O Reino Unido, que desencadeou uma dependência global de carvão há quase 150 anos, fechou a sua última usina de energia a carvão na segunda-feira, 30. Isso faz da nação a primeira entre as principais economias industrializadas do mundo a se livrar do carvão – algo ainda mais simbólico porque também foi a primeira a queimar enormes quantidades de carvão para alimentar a Revolução Industrial, inspirando o resto do mundo a seguir seu exemplo.
“O berço da energia a carvão está virando as costas para o carvão para sempre”, disse Matt Webb, diretor associado do grupo de pesquisa e defesa com sede em Londres, E3G. O fim da era do carvão no Reino Unido foi marcado pelo fechamento da usina Ratcliffe-on-Soar, com capacidade de 2 mil megawatts.
A Uniper, empresa de energia que operava a usina, afirmou que o local de 3 km² será convertido em um “centro de energia de baixo carbono”. O fechamento ocorre 142 anos após a primeira usina de energia a carvão do mundo começar a produzir eletricidade no Viaduto de Holborn, em Londres, em 1882, acelerando a ascensão do Reino Unido como uma importante potência industrial e imperial.
O carvão é o combustível fóssil mais poluente. Quando queimado, ele produz gases de efeito estufa que aqueceram a atmosfera da Terra e aumentaram a intensidade de ondas de calor e tempestades. Embora tenha sido por muito tempo a fonte de energia mais barata e abundante em muitos países, incluindo no Reino Unido, ele foi substituído nas últimas décadas por gás, energia nuclear e, mais recentemente, renováveis, como vento e solar.
Isso ocorre especialmente em países ricos, incluindo o Reino Unido. Petróleo e gás representam a maior parte de seu fornecimento de energia, embora as fontes renováveis agora representem 40% da geração de eletricidade, e o governo tem como meta gerar toda a sua eletricidade de fontes não fósseis até 2030.
Da mesma forma, nos Estados Unidos, o carvão representa cerca de 16% da geração de eletricidade, abaixo de mais da metade em 1990. O gás fornece mais de 40% da eletricidade nos EUA. Por outro lado, a França obtém a maior parte de sua eletricidade de usinas nucleares, enquanto a Dinamarca obtém 80% de sua energia de fontes renováveis, principalmente eólica.
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Era do carvão em pleno vigor
No entanto, a era do carvão ainda está em pleno vigor na China e na Índia, os dois países mais populosos do mundo, onde a demanda por energia continua a crescer. Essas duas nações consomem a grande maioria do carvão mundial, e fizeram o consumo global de carvão atingir níveis recordes em 2023, com 8,5 bilhões de toneladas métricas. A Agência Internacional de Energia espera um ponto de virada este ano. A agência projetou que o consumo de carvão da China poderia atingir o pico em 2024 e estabilizar-se nos próximos anos, à medida que o país aumenta a geração de energia eólica e solar.
A usina de Ratcliffe, na região de East Midlands, no Reino Unido, operava desde 1967. Era abastecida por carvão de minas próximas, até que essas minas começaram a fechar na década de 1980, provocando uma longa e desgastante greve de mineiros e devastando cidades e regiões inteiras que dependiam do carvão e das usinas de energia a carvão.
Em contrapartida, o plano de fechamento de Ratcliffe foi bem recebido por um consórcio de sindicatos. Eles afirmaram que alguns dos 154 trabalhadores da usina encontraram empregos em outros projetos da Uniper e que a empresa ofereceu treinamento profissional e um pacote de rescisão “melhorado”.
“Entregar uma transição climática justa para os trabalhadores será uma batalha difícil, mas Ratcliffe pode nos dar esperança”, disse o Trades Union Congress em um comunicado na semana passada. O ponto sensível agora é como lidar com as usinas siderúrgicas que queimam carvão. Esses fornos estão prestes a ser substituídos por fornos elétricos de menor emissão, ameaçando milhares de empregos.
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