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Juro em queda, inflação em alta: ganhos e perdas

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Por Regina Pitoscia

A taxa básica de juros da economia, Selic, desceu a novo piso recorde, para 2% ao ano, porque a inflação está relativamente comportada, pelo menos a que vem estampada no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE e considerado a régua que mede a inflação oficial.

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A Selic é calibrada, para cima ou para baixo, de acordo com a expectativa de inflação. Se for de alta, o BC eleva a taxa básica para deprimir suposta demanda que estaria pressionando os preços; se for de queda, refletindo uma demanda desaquecida, o BC corta o juro para estimular o consumo.

É no embalo dessa toada de inflação em trajetória descendente que a Selic vem ladeira abaixo. Algo que seria saudável em uma economia estável e equilibrada, mas não é o que ocorre. A atividade patina há dois anos, após uma severa recessão, entre 2014 e 2017, e agora dá marcha à ré rumo a um tombo histórico, derrubada pela crise do coronavírus.

A inflação oficial de julho ficou em 0,36%, nível relativamente baixo, se analisado isoladamente. Comparado com outros períodos, porém, ele é o mais alto para o mês em quatro anos. É também o mais elevado do ano, que teve duas deflações, uma em abril, de -0,31, e outra em maio, de -0,38%, quando a pandemia do coronavírus aguçou a crise.

Em junho, os preços inverteram a trajetória de queda e levou a uma inflação de 0,26%, pressionada pela retomada do reajuste de combustíveis, recomposição de preços que persistiu em julho, reforçada também pelo aumento no valor das contas de energia elétrica.

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A pressão recente sobre a inflação veio em boa dose, portanto, do aumento de produtos cujos preços são administrados pelo governo e o peso recaiu sobre os consumidores de combustíveis, principalmente de gasolina, e energia elétrica.

Ademais, são produtos e serviços que o usuário não tem como deixar de consumir, porque são essenciais no dia a dia. Diferentemente de outras mercadorias, da classe de preços livres e, como tais, regulados pela oferta e procura, que estão com valores deprimidos pela baixa demanda em função da crise de emprego e renda como efeito da pandemia.

No reverso da moeda, inflação em alta combinada com queda dos juros redundou em perdas também para quem aplica em renda fixa em que o rendimento é referenciado na Selic. Especialmente em títulos e fundos DI e de renda fixa, além da caderneta de poupança.

A comparação de dados da inflação com o desempenho da renda fixa indica que o rendimento das aplicações mais tradicionais desse segmento foi negativo em julho: para uma inflação de 0,36%, a caderneta de poupança rendeu 0,13%, os fundos de renda fixa entre 0,24% e 0,34% (média bruta) e os fundo DI, entre 0,18% e 0,28% (média bruta).

O achatamento de rentabilidade chegou a tal ponto que o aplicador na renda fixa passa a abrir mão do ganho real, acima da inflação, e corre o risco até de ficar sem o mecanismo de proteção pela correção monetária, um ganho igual à inflação que assegure a recomposição do capital desvalorizado pela inflação e garante a manutenção do poder de compra.

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Pelo andar dos juros e da inflação, o rendimento negativo, abaixo da inflação, poderá ser o lugar comum da renda fixa por longo período.

Portanto, o aplicador que insistir na renda fixa não terá nem como espernear. A menos que destine uma parcela dos recursos não comprometidos com compromissos que têm data carimbada em aplicações com mais risco, mas que acenam com rendimento mais atraente, na renda variável.

Nem todos são perdedores nesse vaivém de inflação e juros. A redução dos juros favorece, mais uma vez, os tomadores de crédito. Não o consumidor comum, que precisa de um empréstimo, mas o governo que paga a Selic em parte do estoque de títulos públicos que coloca no mercado para financiar sua dívida. E também os bancos, que captam de clientes com remuneração pela Selic os recursos que repassa aos tomadores de crédito por taxas de juro consideradas escorchantes.

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