Olho no placar. Uma simples condenação do ex-presidente Lula no julgamento de hoje, como vem apostando os investidores, não bastaria para manter o bom humor do mercado financeiro. Seria preciso também que o resultado das votações dos três desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, reafirme por três a zero a sentença de condenação já sacramentada, em primeira instância, pelo juiz Sérgio Moro, de Curitiba. Entenda por quê.
Só relembrando, o ex-presidente recorreu com recurso ao TRF-4 contra uma condenação, decidida por Moro, de nove anos e meio, por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na suposta compra do tríplex no Guarujá.
Fora da corrida eleitoral
A expectativa é que uma segunda condenação, no julgamento de hoje, tire Lula da corrida eleitoral, já que o ex-presidente entraria para o grupo de políticos com ficha suja e, como tal, ficaria impedido de disputar as eleições em outubro.
Por aí, o julgamento desta quarta-feira, que pode decidir também o futuro político de Lula, é visto como um divisor de águas a partir do qual haveria maior clareza no processo eleitoral. Quem é quem na corrida presidencial e os potenciais candidatos com mais chances de vitória.
O possível desenho desse cenário, contudo, não dependeria apenas da condenação do ex-presidente. Mas depende também do placar final do julgamento. Se for condenado em segunda instância, hoje, por três votos a zero, Lula ficaria fora da disputa presidencial, porque seriam reduzidas as chances de o ex-presidente reverter a decisão dos juízes.
Uma expectativa que, se materializada, tenderia a dar ânimo redobrado à bolsa de valores e abrir caminho para novas altas das ações. Isso porque cria possibilidades de manutenção da atual política econômica que tem trazido resultados positivos, como queda da inflação e dos juros.
Efeito nas bolsas
Embora o mercado de ações tenha puxado o freio de mão nos últimos pregões, em uma atitude defensiva e de cautela à espera do julgamento de Lula - a Bolsa de Valores de São Paulo recuou 1,27% ontem - é com essa perspectiva de continuidade das diretrizes econômicas que os investidores, estrangeiros e domésticos, têm comprado ações e embalado a alta da bolsa, que acumula valorização de 5,54% no ano, até o momento.
Um resultado diferente de três a zero ou até uma inimaginável absolvição do ex-presidente, do ponto de vista dos investidores, contudo, tenderia a gerar incertezas e instabilidade no mercado financeiro. Uma condenação que não seja pela unanimidade dos votos abriria brechas para a apresentação de recursos e embargos que possibilitariam pavimentar a candidatura do petista às eleições de outubro.
Para analistas do mercado financeiro, uma absolvição do ex-presidente, embora considerada improvável, criaria o pior dos cenários, com elevação dos preços do dólar e desvalorização da bolsa de valores.
Tudo isso porque os investidores avaliam a eventual candidatura de Lula - que lidera as pesquisas de opinião, seguido do deputado Jair Bolsonaro - como risco ao futuro da política econômica em curso, portanto à estabilidade da economia, ao andamento das reformas, à queda da inflação e dos juros, além da retomada do crescimento econômico.
Por isso, uma possível condenação de Lula nesta quarta-feira, com os votos favoráveis dos três desembargadores da 8ª Turma do TRF-4, tende a fortalecer um cenário positivo para o mercado financeiro.
A bolsa de valores vem sendo beneficiada pelo ingresso de dólares que sobram pelo mundo e estão em busca de opções em mercados rentáveis, como o de ações de empresas brasileiras, que, superada a fase de severa recessão, passam a exibir lucros em seus balanços.
Os capitais estrangeiros que chegam, por sua vez, tornam mais robustas as contas externas - já blindadas por vistosos superávits comerciais e reservas internacionais em torno de US$ 380 bilhões - e mantêm bem comportadas as cotações do dólar, com efeitos positivos sobre a inflação e as taxas de juro.