Reforma tributária: comissão do Senado apresenta ‘relatório paralelo’; veja as propostas

Entre as propostas estão a redução do prazo de transição e a fixação de um teto para as alíquotas dos novos impostos

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Foto do author Mariana Carneiro
Atualização:

BRASÍLIA - Num gesto político de pressão, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) entregou ao relator da reforma tributária, senador Eduardo Braga (MDB-AM), um relatório paralelo com propostas de emendas modificativas ao texto que vai à votação no Senado.

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Entre as propostas estão a redução do prazo de transição da reforma de 50 para 30 anos e a fixação de um teto para as alíquotas dos novos impostos para evitar o aumento da carga tributária.

O relatório paralelo também pede que o Imposto Seletivo, que será criado pela reforma, não seja cobrado sobre energia, combustível e telecomunicações. As linhas do documento foram antecipadas pelo Estadão na terça-feira.

O documento foi preparado por um grupo de trabalho coordenado pelo senador Efraim Filho (União-PB). Na apresentação do texto final, o senador destacou que a reforma não pode passar uma mensagem de aumento de imposto. Segundo Efraim, as propostas buscam soluções para lacunas do texto que foi aprovado na Câmara.

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Grupo de trabalho da CAE apresenta ao relator da reforma no Senado, Eduardo Braga, sugestões ao texto Foto: Jonas Carvalho

“Há uma unanimidade de que o atual modelo está ultrapassado. Mas a grande preocupação é com as alíquotas propriamente ditas, com a carga tributária”, afirmou.

Apesar de ser a principal comissão permanente do Senado a tratar de pauta econômica, a CAE ficou de fora da tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária. O texto tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde, depois de aprovado, seguirá direto para o plenário.

Por essa razão, o relatório representa, na prática, uma tentativa dos membros da CAE de marcar posição. Eles também realizaram sete audiências públicas e ouviram mais de 50 pessoas para falar dos prós e contras da proposta.

O relatório paralelo não é um texto formal, mas uma lista de sugestões acompanhadas das propostas de emendas dos parlamentares.

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“O tom hoje na CAE mudou. Ainda é crítico, mas é mais otimista”, disse Braga após a entrega do documento. O relator foi até a comissão receber o documento, mas também foi crítico ao lamentar publicamente que as sugestões tenham sido apresentadas faltando poucos dias para apresentação do seu parecer, marcado para a próxima semana. O prazo pode mudar e ficar para o início de novembro, como adiantou o próprio Braga nesta quinta-feira.

Segundo o relator, já foram apresentadas 537 emendas ao texto. Desse total, 300 já foram analisadas. Nos bastidores, o relatório paralelo gerou incômodo entre os negociadores, mas Braga aceitou o convite do presidente da CAE, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), para comparecer à comissão e participar da entrega do documento. Vanderlan fez um apelo para que Braga acate as sugestões.

A senadora Dorinha Seabra (União- TO) foi a mais crítica. Disse que não se sente representada na proposta e reclamou que foi aprovada muito rapidamente na Câmara. Ela cobrou mais discussão na partilha do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, que será bancado com recursos da União.

Já a senadora Tereza Cristina (PP-MS), que representa o agronegócio, disse que a reforma precisa ser feita, mas “não precisa ser uma sangria desatada”. “Não é uma reforma para daqui a pouco termos que mexer”, disse a ex-ministra da Agricultura.

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Veja as sugestões apresentadas pelo relatório paralelo da CAE:

1. Limitação do poder de tributar

Fixar um teto máximo para que não haja aumento da carga tributária em relação a 2023. Um das emendas sugeridas diz que a soma das alíquotas dos tributos não poderá ultrapassar 25%.

2. Imposto Seletivo

Exigir que o novo imposto, que incidirá em produtos e serviços nocivos à saúde e ao meio ambiente, seja cobrado de forma monofásica (uma única vez) e garantir que não haja incidência sobre energia, combustível e telecomunicações.

3. Transição

Diminuição de 50 para 30 anos do prazo de chamada transição federativa da cobrança da origem (onde o bem é produzido) para destino (onde é consumido). Recomenda que seja feito estudo para a distribuição dos recursos entre Estados e municípios e que haja uniformização dos prazos de compensação dos créditos do IBS (imposto dos Estados e municípios) e CBS (imposto da União) até 2032.

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Propõe também medida para evitar que Estados e municípios “caroneiros” aproveitem ganhos de arrecadação obtidos pelos outros entes da Federação. A ideia, como mostrou o Estadão, é estimular que Estados e municípios não percam o que os parlamentares chamam de “esforço de arrecadação”, em um ambiente em que o bolo será repartido entre todos.

4. Seguro-Receita

Aumento de 3% para 4% do seguro-receita do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que será cobrado pelos Estados e Municípios.

5. Conselho Federativo

Proposta para que o governo federal, em caráter extraordinário (apenas em matérias comum ao CBS e ao IBS), participe do Conselho Federativo, órgão que será criado para gerir a arrecadação do IBS. Os senadores também querem que a regulamentação do Conselho seja feira por meio de lei complementar.

6. Contencioso

Estabelecimento de princípio de cooperação na fiscalização. Aponta a necessidade de estudo para definir a competência na Justiça em relação às divergências sobre a incidência do Imposto sobre Valor Agregado (IVA).

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7. Fundos de Infraestrutura

Manutenção até 31 de dezembro de 2032 dos atuais fundos estaduais de financiamento da infraestrutura que alguns Estados já possuem - cobrando uma taxa, principalmente das empresas exportadoras do setor de commodities.

A proposta da CAE, no entanto, veda o aumento das alíquotas já existentes e também a ampliação das hipóteses de incidência. Tecnicamente, hoje essas contribuições aos fundos são voluntárias; mas, caso as empresas não optem pelo modelo, ficam impedidas de ter benefício fiscal.

A reforma aprovada na Câmara, porém, inviabiliza esses fundos, pois acaba com os incentivos fiscais. Quatro Estados estão nessas condições: MT, MS, GO e Pará.

8. Simplificação

Tratamento simplificado para as chamadas obrigações acessórias, que são as declarações que as empresas têm que prestar aos Fiscos Federal, estadual e municipal. Os senadores também querem o valor dos impostos pagos esteja destacado na nota fiscal

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9. Compensação dos Créditos

Imediata compensação do imposto nas etapas anteriores pelo mecanismo conhecido como “Split Payment”. Nele, o banco separa, já na hora do pagamento, o imposto para os cofres dos governos (federal, estadual e municipal) e o valor destinado para quem forneceu o bem ou serviço.

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