O último ano foi repleto de notícias sobre energia que parecem animadoras. O mundo já instalou mais de 1 terawatt de capacidade de painéis solares — o suficiente para abastecer toda a União Europeia. As compras de veículos elétricos estão aumentando: mais de 1 milhão de veículos foram vendidos nos Estados Unidos neste ano, com uma estimativa de 14 milhões vendidos em todo o mundo. E, observando o rápido crescimento da energia eólica, das baterias e de tecnologias como bombas de calor, é possível pensar que a luta contra a mudança climática pode estar indo bem.
Mas uma nova análise, divulgada na terça-feira, 5, enquanto os líderes mundiais se reuniam em Dubai para discutir o progresso na redução das emissões, mostra a dura verdade: o aumento das energias renováveis não foi suficiente para substituir os combustíveis fósseis. Espera-se que as emissões globais de dióxido de carbono provenientes de combustíveis fósseis aumentem em 1,1% em 2023, segundo a análise do Global Carbon Project.
“As energias renováveis estão crescendo a níveis recordes, mas os combustíveis fósseis também continuam crescendo a níveis recordes”, disse Glen Peters, pesquisador sênior do Cicero Center for International Climate Research, em Oslo, que coescreveu a nova análise.
O crescimento das emissões vem em grande parte da Índia e da China — que continuam a queimar grandes quantidades de carvão à medida que seus cidadãos usam mais eletricidade — e do aumento dos voos e do transporte marítimo internacional. As emissões da aviação, que estão voltando aos níveis normais desde a pandemia do coronavírus, devem crescer 28% em 2023.
Embora as emissões estejam diminuindo ligeiramente nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a União Europeia, elas não estão caindo com rapidez suficiente. A projeção é que as emissões nos Estados Unidos diminuam 3% neste ano — as emissões americanas de carvão cairão para níveis não vistos desde o início do século 20 — enquanto as emissões da União Europeia cairão cerca de 7%.
Um crescimento de um dígito nas emissões pode não parecer muito, mas as temperaturas globais não começarão a se estabilizar até que as emissões líquidas de carbono cheguem a zero. Mesmo que as emissões começassem a cair rapidamente no próximo ano, levaria anos para chegar a zero e, durante esse período, as temperaturas continuariam a subir.
O contraste entre o crescimento das energias renováveis e o aumento contínuo das emissões de combustíveis fósseis reflete um dos maiores debates sobre a mudança climática: se o crescimento da energia limpa será, por si só, suficiente para conter as emissões que causam o aquecimento do planeta.
Até o momento, países de todo o mundo estão combatendo a mudança climática subsidiando a energia renovável em vez de impor limites rígidos ao uso de combustíveis fósseis. A lei climática de referência do governo Biden, a Inflation Reduction Act, destina cerca de US$ 370 bilhões para a construção de infraestrutura eólica e solar, além de baterias e veículos elétricos — mas os Estados Unidos ainda são o maior produtor (e consumidor) de combustíveis fósseis do mundo. A União Europeia tem um sistema que limita o uso de combustíveis fósseis na geração de eletricidade, mas ele ainda não inclui os carros nas estradas ou outras fontes de poluição por carbono.
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Parte disso se deve à política. As tentativas de tributar ou limitar as emissões de CO₂ sempre provocaram reações negativas significativas. Mas muitos especialistas afirmam que apenas aumentar a energia limpa não será suficiente para realmente reduzir os combustíveis fósseis. “Simplesmente não estamos adotando políticas que eliminem os combustíveis fósseis”, disse Peters, pesquisador em Oslo. “Os combustíveis fósseis continuam crescendo alegremente.”
Mesmo nas maiores reuniões internacionais sobre o clima, a discussão sobre o fim dos combustíveis fósseis provocou brigas polêmicas. Os delegados da conferência climática da ONU, conhecida como COP-28, discutiram se o texto do acordo deve exigir uma “eliminação gradual” ou uma “redução gradual” dos combustíveis fósseis.
Os novos dados também significam ser cada vez mais improvável que o mundo atinja sua meta de impedir que o planeta aqueça mais de 1,5 °C para evitar impactos climáticos devastadores. Embora os líderes mundiais continuem a discutir a meta nas negociações sobre o aquecimento global — o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, descreveu o mundo como “a minutos da meia-noite para o limite de 1,5 grau” na semana passada — a maioria dos cientistas do clima agora acredita que as temperaturas globais ultrapassarão esse limite mais cedo ou mais tarde.
“Provavelmente estamos tão perto agora que não há muito que possa ser feito para evitar 1,5″, disse Peters. “É mais uma questão de manter o mais próximo possível de 1,5° C.”
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