Juros altos são um presente para o rentista, mas uma armadilha para a economia. Quem vive de renda fixa vê seus rendimentos crescerem sem esforço e sem riscos. Para quem está nessa posição, trata-se de um grande presente. Mas, e para o resto da economia?
O custo do crédito encarece, desincentivando investimentos produtivos e dificultando o financiamento de empresas. Pequenos negócios sofrem e consumidores adiam compras de bens duráveis. O Brasil já passou por isso muitas vezes: a política monetária, usada para conter a inflação, acaba limitando o crescimento e a geração de empregos.
A taxa de juros elevada pode atrair capital estrangeiro, fortalecendo o real e reduzindo a pressão sobre o dólar. Isso ajudaria no controle da inflação, mas esse efeito pode ser limitado pelo novo cenário externo. A política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com tarifas e barreiras comerciais, pode reduzir essa atratividade, especialmente num mundo em que os juros americanos seguem elevados.
Ao mesmo tempo, o peso dos juros altos sobre a dívida pública brasileira continua aumentando. A relação entre dívida e PIB já subiu consideravelmente e tende a crescer ainda mais. O custo do endividamento sobe, comprometendo o espaço fiscal e pressionando o Orçamento com pagamentos de juros. O perfil da dívida agrava a situação, já que parte expressiva está atrelada a taxas pós-fixadas, fazendo com que o governo pague mais juros a cada ano.

Desde o Plano Real, a inflação em torno da meta de 3% foi exceção, não regra. Portanto, a meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), baseada numa média móvel de 12 meses, apenas reforça a necessidade de juros elevados. Isso não é uma escolha política do Banco Central (BC), mas uma consequência dos fundamentos econômicos. O fato é que o Brasil precisa romper essa dependência crônica de juros altos como solução para a inflação, e a resposta não está apenas no Banco Central, mas também em reformas estruturais, em previsibilidade fiscal e na melhora no ambiente de negócios.
Lula tenta driblar a realidade com frases de efeito. Expressões como “o Banco Central não pode dar um cavalo de pau” ou dizer que o Banco Central deixou uma “arapuca” não explicam nada. Apenas reforçam a falta de embasamento econômico e a tentativa de ganhar tempo sem oferecer soluções concretas. A população já percebeu a fragilidade da gestão e a ausência de respostas para os problemas reais. A última pesquisa Datafolha mostra o pior índice de aprovação de Lula em todos os seus três mandatos (24%). O governo está enfraquecido porque a realidade se impõe e jargões não mudam os fatos.