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O consultor econômico Raul Velloso escreve mensalmente

Opinião | Equacionar a previdência é necessário para que o PIB possa crescer

O principal vilão são os déficits previdenciários públicos explosivos, ‘destruidores’ do espaço para investir

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Praticamente duas semanas após Lula da Silva declarar apoio ostensivo à recuperação dos investimentos públicos em infraestrutura, ainda hoje reverberam, em forte reação contrária, mais e mais vozes de defesa da meta de déficit primário zero em 2024 como rota preferível.

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Ele deve ter percebido que esse último não tem sido um caminho totalmente válido, pois, enquanto tem prevalecido a perseguição de resultados fiscais como esse, a razão entre tais investimentos em todas as esferas públicas e o PIB (ou seja, a conhecida taxa de investimento) acabou desabando não menos que 6,5 vezes entre 1980 e 2022, e, em boa medida por isso, a taxa média móvel de crescimento do PIB caiu de 9% para 1% (nove vezes) nesse mesmo período. E tudo tenderá a continuar assim, se nada fizermos para impedir tal desastre. Ou seja, Lula deve ter “farejado” que o preço de manter o déficit próximo da meta zero sem algo mais para evitar o ambiente anticrescimento que se tornou uma rotina nos últimos tempos é muito alto. E deve ter querido alertar quem de direito sobre a necessidade de achar uma saída para tal impasse.

Para tanto, é preciso entender, antes de tudo, que o principal vilão dessa história se chama déficits previdenciários públicos explosivos e, assim, “destruidores” do espaço para investir. Na última década, foram taxas médias reais de crescimento nos gastos previdenciários 12,5%, 5,9%, 5,1% e 3,1%, nos municípios, Estados, Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e União, respectivamente, enquanto o PIB crescia entre 1% e 2%. Essa é uma situação obviamente muito difícil de administrar. Ou seja, o forte crescimento desses gastos forçou os gestores públicos a direcionar apenas recursos residuais para investimento e “outras despesas correntes” (custeio), após a cobertura dos super-rígidos gastos relacionados com as tradicionais “vinculações” (como em Saúde e Educação) e outras formas de rigidez impossíveis de evitar a curto prazo (como em pessoal “ativo”, assistência social e demais gastos obrigatórios por lei).

Diante disso, se olharmos apenas o caso da União, o peso do item previdência aumentou de 19,2% para 51,8% do gasto total entre 1987 e 2021; o dos gastos obrigatórios ficou entre 47,1% e 45,1%; os investimentos caíram de 16% para 2,2% do total; e os demais gastos discricionários, de 17,7% para 0,9% do total.

Lula defendeu investimento do governo em obras públicas recentemente Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

O que terá de ser feito prioritariamente é o equacionamento ou a zeragem dos déficits financeiro e atuarial de todas as previdências públicas, conforme passo a passo que vai aos poucos se tornando conhecido. Exigência que, inclusive, foi introduzida na própria Constituição pela Emenda n.º 103/2019, mas praticamente ninguém obedece a ela. Só assim se abrirá espaço orçamentário para investir e, depois, crescer.

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Opinião por Raul Velloso

Consultor econômico

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