A reunião no Palácio da Alvorada, na última quinta-feira, 27, com a presença do economista Marcio Pochmann, escolhido para chefiar o IBGE, tratou do convite do presidente americano Joe Biden para que ele e Luiz Inácio Lula da Silva elaborem um documento conjunto com diretrizes globais para o mercado de trabalho.
Biden enviou um convite a Lula na semana passada. A ideia é que os dois presidentes apresentem a proposta em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, nos EUA, onde tradicionalmente o Brasil abre os discursos de líderes globais e marcará a reestreia do brasileiro no fórum.
Segundo o assessor presidencial para assuntos exteriores, Celso Amorim, a ideia é fazer com que a discussão sobre o trabalho possa ser impulsionada como Lula fez com a fome e a pobreza no seu primeiro mandato. O objetivo é agregar mais países ao debate que vem ganhando relevância com o avanço da inteligência artificial e das tecnologias sobre postos ocupados por trabalhadores.
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Pochmann, que foi indicado ao IBGE em um anúncio que atropelou Simone Tebet (Planejamento), apareceu ao encontro sem a ministra, como mostrou a Coluna do Estadão, um dia após o nome dele ser confirmado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
O economista preside o Instituto Lula. Além de mostrar-se ao lado de Pochmann, como forma de apoiá-lo, Lula quis ouvi-lo sobre questões do mercado de trabalho, linha de pesquisa que ele desenvolve na Unicamp.
“É significativo que o convite tenha partido da Casa Branca e não de ministérios. Indica que o assunto tem um valor estratégico para a relação entre EUA e Brasil”, diz Amorim.
Tanto Biden quanto Lula têm afinidade com o tema trabalhista. Lula pela trajetória pessoal, como ex-operário da indústria automotiva. Já Biden tem se aproximado dos sindicatos.
A convergência das agendas foi apresentada a Lula pela primeira vez pelo senador Christopher Dodd, emissário de Biden, durante a viagem do brasileiro a Bruxelas, há cerca de 15 dias. No encontro, Lula deu sinal verde para avançar na construção de um documento conjunto, o que começou na semana passada.
Na primeira reunião sobre o tema, Lula quis saber como poderia se posicionar relacionando o trabalho à transição ecológica, assunto que será pauta da administração petista neste segundo semestre.
Seus conselheiros na área, o que incluiu o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, servidores da pasta, representantes de movimentos sindicais, Pochmann e Glauco Arbix, que chefiou o Ipea no governo Lula 1, foram destacados para elaborar algumas diretrizes.
Alguns dos temas mencionados são os direitos do trabalhador e o acesso à formalidade, mesmo em casos de contratos mais flexíveis de trabalho, como nos casos de aplicativos. Além do reforço de sindicatos e o estímulo de políticas que deem acesso igualitário de homens e mulheres, brancos e pretos, a postos e condições de trabalho. E, por fim, que a transição para novas tecnologias inclua o trabalhador, em vez de ter como objetivo exterminar vagas de emprego.
O diagnóstico é que parte da classe trabalhadora empobreceu nos últimos anos, em razão da redução da oferta de vagas no setor industrial, com a migração de cadeias inteiras para a Ásia. Os EUA vêm adotando políticas de “reindustrialização”, discurso que no Brasil ganhou o nome de “neoindustrialização” sob Lula.
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