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‘Nosso rali vai muito além de uma corrida de carros’, diz CEO do Rally dos Sertões

No comando da maior prova do gênero no País, Leonora Guedes lida com turismo, ambiente e apoio social

Atualização:
Foto: ARQUIVO PESSOAL
Entrevista comLeonora GuedesCEO do Rally dos Sertões

Integrada ao Rally dos Sertões desde 2002, passando por diferentes tarefas – e chegando a CEO em janeiro passado –, Leonora Guedes é vista, pelos amigos, como “uma mulher liderando um ambiente predominantemente masculino”. E defende a causa com vigor: “Lá tem muito amor, muito envolvimento. Pessoas que se preparam o ano inteiro, preparo físico, financeiro, familiar”.

Os dados concretos comprovam. Em seus 32 anos de disputa, a prova – que acontece sempre entre julho e agosto – já passou por mais de 160 cidades, e atraiu gente do meio financeiro. E lidou com turismo, meio ambiente, apoio a pequenas comunidades. “É um rali que tem poeira e tem propósito”, resume Leonora ao Estadão. “E estar do lado de cá, do planejamento, é desafiador.”

Foi em 2003, ainda fazendo estágio na Secretaria de Turismo de Goiás, que Leonora teve seu primeiro contato com o pessoal da prova. Deixou o cargo e começou a dar consultoria aos organizadores. Em 2018, foi cuidar das relações institucionais do evento. Em 2021, vieram as atividades paralelas, o mountain bike e o kitesurf – e o rali virou uma plataforma multiesportes que hoje movimenta R$ 15 milhões e envolve mais de 1,8 mil participantes. A seguir, os principais trechos da conversa:

Como o rali foi criado e quantas edições já foram realizadas?

Essa é a 32.ª edição. Poucos eventos no Brasil têm essa longevidade. Ele foi criado como o Rally de São Francisco. Três ou quatro anos depois, foi comprado pelo Marcos Ermírio de Moraes, que o rebatizou de Rally dos Sertões. Agora, ele é do Julio Capua, ex-XP. O evento foi crescendo. No início, era só moto, teve até categoria ‘caminhão’. Hoje, não tem mais.

LEGENDA ECONOMIA LEONORA GUEDES Para Cenários de 26 /06/24 Leonora Guedes chefe do Rally dos Sertões FOTO Arquivo Pessoal FOTÓGRAFO/CRIADOR ARQUIVO PESSOAL Foto: ARQUIVO PESSOAL

Como funciona, na prática?

O ‘Sertões’ é mais ou menos como o carnaval: termina uma edição, já começa a seguinte. Começa com a escolha do ponto de partida e o de chegada. Pode ir de um ponto a outro atravessando o Brasil ou pode fazer círculos, rodando 4 mil, 5 mil quilômetros. Ele acontece anualmente, em agosto, período de seca, porque é um rali de poeira, não de lama. E é mês que não tem Olimpíada nem Copa do Mundo.

Quantas pessoas estão envolvidas no projeto?

A Vila Sertões, como a chamamos, comporta umas 2 mil pessoas. Pilotos e navegadores (350 a 400 pessoas), suas equipes, algumas até com nutricionista, massagista, mais os mecânicos, só no nosso estafe são 350, 400 pessoas. Até médicos tiram férias para ser voluntários. Mas fixas, da empresa, são só 26 pessoas. No total, umas 2 mil pessoas que se deslocam diariamente.

Neste ano, vocês largam de Brasília. Por quê?

É uma largada inédita, acho que faz sentido. O Dakar largou vários anos de Paris, por que não largarmos da nossa capital? Tem localização privilegiada, infraestrutura hoteleira, gastronômica, aeroporto. Não vamos sair acelerando no meio da cidade. É um rali off-road, não de asfalto.

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É uma forma de apresentar outro Brasil? Vocês repetem os roteiros?

Roteiros, não; cidades, sim. Já largamos de Goiânia 16 vezes. Nesses 30 anos, passamos por mais de 160 cidades. Divulgar o Brasil é uma premissa, mostrar lugares que o próprio brasileiro desconhece. Tem o aspecto social, o de turismo, o ambiental. É para mostrar que o evento vai muito além de uma corrida de carros. Ajuda as comunidades, cidades carentes. A cada ano, tentamos trazer novas iniciativas para ajudar nessa corrida da transformação, do legado.

Tem mulheres pilotando? Como é essa participação?

Ano passado, tivemos 16 mulheres, entre elas, navegadoras. Mas tenho uma piloto de moto mulher, a Moara, de 43 anos, que já está conosco há 18 anos. Convidamos a Bia Figueiredo, um bom nome do automobilismo, que tem até uma cadeira na Federação Internacional de Automobilismo, para participar. Metade da nossa equipe fixa é de mulheres. Mas a participação feminina geral é pequena, de 2% a 3%. E queremos trabalhar nisso, ter mecânica, gente em logística, administração.

Como uma pessoa faz para participar?

Tem de ter experiência. Claro, vai depender da categoria em que você vai correr. Atualmente, temos moto, quadriciclo, UTV e carro. Para moto, que exige mais habilidade, a premissa é já ter participado de outras competições.

Qual é o investimento para alguém habilitado entrar?

Temos diferentes tipos de veículos. Estamos muito bem no cenário mundial: temos carros e pilotos de ponta, que correm o Dakar. São carros que chegam a valer £ 500 mil (R$ 3,4 milhões). Se uma pessoa quiser entrar, sugerimos um UTV, uma categoria que tem crescido muito.

O rali é uma operação rentável?

Ainda não se paga só com as inscrições, precisamos de patrocinadores. Porque a logística envolve dois helicópteros de resgate de UTI, dois aviões sobrevoando a prova, um staff de mais de 300 pessoas – um investimento muito grande para que o evento seja impecável em termos de segurança. Mas acho que vamos colher o que estamos plantando nos últimos anos para tornar o evento, de fato, rentável.

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