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Opinião | Os desafios de arquitetos urbanistas nas metrópoles

Professores dizem que distribuição espacial das cidades determina a qualidade de vida

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Atualização:

Flávia Guimarães, aluna do 10º semestre da FAAP Foto: Estadão

"O grande desafio para futuros arquitetos urbanistas será pensar a cidade do futuro. Quais serão as suas necessidades? Como serão as habitações?", diz o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Gilberto Belleza.

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Segundo ele, as deficiências da área habitacional e de qualidade das cidades no Brasil proporcionam boas perspectivas de carreira aos jovens profissionais. "Temos um grande fosso se compararmos a qualidade urbana de nossas cidades com a de cidades desenvolvidas. Essa qualidade precisa ser idealizada e o profissional habilitado a fazer isso é o arquiteto urbanista. Caso essas melhorias não ocorram, teremos péssima qualidade de vida e de moradia."

Belleza diz que o campo de atuação dos profissionais foi ampliado consideravelmente nos último anos. "Antes, o exercício da profissão ocorria, basicamente, nas áreas de projetos de arquitetura e obra. Hoje, temos arquitetura de interiores, planejamento urbano, sustentabilidade e paisagismo, que ajudam a fomentar a quantidade de trabalho", afirma.

Coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Marcos de Oliveira Costa afirma que a principal diferença entre as atividades de arquiteto e urbanista é de escala. "Ambas atividades tratam da construção e significação do espaço. Porém, o arquiteto lida com a escala da edificação, enquanto o urbanista trabalha com escala da cidade."

 

Segundo ele, o principal desafio da carreira diz respeito ao processo de urbanização vertiginoso que vivemos. "Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que mais de 3,5 bilhões de pessoas vivem em cidades, sendo que no final deste século este número dobrará."

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Professor Marcos de Oliveira Costa. da FAAP Foto: Estadão

Costa considera que a qualidade espacial das novas cidades e de suas edificações serão decisivas em relação à qualidade de vida das pessoas. "Trata-se de problema de alta complexidade que envolve aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais. Somente os arquitetos, em conjunto e sintonia com a sociedade, poderão contribuir para o surgimento de cidades mais humanas", afirma.

O professor ressalta que o curso oferece um leque de possibilidades profissionais. "Existem arquitetos urbanistas atuando em áreas como cenografia, editoração, paisagismo, museografia, entre outras." Ele diz que o mercado busca profissionais com boa formação cultural, em especial em relação ao seu repertório arquitetônico e urbano, e ao mesmo tempo, com domínio dos softwares de projeto utilizados na construção civil. "Os principais empregadores são escritórios de projeto arquitetônico. Mas existem boas oportunidades em construtoras e empresas públicas de arquitetura e urbanismo."

Prestes a concluir a graduação na FAAP, Flavia Guimarães Fernandes deseja atuar como arquiteta de interiores, realizando reformas em apartamentos.

A jovem de 22 anos avalia que o desafio que tem pela frente é conseguir conciliar o que os clientes desejam em espaços cada vez mais reduzidos. "Trabalhar com apartamento compacto é um desafio. Por isso, os móveis estão ficando mais compactos e com opção de escondê-los. Uma cozinha, por exemplo, pode ficar toda embutida e na hora de usá-la, basta puxar."

Flávia faz estágio há dois anos no escritório de arquitetura Roberto Migotto. "Trabalho no setor de reformas e faço reunião com clientes, projetos de reforma, detalhamento de marcenaria, visito obras e lojas etc. É bom porque estou conhecendo todas as fases de um projeto."

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Seu trabalho de conclusão de curso (TCC) é sobre urbanismo. "As pessoas não dão o devido valor ao urbanismo. É um assunto a respeito d o qual é preciso saber muito para conseguir fazer qualquer intervenção na cidade, pois ela poderá mexer diretamente com todos os moradores. Parque Linear no Riacho do Ipiranga é o nome do projeto que estou fazendo para reurbanizar aquela área", diz.

Aluno do 10º semestre de arquitetura no Senac, Luis Paulo Hayashi Garcia faz estágio no núcleo de modelagem do escritório TripTyque. "Faço maquetes, desenhos 2D e 3D", conta.

Luis Paulo Hayashi Garcia, aluno do Senac Foto: Estadão

Ele pretende atuar em um escritório de arquitetura e futuramente abrir o seu próprio negócio. "O desafio da profissão é pensar nas pessoas antes e durante a concepção de um projeto, afinal, projetamos para a sociedade."

Garcia desenvolveu um projeto de edifício multifuncional que abriga uso corporativo, residencial e cultural para o seu TCC. "Fiz estudo sobre o diagrama dentro da arquitetura mundial contemporânea e inseri esses conceitos no projeto."

'É importante fazer especialização e se aperfeiçoar

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Diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, Angélica Alvim diz que o arquiteto urbanista deve ser capaz de atuar frente aos complexos problemas que se apresentam, sejam eles de caráter ambiental, econômico, social ou tecnológico.

"Ele deve, portanto, equacionar situações de habitação, sustentabilidade, mobilidade urbana, e de produção do ambiente construído em contexto de mudanças climáticas, poucas áreas verdes e assentamentos precários crescentes."

Ela diz que isso implica em utilizar novas tecnologias, materiais e processos construtivos de forma eficiente, criativa e inovadora, com o objetivo de atuar para todos os segmentos sociais. A professora afirma que a educação continuada e o aperfeiçoamento constante são requisitos para o exercício da profissão. "É importante que os profissionais façam especialização e aperfeiçoamento para que se mantenham no mercado."

Angélica afirma que o mercado busca profissional que alie capacitação técnica ao raciocínio cientifico e crítico. "Isso é necessário não apenas para resolver problemas já conhecidos, mas para que tenha capacidade e iniciativa para reconhecer novos problemas e desenvolver as respectivas soluções."

Planejamento urbano é a área de interesse da aluna do 9º semestre do Mackenzie, Daniela Fajer. "Faço estágio na Secretaria de Habitação da prefeitura de São Paulo há um ano. Trabalho no setor de planejamento e pesquisa. A área junta questões de urbanismo, planejamento e políticas públicas e envolve pesquisa e diagnóstico do território. Usamos muito o programa de georreferenciamento e outras tecnologias para definir intervenções que podem ser feitas e o déficit habitacional. Tudo isso faz parte do trabalho do planejador urbano", conta.

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Daniela Fajer, aluna Mackenzie Foto: Estadão

Para o seu trabalho de conclusão de curso, a jovem de 23 anos está estudando locação social. "É um trabalho de política pública de habitação, um programa social da prefeitura que aluga unidades habitacionais de prédios pertencentes ao município por preços que correspondem a 10% da renda."

Daniela diz que o seu projeto consiste em reformar um edifício-garagem para oferecer unidades para locação a preços acessíveis. "Vou requalificar o edifício-garagem para transformá-lo em prédio residencial. Também farei um anexo em um terreno vizinho que está vazio."

Ela diz ser fundamental que os profissionais trabalhem de forma integrada com a sociedade e o poder público. "Há uma tendência de os projetos não serem participativos. Deveria ser o inverso. Isso tem muito a ver com identificação das pessoas com o que é feito no sentido de pertencimento. É preciso incorporar essas questões para que acidade seja mais democrática."

Novo curso é parte do programa de educação executiva

O Insper criou o curso 'Urbanismo, Cidades e Liderança Consciente' e o professor da instituição Vinicius Andrade conta que as aulas fazem parte do programa de educação executiva da instituição, que é conhecida por sua atuação na área de economia e negócios.

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Vinicius Andrade, do curso arquitetura e urbanismo do Insper Foto: Estadão

De acordo com ele, o urbanismo deve ser entendido como um campo de atuação, em vez de ser tratado como uma especialidade. "Defendemos a ideia de que urbanismo é, por excelência, um campo multidisciplinar e que profissionais de distintas áreas, são percebidos como urbanistas tanto quanto os arquitetos. Essa visão é o maior diferencial do curso", afirma.

Andrade diz que os participantes serão desafiados a criar um projeto prático de placemaking - processo de planejamento, criação e gestão de espaços públicos voltados para as pessoas.

Opinião por Cris Olivette
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