégicos para as marcas. É uma conversa muito mais autêntica e verdadeira do que colocar uma atriz mais jovem falando com o público sênior", diz Layla Vallias, cofundadora do Hype60+, que tem clientes como a Kimberly Clark e Sesc.
A consultoria é a mesma que divulga nesta segunda-feira (15) a pesquisa Maduros e Digitais: redes sociais, influenciadores e vida digital após os 50 anos, que mostra hábitos de consumo do público sênior. Em entrevista com 533 brasileiros, em parceria com a empresa de pesquisa MindMiners, o levantamento mostra que, quando questionados se se consideram digitais, 74% das pessoas com mais de 60 anos dizem que sim.
Consumidores como esses incluem Rosangela Marcondes, de 63 anos, que aparece citada na pesquisa da Hype60+ no rol de microinfluenciadores. Foi em 2013 que Rosangela criou o blog Domingo Açucarado, quando estava para se aposentar. De lá para cá, além da conta do blog no Facebook, onde acumula 150 mil seguidores, também criou a conta It Avó no Instagram, onde fala de tudo um pouco, como moda, decoração, família, cotidiano.
"Em 2015 eu comecei a fazer cursos de reinvenção na USP e pensei: 'Nossa, essas avós que o mercado anuncia não somos nós'. Precisamos contar que essa 'it avó' é uma nova velha. É importante que o mercado te entenda como velho, para você ter o seu lugar, mesmo que a sua alma seja jovem", conta ela, que no ano passado começou a ver o alcance como influenciadora resultar em trabalhos.
Já participou como modelo recepcionista num evento de banco, fez vídeo para consultoria apresentar a clientes o perfil consumidor dos mais velhos e deu palestra sobre o envelhecimento.
No começo deste mês, mostrar os idosos como protagonistas (no palco e na plateia) foi o foco do Festival da Integração, promovido pelo Sesc São Paulo na unidade de Bertioga (litoral) com a presença de 680 idosos. Uma das mesas, sobre vida digital e longevidade, reuniu as fundadoras da Avós da Razão, programa de Youtube feito por Sonia Bonetti, Gilda Mello e Helena Wiechmann, todas com mais de 75 anos.
"Esses idosos são heavy users de Facebook, Whatsapp, não podem ser subestimados. Consideramos que não existe mais terceira idade, a partir dos 60 anos os idosos têm legitimidade de construir qualquer novo projeto de vida", diz Gabriel Madureira, assistente técnico da Gepros (Gerência de Estudos e Programas Sociais) do Sesc São Paulo, do Núcleo Idosos.
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