RIO - O Brasil entrou no período seco, que vai de abril a outubro, com os reservatórios das hidrelétricas registrando o melhor nível desde 2012, o que deve garantir contas de luz menos elevadas este ano, informou o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Luiz Ciocchi. Com isso, a expectativa é de que a bandeira verde vigore até o final do ano, sem a cobrança extra na conta dos consumidores para cobrir o custo do acionamento das térmicas.
"Estamos com reservatórios em boa condição e só vamos ter despachos térmicos na ordem de mérito, alguma coisa vamos precisar em setembro ou outubro, mas na ordem de mérito, a expectativa é passar todo esse ano com bandeira verde", disse Ciocchi.
Ao contrário do ano passado, quando o País enfrentou a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, as chuvas foram intensas no período úmido, que vai de novembro a março, e conseguiram elevar o nível de água dos reservatórios. Nesta segunda-feira, 11, o Sistema Interligado Nacional (SIN) registrava média de 71,7% de armazenamento de água.
A partir do próximo sábado, o consumidor deixa de pagar a tarifa da crise hídrica, que adiciona R$ 14,20 a cada 100 quilowatt-hora (kWh). A cobrança extra se deve ao acionamento intensivo de térmicas a partir do segundo semestre do ano passado, para compensar a redução da produção das hidrelétricas no período seco de 2021. Na semana passada, o governo anunciou a retirada da tarifa extra a partir do dia 16 de abril. Sem a cobrança da tarifa extra na conta de luz, o consumidor residencial deve ter uma redução média de 6,5% no custo da energia, segundo o cálculo de especialistas.
O subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da geração hidrelétrica do País, registrava há um ano 35% de armazenamento de água e fechou 2021 com menos de 20%. Neste ano, o sistema tem operado acima dos 60% há algumas semanas.
Já o subsistema Sul, que há um ano registrava mais de 60% de armazenagem, este ano tem sofrido com aseca e só agora, com as chuvas de abril, está conseguindo se recuperar, informou Ciocchi.
Com mais água nos reservatórios,as termelétricas serão menos acionadas este ano, preservando as que precisam ser utilizadas por contrato. E se outras voltarem ao sistema, garante Ciocchi, será pela ordem de mérito, ou seja, das mais baratas para as mais caras.
Alívio
No ano passado, todas as termelétricas tiveram que ser acionadas para garantir o abastecimento de energia elétrica no País. A solução encareceu a conta do consumidor, que este ano poderá ter um pouco de alívio nas tarifas de luz elétrica. O alívio só não será maior porque ainda terá o impacto do empréstimo concedido às distribuidoras pelo governo, por conta da queda de consumo causado pela pandemia do covid-19.
Nem mesmo a guerra entre a Rússia e a Ucrânia deve encarecer as contas de luz este ano, segundo o executivo. Ele explica que com o despacho menor de térmicas, o País dependerá menos da importação de Gás Natural Liquefeito (GNL) do que no ano passado.
"Vamos ter despacho térmico bastante reduzido este ano e a sinalização dos agentes é de que não há preocupação com o abastecimento (de GNL), podemos ficar tranquilos. Se esse conflito tivesse acontecido no ano passado, aí teríamos situação bastante complicada", afirmou Ciocchi.
Para 2023, o executivo observou que, apesar de não ter bola de cristal, e o setor depender de chuvas que não são previsíveis no longo prazo, a expectativa é de que seja um ano ainda melhor do que este, do ponto de vista do abastecimento energético.
"Tem muita geração nova entrando, muita linha de transmissão entrando, então em 2023 estaremos melhor do que neste ano. Se mantido os reservatórios nesses níveis, teremos 2023 ainda melhor que este ano, mas sujeito a chuvas e trovoadas", brincou, sobre as incertezas das previsões meteorológicas.
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