Enviado a Milão - A preocupação com o rumo da reforma tributária, em trâmite no Senado, foi um tema dominante entre empresários e autoridades do Brasil e Itália, que participam do Lide Brazil Conference, em Milão. Embora o apoio à aprovação de mudanças que simplifiquem o sistema tributário brasileiro seja unânime, há o temor de que as alterações ao projeto que serão feitas no Congresso poderão criar Imposto Sobre o Valor Agregado (IVA) muito elevado.
“Se ela vai no sentido da simplificação, é extremamente bem-vinda e me parece que nós estamos no caminho certo”, disse o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. “O que nós temos de tomar cuidado é com a alíquota. Não podemos ter uma alíquota que seja a maior do mundo, que venha tornar os preços dos produtos ainda maiores.
Para o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth, o projeto de reforma tributária está num “momento de alerta”, após ser aprovada na Câmara dos Deputados. Ele ressaltou que o governo paulista continua colaborando com o governo federal e o Congresso para “simplificar” o sistema tributário do País. “Mas precisamos tomar cuidado para não acabar com o maior IVA do mundo”, disse. “Precisamos ficar atentos às isenções, que não podem levar o IVA a patamares irrealistas.”
Empresários presentes ao evento também manifestaram preocupação. O CEO da Pirelli na América Latina, César Alarcon, em entrevista ao Estadão/Broadcast, disse que a reforma tributária é um passo na “direção certa” para a melhora do ambiente para negócios no Brasil. “Mas não basta simplificar os impostos, é preciso ter uma preocupação com os impactos sobre custos de produção para que o País não perca a sua competitividade.”
Alarcon ressaltou que a Pirelli investiu cerca de 400 milhões de euros no Brasil ao longo dos últimos seis anos e pretende investir mais. Segundo ele, a competição dos pneus importados da Ásia continua sendo um problema para as empresas que produzem e exportam esses produtos no Brasil. “Não consideramos que exista uma condição isonômica, somos geradores de empregos, exportadores, investidores”, disse. “Os importadores, por exemplo, precisam passar a ter responsabilidade civil por seus negócios feitos no Brasil.”
O ex-presidente Michel Temer, durante uma palestra, disse que o Brasil passou, desde os anos 80, com a redemocratização, por um processo de “reformatação” que tornou o País atraente aos investidores. “Sempre que muda o governo, tenta-se anular tudo que foi feito na gestão anterior, mas o fato é que os sucessivos governos têm implementado” mudanças que beneficiam o País”, disse Temer. “Na minha gestão, aprovamos a reforma trabalhista. E agora estamos diante da reforma tributária, que é fundamental para todos.”
Questionado por jornalistas sobre a insistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em qualificar como “golpe” o impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff, Temer lembrou que ela foi condenada por crime por responsabilidade pelo Congresso Nacional. “Hoje em dia está muito na moda a narrativa, que é algo que supera a realidade”, disse. “Se essa história de golpe entrou na cabeça é porque a pessoa não lê a Constituição.”
O evento promovido pelo Lide será encerrado nesta sexta-feira, 8.
O repórter viajou a convite do Lide
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