Reforma tributária tem semana decisiva no Senado; veja dez focos de pressão sobre a proposta

Estados pressionam para mudar partilha do fundo bilionário bancado pela União, enquanto setores produtivos tentam garantir tratamento diferenciado ou alíquota reduzida e fugir do ‘imposto do pecado’

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Atualização:

BRASÍLIA – Na reta final para a votação da reforma tributária no Senado, as pressões se intensificaram por mudanças de última hora no parecer do relator, Eduardo Braga (MDB-AM). O senador segue recebendo sugestões de emendas, além das 741 já protocoladas, e deve finalizar a complementação do voto na noite desta segunda-feira.

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O início do processo de votação está previsto para essa terça-feira, 7, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e até quinta-feira, 9, no plenário da Casa.

Como ocorreu na primeira votação da Câmara, no início de julho, a pressão mais visível parte dos Estados, que temem perder arrecadação para o governo federal. Também não há consenso em relação à trava para impedir o aumento da carga tributária, a qual foi introduzida pelo relator.

Lula se reúne com o relator da reforma, Eduardo Braga (MDB-AM), Haddad, Padilha, Rui Costa e mais dez senadores para garantir um ambiente favorável para a aprovação da proposta. Foto: Wilton Junior/Estadão

Nos bastidores, há setores e atividades que buscam apoio de senadores para influenciar o relator ou conseguir uma alteração no plenário. Entre eles, mineração e petróleo, insatisfeitos com a nova cobrança do Imposto Seletivo, chamado de “imposto do pecado”.

O setor supermercadista também tem críticas ao modelo de duas cestas básicas: uma mais restritiva, com taxação zero, e outra ampliada, com alíquota reduzida e cashback (devolução de impostos à baixa renda). O segmento avalia que a desoneração é mais efetiva do que o cashback e defende alterações no texto ou garantias em relação à lei complementar.

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Confira abaixo o levantamento do Estadão sobre as principais pressões nessa semana decisiva da reforma tributária no Senado:

Relator Eduardo Braga segue recebendo sugestões de emendas, além das 741 já protocoladas. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Estados querem mudar partilha do FNDR

Os Estados ainda brigam por mudanças na forma de partilha do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), previsto na reforma e que será bancado pelo governo federal.

Braga fez uma divisão com um mix de duas regras: 70% do dinheiro será distribuído com base no modelo de repartição do Fundo de Participação dos Estados (FPE), que beneficia o Norte e Nordeste, e 30% com base no tamanho da população, que atende ao Sudeste. Governadores do Centro-Oeste, por exemplo, criticam essa fórmula. Os Estados do Sul também estão insatisfeitos e defendem que o critério de divisão mude para 50% FPE e 50% critérios populacionais.

A partilha mexe mais com corações e mentes dos Estados do que o valor do fundo em si, que foi incrementado pelo relator em R$ 20 bilhões, para R$ 60 bilhões por ano. Não está adormecido, no entanto, o movimento para aumentar o valor para um patamar entre R$ 70 bilhões e R$ 75 bilhões.

Os Estados também afirmam que o artigo 149-B da proposta, ao definir que o IBS será um simples “espelho” da CBS, fere a autonomia dos Estados e municípios e causa uma indevida concentração das decisões sobre a tributação do consumo, de competência subnacional, nas mãos do governo federal.

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Esse artigo surgiu na Câmara. Os Estados tentaram sem sucesso alterá-lo antes do primeiro relatório de Eduardo Braga, que não foi sensível neste ponto, segundo os secretários de Fazenda.

O Comsefaz alerta que esse artigo provoca danos ao modelo federativo brasileiro, que pressupõe autonomia, principalmente amplitude do campo deliberativo das unidades subnacionais.

Petróleo e minério refutam ‘imposto do pecado’

Setores ligados à mineração e à exploração de petróleo se uniram para articular mudanças na reforma. O principal ponto de descontentamento, que une as duas cadeias, é a cobrança de até 1% sobre a extração desses recursos não renováveis. A nova taxação foi criada por Braga no âmbito do Seletivo, chamado de “imposto do pecado”, que incidirá sobre atividades prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

O texto do senador estabelece que a cobrança será sobre o valor de mercado do produto e ocorrerá “independentemente da destinação”, ou seja, poderá alcançar vendas internas e externas. Para os segmentos afetados, trata-se de um contrassenso, já que a reforma tem o objetivo maior de desonerar as exportações.

O Estadão apurou que as empresas veem poucas chances de ajustes no relatório final de Braga e trabalham junto aos senadores para garantir que as mudanças sejam realizadas via emendas.

Uma delas vai propor que o seletivo não incida sobre as exportações, o que limitaria o alcance dessa cobrança sobre a extração. Outra seria ainda mais ampla e pediria a supressão de todo trecho que cria a nova tributação sobre recursos naturais não renováveis.

Cesta básica: supermercados criticam cashback

De olho nas leis complementares que vão regulamentar a reforma, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) já se movimenta para garantir a inclusão de itens que considera essenciais na cesta básica isenta. A lista inclui 25 produtos, como carne bovina, peixe, arroz, feijão, frutas, leite, iogurte e pão francês.

A entidade também vem reforçando com parlamentares o entendimento de que o cashback é ineficiente como medida distributiva, quando aplicado ao setor alimentício. Na avaliação do segmento, seria mais interessante ampliar o desconto da cesta estendida (atualmente em 60% da alíquota padrão do IVA) e retirar a previsão do cashback.

Se isso não for viável, durante a tramitação no Senado, o objetivo é costurar um acordo mirando a lei complementar, para que o dispositivo não ganhe ainda mais espaço durante a regulamentação.

Trava para carga tributária não é consenso

Com apoio dos Estados e municípios, as entidades que representam os Fiscos se manifestaram contra um teto para a calibragem da alíquota a ser cobrada no novo sistema tributário, baseado nos dados de arrecadação entre 2012 e 2021.

Eles alegam que esse valor de referência, que ficará na Constituição, foi definido sem aprofundamento de estudos, baseado em parâmetros de uma década atrás e que poderá limitar o direito constitucional de acesso aos serviços públicos.

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O argumento é que o viés adotado a partir do novo arcabouço fiscal – nova regra para controle das contas públicas – é o de expansão da base tributária, não por aumento de tributos ou de alíquotas dos que já pagam, mas sim por maior eficácia da máquina arrecadadora no combate à sonegação e à inadimplência contumaz, revisão de benefícios fiscais sem retorno à sociedade, e pela tributação adequada dos mais ricos e privilegiados.

A trava iria na contramão desse movimento. Mas, ao mesmo tempo, ela é defendida pela maioria dos setores, que temem aumento da carga tributária com a reforma.

Energia busca tratamento diferenciado

Um movimento recente surgiu também das empresas de energia elétrica. O setor quer ficar junto com saneamento na lista de beneficiados com tratamento tributário específico.

As distribuidoras de energia elétrica pedem, ainda, que se mantenha o modelo atual de não cobrança do imposto da população de baixa renda, em vez de cashback. Caso a devolução seja mantida, as empresas exigem ajustes no texto, que consideram confuso.

Cartórios querem regime específico

A Confederação Nacional de Comércio (CNC) pede tratamento com regime diferenciado aos serviços ligados ao comércio que ainda não foram contemplados pelas regras diferenciadas. Até os cartórios querem ser beneficiados.

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Em carta enviada aos senadores, eles pedem apoio à emenda de nº 702, protocolada pelo senador Efraim Filho (União-PB). Eles alegam que a alíquota dos dois impostos que serão criados – CBS e IBS – será de mais de 25% ou até de 30%.

Telecom e bancos também pressionam

As empresas de telecomunicações também insistem em ficar na lista com alíquota reduzida e os bancos jogam pressão para que volte o texto da Câmara, o qual continha uma trava que garantia que a tributação das receitas com as operações de crédito não poderiam aumentar após a implementação da proposta.

Capitais pedem Cide combustível integral para transporte coletivo

Já as cidades buscam manter no texto a previsão de que 80% dos valores que forem distribuídos pelos Estados aos municípios serão transferidos por critérios populacionais. Há o temor de que essa cota-parte seja alterada na votação.

As cidades querem que a Cide combustível seja exclusiva para financiar o transporte coletivo urbano. Hoje, a cide está zerada. O texto de Braga destina uma parte da Cide combustível para o pagamento de subsídios a tarifas de transporte público coletivo de passageiros, mas não especifica qual fatia ou como isso seria feito.

“O financiamento do transporte coletivo urbano é hoje o grande desafio das grandes cidades, potencialmente as maiores perdedoras com o fim do ISS”, afirma Giovanna Victer, secretária de Fazenda de Salvador e presidente do Fórum de Secretários de Fazenda da Federação Nacional de Prefeitos (FNP).

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Segundo ela, essa destinação exclusiva da Cide para o setor será essencial para investimentos em uma matriz de transporte mais eficiente e limpa (como ônibus elétricos e climatizados) e também ao subsídio tarifário, para que se arque com a diferença entre a tarifa administrativa e a tarifa pública.

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