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Redução de esgoto na Baía de Guanabara tornou praia do Flamengo ‘xodó’, diz executivo da Aegea

Para o vice-presidente regional da empresa, controladora da Águas do Rio, que assumiu parte da antiga Cedae, as ações realizadas desde o início da concessão, em 2021, já melhoraram também a qualidade da água na Lagoa Rodrigo de Freitas

Foto do author José Fucs
Atualização:

Quatro anos depois da aprovação do novo marco legal do saneamento, em julho de 2020, que estabeleceu metas de universalização dos serviços até 2033 e estimulou a participação da iniciativa privada na área, ainda não foi possível detectar um impacto relevante das mudanças no número de consumidores com acesso às redes de água e esgoto no País.

Ainda assim, os primeiros resultados, alavancados pelo aumento dos investimentos nos últimos anos, começaram a aparecer, transformando a vida da população e recuperando o meio ambiente degradado pela falta de saneamento.

A Águas do Rio diz que, em três anos, reduziu o volume de esgoto jogado na Baía de Guanabara em 82 milhões de litros por dia Foto: PEDRO KIRILOS

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No Rio de Janeiro, por exemplo, onde a Águas do Rio assumiu há três anos parte das operações da Cedae, a companhia estadual de saneamento, certamente ainda há muito a fazer para atingir as metas do novo marco, de ligar 99% da população à rede de água e 90% às redes de coleta e tratamento de esgoto. Mas as ações implementadas até agora pela empresa, controlada pela Aegea, um dos maiores grupos do setor, já estão rendendo os primeiros frutos.

Responsável pela prestação dos serviços em 27 cidades, incluindo 124 bairros da capital, que abrigam dez milhões de habitantes, a companhia investiu até agora R$ 3,1 bilhões, segundo o engenheiro Alexandre Bianchini, vice-presidente regional da Aegea para a região Sudeste e ex-presidente da Águas do Rio, dos R$ 19 bilhões previstos no contrato até 2033. Numa frente, a empresa atacou a falta de acesso a água nas comunidades e os vazamentos na zonal sul da cidade. Em outra, voltou-se para o despejo de esgoto in natura em dois cartões postais do Rio, a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Baía de Guanabara.

De acordo com Bianchini, metade do total de 1,2 milhão de pessoas que não tinham acesso a água tratada no Estado já passou a ter. O objetivo é oferecer o serviço para as 600 mil restantes até 2026, cinco anos antes do previsto. “Estou falando de gente que jamais tinha tomado um banho de chuveiro, que vivia com água em latão, água contaminada”, afirma. “Em menos de três anos, nós já assentamos 1.250 quilômetros de rede de água. Isso significa ir do Rio de Janeiro a São Paulo, voltar ao Rio e voltar para São Paulo de novo.”

Bianchini, da Aegea, afirma que, "hoje, a grande discussão no Rio de Janeiro tem sido se a Lagoa Rodrigo de Freitas pode ou não ter pesca submarina” Foto: PEDRO KIRILOS

Ao mesmo tempo, conforme o executivo da Aegea, a companhia conseguiu reduzir de forma sensível a perda de água por vazamentos no sistema, de 67% para 50% do total. A meta é chegar a 25% em dois ou três anos. Para conseguir localizar os vazamentos na zona sul carioca, a Águas do Rio contratou uma empresa israelense que lançou um satélite anos atrás para procurar água em Marte.

Bianchini conta que o satélite passa de 14 em 14 dias pelo Rio e consegue identificar a existência de água clorada a três ou quatro metros de profundidade. Depois, à noite, os funcionários da Águas do Rio verificam se há mesmo vazamento nos pontos apontados pelo satélite, com o uso de um geofone – um amplificador de som que capta o ruído emitido pelos vazamentos. Só na zona sul, onde o programa começou, ele diz que a empresa localizou 180 pontos de vazamento. “O uso da tecnologia está trazendo muito resultado.”

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Nas áreas de coleta e tratamento de esgoto, que são fundamentais para manter a qualidade das águas da Baía de Guanabara e da Lagoa, os progressos, de acordo com Bianchini, também já são palpáveis. Ele afirma que, para melhorar a qualidade da água na Lagoa, a Águas do Rio trocou todas as estações elevatórias e cerca de um quilômetro de rede de esgoto. A empresa fez também, segundo ele, a manutenção de outros equipamentos que já existiam, como o “cinturão” construído em torno da Lagoa na época da Olimpíada, em 2016, para evitar que o esgoto clandestino jogado na rede de água pluvial chegasse ao local e enviá-lo para o emissário submarino existente na cidade.

“No passado, a questão da Lagoa Freitas era a mortandade de peixes. Hoje, a grande discussão no Rio de Janeiro tem sido se a Lagoa pode ou não ter pesca submarina”, diz Bianchini, que atua há 35 anos na área de saneamento e trabalhou dez anos na velha Cedae sob controle estatal, onde começou como operador de estação elevatória. “Na Lagoa, hoje, já não há mais lançamento de esgoto. Eu até brinco que, se botar ladrilho, vira piscina, de tão clarinha que a água está.”

Patinete elétrico

Na Baía de Guanabara, com seus 90 km de perímetro, a Águas do Rio começou pela limpeza de um equipamento chamado de interceptor oceânico, que sai do Aeroporto Santos Dumont, no centro da cidade, e vai até o Posto 5, em Copacabana, na zona sul, passando por baixo do canteiro central da Avenida Atlântica. Ele conta que o dispositivo, um grande túnel com 5,20 metros de diâmetro construído para absorver todo “corpo hídrico” que fosse atingir as praias da Baía e Copacabana – tinha mais de 50% de sua capacidade coberta de lixo, por falta de limpeza.

As grades de proteção internas, conforme Bianchini, que serviam para segurar os detritos, nem existiam mais. Segundo ele, a empresa tirou mais de 3 mil toneladas de lixo do interceptor. “A sensação foi de que tudo que havia sumido no Rio de Janeiro nos últimos 30, 40 anos estava lá dentro. Tinha até patinete elétrico.”

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Em paralelo, ele diz que o esgoto da Ilha de Paquetá, que era jogado in natura na Baía, agora é 100% coletado e tratado. E até o fim deste ano o mesmo deverá acontecer com o esgoto da Ilha do Governador, que também era despejado in natura no mar. No total, nestes três anos de operação, a empresa já assentou 150 quilômetros de rede de esgoto, de acordo com Bianchini.

Pelas suas contas, 82 milhões de litros de esgoto já deixaram de ser jogados por dia na Baía e passaram a ser coletados e enviados para uma estação de tratamento em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, por meio de um emissário submarino. O plano é chegar a 400 milhões de litros por dia. Mas, desde já, as praias da Baía, como a do Flamengo, conforme Bianchini, estão com índices de balneabilidade quase constantes. “A Praia do Flamengo, que não era frequentada, virou o xodó da cidade.”

Como 70% da água da Baía de Guanabara é renovada a cada 14 dias, porque volume de a entrada e saída de água do mar é muito grande, ele acredita que, quando o projeto estiver concluído, os resultados serão ainda melhores. “Quando a gente dá essa ajuda para a natureza, o resultado é muito rápido.”

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Diante da incapacidade demonstrada pelas empresas estaduais de saneamento, como a Cedae, no Rio, de garantir acesso aos serviços para toda a população, o saldo alcançado até o momento pela Águas do Rio é notável.

Agora, com apenas 25% da população do Rio com acesso ao ciclo completo de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgoto, o mesmo índice nacional, os desafios da empresa para cumprir as metas de universalização estabelecidas no novo marco do saneamento são gigantescos. Se ela mantiver o mesmo nível na entrega demonstrado desde que assumiu os serviços e realizar os investimentos previstos no contrato, será uma grande conquista.

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