China persegue recuperação após ter se isolado do mundo na pandemia, mas não encontra solução rápida

Investidores esperavam que a economia do país asiático voltasse a prosperar após fim dos lockdowns, mas não foi isso o que aconteceu; plano de estímulo talvez seja iminente

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Por Keith Bradsher, Daisuke Wakabayashi e Claire Fu

THE NEW YORK TIMES - Quando a China revogou repentinamente seus lockdowns e outras precauções contra a covid em dezembro, as autoridades em Pequim e muitos investidores esperavam que a economia do país voltasse a prosperar.

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Não foi bem isso o que aconteceu.

Os investimentos na China estagnaram recentemente após uma atividade intensa nos primeiros meses deste ano. As exportações estão diminuindo. Cada vez menos novos projetos habitacionais são iniciados. Os preços estão caindo. Mais de um em cada cinco jovens está desempregado.

A China tentou muitos ajustes nos últimos anos, quando sua economia enfraqueceu, inclusive com empréstimos generosos para pagar estradas e linhas ferroviárias. E gastou quantias enormes com testes e quarentenas durante a pandemia. Gastos com estímulos extras agora para empréstimos motivariam uma explosão de atividade, mas representam uma escolha difícil para os formuladores de políticas preocupados com as dívidas acumuladas.

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“As autoridades correm o risco de ficar para trás ao estimularem a economia, mas não há solução rápida”, disse Louise Loo, economista especialista em China, no escritório de Cingapura da Oxford Economics.

A China precisa reabilitar sua economia depois de se isolar do restante do mundo por quase três anos para combater a covid, uma decisão que levou muitas empresas a começar a transferir suas cadeias de suprimentos para outros lugares.

Xi Jinping, o presidente da China, se reuniu na segunda-feira, 19, com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, numa tentativa das duas nações de atenuar as tensões diplomáticas e abrir caminho para negociações econômicas de alto nível nas próximas semanas. Essas conversas podem desacelerar a recente proliferação de sanções e contramedidas.

A recuperação hesitante da economia da China viu as despesas crescerem de forma robusta apenas em algumas categorias, como viagens e refeições em restaurantes. E elas aumentaram em comparação com os níveis extremamente baixos do mesmo período em 2022, quando um lockdown de dois meses em Xangai interrompeu a atividade econômica em grandes áreas da região central da China.

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A construção de moradias na China caiu aproximadamente 23% nos cinco primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período em 2022 Foto: Qilai Shen/The New York Times

A economia tem estado particularmente fraca nas últimas semanas.

“De abril a maio até agora, a economia passou por mudanças inesperadas consideráveis, a ponto de algumas pessoas acreditarem que as avaliações iniciais podem ter sido otimistas demais”, disse Yin Yanlin, ex-vice-diretor da principal comissão de formulação de políticas econômicas do Partido Comunista Chinês, em um discurso durante uma conferência acadêmica no sábado.

Funcionários do governo chinês têm dado pistas de que um plano de estímulo econômico talvez seja iminente.

“Em resposta às mudanças na conjuntura econômica, medidas mais contundentes devem ser tomadas para aumentar o ritmo do desenvolvimento, otimizar a estrutura econômica e promover a recuperação contínua da economia”, disse o Conselho de Estado do país, ou gabinete, depois de uma reunião na sexta-feira liderada por Li Qiang, o novo primeiro-ministro da China.

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O enfraquecimento da economia da China traz benefícios e perigos para a economia global. Os preços ao consumidor e ao produtor caíram nos últimos quatro meses no país, freando a inflação no Ocidente ao reduzir o custo das importações chinesas.

Mas a demanda fraca na China pode agravar uma desaceleração global. A Europa teve uma amostra de uma leve recessão no início deste ano. Os aumentos rápidos das taxas de juros nos EUA levaram alguns investidores a apostar numa recessão no fim deste ano no país também.

Pequim tomou algumas medidas para revitalizar o crescimento econômico. Incentivos fiscais estão sendo implementados para pequenas empresas. As taxas de juros dos depósitos bancários foram reduzidas para incentivar as famílias a gastar mais dinheiro em vez de economizá-lo.

A medida mais recente do governo ocorreu nesta terça-feira, 20, quando o sistema bancário controlado pelo Estado reduziu suas taxas de juros de referência para empréstimos corporativos e hipotecas de imóveis residenciais (a taxa de juros de referência para empréstimos de um ano foi de 3,65% para 3,55%).

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No entanto, muitos economistas, dentro e fora da China, estão preocupados com a eficácia das novas medidas.

Os investimentos na China estagnaram recentemente após uma atividade intensa nos primeiros meses deste ano Foto: Qilai Shen/The New York Times

Os consumidores estão economizando dinheiro e os investidores estão receosos de colocar seu capital nas empresas chinesas. Os investimentos privados, de fato, diminuíram até agora este ano em comparação com 2022. O setor imobiliário continua em crise, com as construtoras pegando mais empréstimos para pagar as dívidas existentes e finalizar projetos, embora a China enfrente um excesso de oferta de imóveis.

O mercado imobiliário da China está no centro dos problemas do país. A construção já foi responsável por até 25% do Produto Interno Bruto da China. Mas os compradores de imóveis em potencial têm adiado seus planos conforme as incorporadoras imobiliárias dão calotes em suas dívidas e não conseguem terminar os apartamentos pagos antecipadamente.

A construção de moradias caiu aproximadamente 23% nos cinco primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período em 2022. Isso sugere que o setor imobiliário deve encolher ainda mais nos próximos meses.

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Chen Leiqian, profissional de marketing, 27 anos, começou a procurar por um apartamento em Pequim com o namorado em 2021, depois de cinco anos de namoro. Mas eles decidiram continuar num apartamento alugado quando se casaram.

Preços ao consumidor e ao produtor caíram nos últimos quatro meses no país, freando a inflação no ocidente ao reduzir o custo das importações chinesas Foto: Qilai Shen/The New York Times

“Os preços dos imóveis em todo o país estão caindo e a economia está péssima — há muitos fatores instáveis”, disse Leiqian.

Dois terços dos colegas de trabalho do departamento dela em uma empresa de tutoria on-line foram demitidos depois que a China implementou medidas rígidas contra o setor de educação privada com fins lucrativos em 2021. Um amigo de Leiqian não conseguiu mais pagar a hipoteca depois que perdeu o emprego no setor de tecnologia e foi despejado com a execução hipotecária.

A cautela das famílias de classe média como a de Leiqian pode implicar no maior dos dilemas para os formuladores de políticas em busca de uma fórmula eficaz para outra rodada de estímulo econômico.

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“Você pode disponibilizar dinheiro para as pessoas, mas se elas não estiverem confiantes, não vão gastá-lo”, disse Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe para a região Ásia-Pacífico do banco francês Natixis.

As famílias não são as únicas passando por dificuldades para pagar suas dívidas — o mesmo está acontecendo com os governos locais, o que limitou a capacidade deles de aumentar os gastos com infraestrutura.

O governo está receoso de iniciar outra oferta excessiva de crédito como aquela vista em 2009, durante a crise financeira de 2007-2008, e em 2016, depois que o mercado de ações da China despencou no ano anterior.

Embora o setor imobiliário em queda tenha prejudicado a demanda doméstica na China, as exportações ficaram estáveis este ano e, de fato, diminuíram em maio. O enfraquecimento das habituais exportações poderosas da China é digno de nota principalmente porque Pequim permitiu que sua moeda, o renminbi, perdesse cerca de 7% de seu valor em relação ao dólar desde meados de janeiro. Um renminbi mais fraco torna as exportações chinesas mais competitivas nos mercados estrangeiros.

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Mais exportações ajudam a criar empregos e podem compensar de outro modo a economia interna fraca. No entanto, não está claro o quanto a China vai poder contar com a ajuda das exportações, pois alguns dos maiores parceiros comerciais de Pequim transferiram algumas compras para outros países da Ásia.

Exportações da China para os EUA caíram 18,2% no mês passado em comparação com maio de 2022 Foto: Qilai Shen/The New York Times

Nos EUA, o governo Trump impôs tarifas sobre uma grande variedade de produtos industriais chineses, tornando mais caro para as empresas americanas comprá-los da China. O atual presidente Joe Biden convenceu o Congresso no ano passado a autorizar subsídios generosos para a produção americana em categorias como carros elétricos e painéis solares. As exportações da China para os EUA caíram 18,2% no mês passado em comparação com maio de 2022.

Agora, enquanto a China considera como fortalecer a economia, ela deve enfrentar uma perda de confiança entre os consumidores.

Charles Wang dirige uma agência de viagens pequena com oito funcionários em Zhangjiakou, no norte da China. Sua empresa se recuperou quase totalmente após a pandemia, mas ele não tem planos de investir na expansão dela.

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“Nossa economia está afundando de verdade e nem todo mundo tem tanto tempo e vontade de gastar”, disse Wang. “É porque as pessoas simplesmente não querem gastar dinheiro — todos estão com medo de novo, até mesmo os ricos.”/Tradução de Romina Cácia

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