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Opinião|Inteligência artificial: Fonte de evolução ou alienação humana?

Vários eventos significativos aceleraram as discussões sobre a utilização da IA; são inúmeros os benefícios que ela proporciona, mas há também muitos riscos envolvidos

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Por Marisa Eboli

O filme “Oppenheimer”, dirigido por Christopher Nolan, foi o grande destaque na cerimônia do Oscar 2024, recebendo um total de sete prêmios nas principais categorias, como: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator etc. Trata-se de uma biografia de J. Robert Oppenheimer, focando na vida e no trabalho do físico que foi uma figura central no Projeto Manhattan, desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial, e que produziu as primeiras armas nucleares. Conhecido como o “pai da bomba atômica”, ele enfrentou vários dilemas éticos ao longo de sua vida. A complexidade de suas experiências e reflexões tornou-se tema central em discussões sobre ética científica e responsabilidade social.

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Em meados do ano passado, o executivo Geoffrey Hinton do Google pediu demissão após ter se dedicado a estudar Inteligência Artificial (IA). Conhecido como o “padrinho da IA”, Hinton anunciou sua saída, expressando preocupações sobre os riscos potenciais da tecnologia que ajudou a desenvolver. Ele mencionou a necessidade de discutir abertamente os perigos da IA e a importância de garantir que a tecnologia seja usada de maneira segura e pautada por princípios éticos.

Nos últimos anos, vários eventos significativos aceleraram as discussões sobre a utilização da IA: avanços tecnológicos, tais como GPT-3 e GPT-4, DeepMind e AlphaGo; automação no trabalho; problemas graves de privacidade e segurança de dados; escândalos na regulamentação de dados e muitos mais...Tais discussões apontam tanto o seu potencial transformador quanto os desafios filosóficos, éticos e práticos que a IA carrega. Por isso sua utilização gera tanta polêmica.

São inúmeros os benefícios que a inteligência artificial proporciona, mas há também muitos riscos envolvidos. Foto: koya979 - stock.adobe.com

Sem dúvida são inúmeros os benefícios que ela proporciona, seja na esfera pessoal ou profissional: automatização de tarefas repetitivas; aumento da eficiência; personalização; inovação etc. Mas como nem tudo são flores... há também muitos riscos envolvidos: desaparecimento de empregos; perdas de privacidade e segurança; dependência excessiva em seu uso, dentre outros.

Diante dessas considerações, parece claro que a utilização da IA deve ser cuidadosamente considerada, balanceando seus benefícios com uma avaliação crítica dos riscos.

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Tomas Chamorro-Premuzic, é diretor de inovação do ManpowerGroup, professor de psicologia empresarial na University College London e na Columbia University e associado do Entrepreneurial Finance Lab de Harvard, e publicou em 2023 o livro “I, Human - AI, Automation, and the Quest to Reclaim What Make Us Unique”, pela Harvard Business Review Press. O autor explora as implicações da IA na sociedade e na psicologia humana e expõe uma das maiores questões que a nossa espécie enfrenta: “Usaremos a inteligência artificial para melhorar a forma como trabalhamos e vivemos, ou permitiremos que ela nos aliene?”. Embora a IA tenha o potencial de mudar as nossas vidas para melhor, argumenta ele, também pode piorar as nossas más tendências, tornando-nos mais distraídos, egoístas, apáticos, tendenciosos, narcisistas, autoritários, previsíveis, impacientes, e o pior, sem curiosidade. Mas destaca: “Não precisa ser assim”.

Repleto de insights fascinantes sobre o comportamento humano e nosso complicado relacionamento com a tecnologia, o seu texto enfatiza que precisaremos redobrar a nossa curiosidade, adaptabilidade e inteligência emocional. Ainda, segundo o autor, à medida que a lA torna-se mais inteligente e mais humana, as nossas sociedades, as nossas economias e a nossa humanidade sofrerão as mudanças mais dramáticas que vivenciamos desde a Revolução Industrial. Algumas dessas mudanças irão melhorar a nossa espécie, outras, porém, poderão nos desumanizar e tornar-nos mais semelhantes a máquinas nas nossas interações com as pessoas. E conclui: “Cabe a nós nos adaptarmos e determinarmos como queremos viver e trabalhar. A escolha é nossa. O que decidiremos?”

Não são poucas as provocações apresentadas no livro. “Como é que a lA está mudando a forma como trabalhamos, bem como outras áreas da vida, tais como relacionamentos, bem-estar e consumo? Quais são as principais diferenças sociais e culturais entre a era lA e as anteriores da civilização humana? E como a lA está redefinindo as principais formas pelas quais expressamos a nossa humanidade?” São perguntas que fascinam o autor. Por isso, como psicólogo, ele estudou as características e as fraquezas humanas durante décadas, tentando entender o que nos motiva. Durante mais de vinte anos, grande parte de sua investigação centrou-se na compreensão da inteligência humana: como defini-la e medi-la.

Chamorro-Premuzic enfatiza que a lA está mudando as nossas vidas, os nossos valores e as nossas formas fundamentais de ser. É hora de olhar para a lA a partir de uma perspectiva humana, que deveria incluir não apenas questões técnicas, mas principalmente sociais, morais e éticas. À medida que a IA se torna cada vez mais integrada em nossas vidas, é fundamental que desenvolvedores, legisladores e a sociedade em geral compreendam e enfrentem esses desafios, e conscientizem-se de que os riscos associados precisam ser gerenciados com cuidado e responsabilidade.

Há dois capítulos do livro extremamente interessantes, pelo menos, na minha opinião. Um mostra como nos tornamos enfadonhos e previsíveis. Para ilustrar, oferece o teste “Você é previsível?” E sentencia que embora a lA tenha sido corretamente rotulada como uma máquina de previsão, o aspecto mais surpreendente é que ela está nos transformando, humanos, em máquinas previsíveis. Explica que os algoritmos se tornaram mais preditivos porque a era lA confinou a nossa vida quotidiana a comportamentos repetitivos semelhantes aos dos autômatos.

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Outro capítulo enfoca como a IA inibe nossas “mentes famintas”, automatizando a curiosidade humana, o desejo ou a vontade de aprender. A mente faminta das pessoas começa a se desenvolver desde muito cedo. Infelizmente, também é verdade que os níveis de curiosidade tendem a atingir o pico aos quatro ou cinco anos de idade para a maioria dos humanos, diminuindo depois. Também propõe outro teste: Você é curioso?

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E no final do livro temos outro intitulado “How to be Human”, no qual Tomas Chamorro-Premuzic explora a questão de como manter e valorizar a humanidade em um mundo cada vez mais dominado pela IA. Resgata a importância de habilidades, competências e qualidades humanas que a IA ainda não pode replicar plenamente e discute como essas características podem e devem ser cultivadas e aplicadas mesmo em um ambiente tecnológico avançado.

Enfim, trata-se de uma leitura muito apropriada para os tempos que vivemos. Melhor refletirmos bem agora para não nos arrependermos depois. Relembrando as sábias palavras de Geoffrey Hinton: é necessário discutirmos abertamente os perigos da IA para garantir que ela seja usada de maneira ética e segura.

Importante relembrar que dentre as quinze habilidades que estarão em alta no mercado de trabalho até 2025, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial, a maioria refere-se a habilidades comportamentais e a habilidades humanas, como comunicação, colaboração, independência e criatividade, que serão cada vez mais procuradas, mesmo em áreas não relacionadas, como tecnologia.

A tecnologia entrou nas nossas vidas sem pedir licença e não há como freá-la. Mas tal processo só reforça a relevância de colocarmos no radar da Educação as “Humanidades”, incluindo-se aí a Filosofia, a Literatura e as Artes em Geral.

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E você como está se preparando para essa realidade? Pense como a IA poderá impactar sua vida pessoal e seu trabalho nos próximos anos. Você vai precisar se reinventar? E reaprender? Já desenhou seu plano de desenvolvimento individual?

Opinião por Marisa Eboli

Doutora em Administração pela USP e Especialista em Educação Corporativa. É Professora do Mestrado Profissional e Coordenadora da Pós em Gestão da Educação Corporativa na FIA Business School.

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