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Mulheres estão mais endividadas, e o maior vilão é o cartão de crédito

Levantamento mostra que situação financeira das mulheres piorou mais do que a dos homens na pandemia; veja o que fazer para sair do buraco das dívidas

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Foto do author Fernanda Guimarães
Foto do author Wesley Gonsalves
Atualização:

O brasileiro está a cada dia com a corda mais apertada ao pescoço. Isso porque, além de a inflação ter corroído a renda das pessoas, também está mais difícil conseguir um financiamento, mesmo a juros exorbitantes. Mas qual é a “cara” do endividado brasileiro? Hoje, 68% dos endividados têm entre 25 e 51 anos, com as contas acumuladas essencialmente no cartão de crédito e em financiamentos. E outro dado chama a atenção: 70% desse contingente são mulheres, conforme levantamento feito pela Paschoalotto, empresa especializada em cobrança de dívidas, a pedido do Estadão.

“O número de mulheres que chefiam seus lares cresceu nos últimos anos e alguns fatores explicam a inadimplência mais frequente entre elas”, explica o economista-chefe da empresa, que tem e que tem os grandes bancos e varejistas como clientes, Reinaldo Cafeo. Segundo ele, como muitas vezes a renda é insuficiente para arcar com todos os gastos, isso leva a uma priorização das contas a se pagar e das que serão adiadas ou deixadas de lado.

Ao assumir chefia dos lares na pandemia, mulheres são as que mais sofrem com contas em atraso.  Foto: Gabriela Bilo/Estadão

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Com isso, a ênfase fica nas contas do dia a dia, com carnês, cartão de crédito e financiamentos ficando de lado. Outro ponto que prejudica é falta de educação financeira, que faz com que muitas pessoas aceitem juros abusivos. Segundo o especialista, é a chave para que as contas acabem saindo do controle, diz.

Os números consideram os mais de 5,5 milhões de devedores que passam pelo sistema da Paschoalotto mensalmente. O levantamento mostra ainda que o endividamento atinge, em grande parte, as famílias com uma renda mensal de até dez salários mínimos, que respondem por 76% do total.

Responsável pela área de Pesquisa do Grupo Consumoteca, Marina Roale explica que a situação financeira entre a população feminina no Brasil também foi deteriorada ao longo da pandemia de covid-19. “Vivemos em um País onde a informalidade de trabalho está muito presente entre as mulheres. Com isso, elas têm renda mais incerta. Este momento está sendo chamado de recessão feminina, onde as conquistas que as mulheres tiveram no mercado de trabalho retrocederam muito nos últimos dois anos”, diz.

Sonho que virou pesadelo

No caso da bibliotecária Ana Maria Pereira Silva, 38 anos, a vida financeira acabou saindo dos trilhos depois de comprar um imóvel, já que em 2020 deixou o emprego em São Paulo e decidiu voltar para sua cidade natal, em Turmalina, Minas Gerais.

A bibliotecária esperava utilizar o saldo do seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para quitar os R$ 17 mil de dívida restante da casa. No entanto, por uma mudança na regra, acabou sendo obrigada a contrair um empréstimo no banco, o que agravou seu problema financeiro – situação piorada com o o juro alto. “Eu nunca fui muito boa com essas questões de administração financeira”, admite. Com a taxa contratada na instituição, o valor final da dívida duplicou.

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De volta a São Paulo, a bibliotecária encontrou um emprego em uma rede de supermercados para pagar as contas, mas, por causa do salário menor, acabou acumulando mais dívidas. “Não quero nem olhar o valor total. Meu medo é ficar com o nome sujo na praça”, afirma.

Comportamentos distintos

O estudo da Paschoalotto mostra ainda que o comportamento do endividado não é uniforme. Há o grupo daqueles que deixam a vida de lado e seguem com a rotina, não ligando se o nome está sujo na praça. Já outro perfil de devedor prefere vender algum bem, como o carro, para resolver a questão de inadimplência, comenta o economista da empresa.

“Há aqueles que, ainda tendo crédito na praça, trocam de modalidade de crédito, buscam dinheiro no crédito consignado, penhor de joias. E depois de esgotar o crédito nas instituições bancárias, se valem de financeiras. Este perfil, muito por falta de educação financeira, acerta as dívidas, mas volta a ficar inadimplente em pouco tempo”, conta Cafeo.

O que fazer para sair do buraco financeiro?

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O cartão de crédito é uma forma já utilizada por muita gente para driblar a falta de dinheiro no fim do mês, mas que cobra juros muito altos quando não é pago em dia. Muitas vezes uma só pessoa tem mais de um cartão, emitidos por bancos e fintechs, que são tirados da carteira para dar conta dos gastos. Para especialistas, trocar a dívida por outra pode ser uma saída, desde que as taxas sejam realmente vantajosas.

“Buscar alternativas é o melhor jeito do cliente evitar o efeito bola de neve. Quase metade dos que nos solicitam crédito tem como objetivo amortizar dívida, para ganhar um fluxo para o pagamento. A situação macroeconômica está muito desafiadora, com a inflação correndo muito a renda do trabalhador médio”, afirma o presidente da financeira Focus, Leonardo Grapeia.

Para especialistas, endividados precisam sentar e 'fazer as contas' para não se afundarem ainda mais nas dívidas.  Foto: José Patrocínio/Estadão

Para o educador financeiro Flávio Pretti, da Planejar, além de um cenário econômico já complicado do País, a situação de inadimplência crônica do brasileiro é agravada devido ao seu baixo nível de educação financeira. “Para quem não é controlado, o cartão de crédito é um inimigo”, afirma. “Nós só deveríamos tomar crédito emprestado quando fosse absolutamente imperativo para a vida, quando acontecer algum imprevisto, não para usar no dia a dia”.

Para quem quer sair de um ciclo vicioso de inadimplência, na avaliação de Pretti, o primeiro passo é sentar e calcular os rendimentos e gastos mensais, para encontrar possíveis “penduricalhos” que podem ser cortados. O segundo passo é renegociar dívidas já tomadas, para evitar o efeito “bola de neve”. “Dever na praça deixa as pessoas doentes, elas ficam com a capacidade intelectual reduzida de tanta preocupação.”

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