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Opinião | Mulheres em movimento: protagonismo nas Olimpíadas e na agenda climática

Protagonismo feminino é símbolo de resiliência e esperança para mundo que precisa urgentemente de mudança

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Foto do author Renata Piazzon
Atualização:

O Brasil encerrou sua participação nas Olimpíadas de Paris 2024 com um desempenho histórico: das 20 medalhas conquistadas, 12 foram obtidas por mulheres. Os três ouros vieram de Rebeca Andrade, Bia Souza e da dupla Ana Patrícia e Duda, atletas que não apenas levaram nosso hino e nossa bandeira ao topo, mas também renovaram o nosso orgulho de ser brasileiro. Rebeca, em particular, fez história ao conquistar seis medalhas olímpicas, elevando o Brasil a um patamar inédito no cenário esportivo mundial.

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O brilho dessas conquistas vai muito além das arenas esportivas. O protagonismo feminino, evidenciado nos Jogos Olímpicos, reflete uma liderança que se estende a muitas outras frentes, e, especialmente, a uma vital para o futuro global: a agenda climática. Assim como nas competições, as mulheres têm se destacado como vozes poderosas na defesa de ações climáticas mais ambiciosas, ocupando posições de liderança e influenciando a criação de políticas climáticas globais mais inclusivas e equitativas.

Essa interseção entre esporte e clima representa uma poderosa convergência de liderança e compromisso com a mudança. As mulheres estão quebrando barreiras, desafiando normas e pavimentando o caminho para um futuro mais justo e sustentável.

Nas negociações multilaterais, foram duas mulheres - Laurence Tubiana, enviada climática da França, e Christiana Figueres, que comandou o órgão climático das Nações Unidas - que ajudaram a intermediar o histórico Acordo de Paris em 2015, um marco crucial para frear o aquecimento global. Há ainda trajetórias como a da ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, que uniu nos fóruns internacionais a luta contra a emergência climática com a defesa dos direitos humanos.

Rebeca Andrade conquistou quatro medalhas em Paris e duas em Tóquio Foto: Alexandre Loureiro/COB.

No Brasil, as lideranças femininas são protagonistas dessa força transformadora, especialmente nas comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Samela Sateré Mawé, ao ser perguntada sobre quando decidiu ser ativista climática, respondeu que “não existe outro jeito de existir sendo indígena.” Para ela, a defesa dos direitos humanos, dos povos indígenas e do meio ambiente é uma luta entrelaçada desde o nascimento. Da mesma forma, Valcléia Solidade, Superintendente da Fundação Amazônia Sustentável, nascida em uma comunidade quilombola no interior do Pará, é uma defensora incansável do desenvolvimento sustentável e vem fortalecendo as mulheres nas comunidades ribeirinhas.

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A atuação feminina na agenda climática se torna ainda mais representativa diante da constatação de que a crise climática não afeta todos da mesma forma. As mulheres, principalmente em regiões vulneráveis, estão entre as mais afetadas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), 72% das pessoas que vivem em extrema pobreza, e que são mais suscetíveis aos desastres ambientais, são mulheres.

Além disso, de acordo com o relatório do Women in Finance Climate Action Group, elas representam cerca de 80% dos refugiados climáticos — aqueles que foram forçados a migrar devido a eventos extremos. O relatório “O Clima Injusto”, da FAO, aponta ainda que, em países de baixa e média renda, as mulheres rurais chefes de família sofrem perdas financeiras significativamente maiores do que os homens devido a eventos climáticos extremos.

Nessas regiões, meninas e mulheres são frequentemente responsáveis por garantir alimento, água, lenha e outros recursos vitais, além do cuidado de crianças e idosos. Quando ocorrem secas prolongadas, são elas que carregam o peso de caminhar mais para coletar recursos escassos. Muitas vezes, além de protegerem suas casas e comunidades de enchentes, queimadas e deslizamentos de terra, também são elas que permanecem para cuidar dos vulneráveis.

Ao mesmo tempo, essa exposição intensa às adversidades climáticas faz dessas mulheres as mais determinadas em acreditar na necessidade de mudanças. Em muitas comunidades rurais, são elas que assumem a responsabilidade por até 80% da produção de alimentos, desempenhando um papel crucial na gestão de recursos naturais, como florestas e água, e assegurando a sustentabilidade e a conservação da biodiversidade.

O protagonismo feminino nas Olimpíadas e na agenda climática global transcende a realização pessoal: é símbolo de resiliência e esperança para um mundo que precisa urgentemente de mudança. As imagens de nossas atletas em Paris mostram um Brasil do futuro. Essas mulheres nos revelam que o futuro é delas, e que nele, todos podemos encontrar um lugar mais justo e sustentável.

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Opinião por Renata Piazzon

Diretora-geral do Instituto Arapyaú, cofacilitadora da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura e representante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS)

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