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Análise|Reversão do boom de commodities deverá gerar desaceleração do PIB em 2024

Parece bastante provável que o crescimento da economia brasileira neste ano se situe em torno de 1,5%, talvez um pouco mais ou um pouco menos

Por Bráulio Borges

Segundo o IBGE, o PIB brasileiro fechou 2023 com alta de 2,9%, variação semelhante àquela observada em 2022 (+3,0%). A despeito de variações parecidas em ambos os anos, a composição do crescimento foi bastante diferente.

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No ano passado, a agropecuária (que subiu 15,1%) e a indústria extrativa mineral (alta de 8,7%) responderam, diretamente, por 1,3 pontos porcentuais (p.p) da alta de 2,9% de todo o PIB (ante uma contribuição de -0,1 p.p. em 2022). Foi a maior contribuição já registrada desses dois segmentos em conjunto para a variação anual do PIB, superando com folga o +0,7 p.p. observado em 2017 (até então a maior leitura já registrada desde 1997).

Mas esse impacto reflete apenas os efeitos diretos desses setores. Eles acabaram impulsionando também outros segmentos pelo lado da oferta, como a agroindústria e os transportes e pela demanda (consumo nas regiões onde o agronegócio é mais presente).

Com efeito, tal como havia acontecido em 2020, 2021 e 2022, também em 2023 a renda gerada pelos setores produtores de commodities, refletindo preços em alta (2020 a 2022) e volumes em forte expansão (2023) foi crucial para sustentar taxas de crescimento relativamente elevadas do PIB como um todo.

Safra de grãos brasileira deverá registrar queda de 3% a 4%, e preços agropecuários vêm recuando desde o ano passado Foto: Wesley Santos/Estadao

Contudo, esse “boom de commodities” não irá se manter em 2024. A safra de grãos brasileira deverá registrar queda de 3% a 4%, e os preços agropecuários vêm recuando desde o ano passado. A extração de petróleo e gás crescerá bem menos neste ano, voltando a acelerar de 2025 em diante. Iremos utilizar mais termelétricas (em resposta às chuvas bem abaixo do histórico em pleno período chuvoso), algo que derruba o valor adicionado do setor (que cresceu expressivos 6,5% em 2023).

Some-se a isso os impactos do colapso econômico da demanda doméstica argentina (em resposta ao tratamento de choque introduzido pelo novo governo para debelar a inflação) e fica difícil imaginar uma repetição de um crescimento do PIB de cerca de 3% neste ano, mesmo com alguns fatores ajudando (como o pagamento de mais de R$ 90 bi de compulsórios “pedalados” no governo anterior em dezembro).

Também não é sustentável crescer muito mais do que 2% neste ano, já que esse é o ritmo de crescimento potencial estimado para o caso brasileiro e altas do PIB efetivo acima disso, com um desemprego já abaixo dos 8%, poderão gerar um recrudescimento das pressões inflacionárias domésticas. É nesse contexto que parece ser bastante provável que o crescimento do PIB brasileiro neste ano se situe em torno de 1,5%, talvez um pouco mais ou um pouco menos.

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Análise por Bráulio Borges

Economista da LCA e pesquisador do FGV IBRE

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