Com um aumento de 4,8% no número de roubos de cargas em 2023, o Brasil registrou, ao todo, 17.118 ocorrências em todo o território nacional, conforme aponta o relatório anual da consultoria Overhaul. Caminhões com produtos de e-commerce, alimentos e bebidas, tabaco, combustíveis e até itens de higiene pessoal estão na lista de carregamentos mais roubados pelos criminosos.
No topo da lista de cargas mais “cobiçadas” pelas quadrilhas que atuam no País, segundo o levantamento, estão os caminhões com carregamentos diversos, ou cargas “miscelâneas” com 43% das ocorrências, um crescimento de quase 10% em comparação à 2022.
Para especialistas ouvidos pela reportagem, a escolha dos criminosos por determinados itens está diretamente ligada à facilidade de escoar os produtos furtados e comercializá-los no mercado paralelo sem a necessidade de pagar impostos ou emitir notas fiscais.
O gerente de inteligência da Overhaul, Reginaldo Catarino, conta que essa terminologia é comum para designar os veículos de empresas como marketplaces e outros negócios que atuam no e-commerce, e acabam “misturando” muitos itens de diversos segmentos (como eletrônicos, celulares, moda, alimentos e outros), o que atrai criminosos pela sua facilidade de escoar o produto dos furtos.
“O e-commerce é um exemplo, porque eles vendem muitos SKUs (Unidade de manutenção de estoque, na sigla em inglês). Notamos um aumento no caso de roubos de oportunidade, que envolvem quadrilhas e o crime organizado”, afirma o executivo.
Catarino conta que, ao analisar os casos de roubos de cargas, a consultoria considera todos os tipos de ocorrência, sejam aquelas realizadas pelo crime organizado ou também no caso de saques às cargas, a exemplo de um caminhão que tomba na pista com um carregamento de bebidas alcoólicas e é saqueado pelo público.
Na segunda posição, o segmento de alimentos e bebidas respondeu por 13% dos casos no País.
Responsável por movimentar uma indústria bilionária no Brasil, o tabaco fecha o pódio de produtos mais procurados pelos criminosos no País, segundo o levantamento, com 11% dos roubos de carga no Brasil, um crescimento de 4% ante o ano anterior.
Na avaliação do professor de varejo da Strong Business School (SBS), Ulysses Reis, uma das explicações para o aumento dos casos de roubos de determinados produtos e a “preferência” dos criminosos por alguns segmentos está diretamente ligada à demanda de consumidores que aceitam consumir itens oriundos de ações criminosas. “Uma parte da população aceita comprar produtos roubados ou de procedência duvidosa”, afirma.
Reis pontua que é comum ver pessoas que adquirem itens de cargas roubadas justificando as suas compras pela questão de preço mais baixo, ou por evitar que parte do valor pago seja direcionado aos impostos e aos empresários. “Existe um fator cultural no Brasil”, diz o especialista.
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