Você já se pegou pensando que sua carreira não avança porque você “não joga o jogo” ou não é “político” o bastante? Se sim, você provavelmente considera a situação injusta. Afinal, é um profissional qualificado, que não consegue avançar porque não cede à politicagem. Mas será que é por aí mesmo?
Muitas vezes, vejo profissionais associarem o crescimento à necessidade de “ser político”. Isso, de maneira negativa. Quase como se lhes fosse pedido para manipular (ou bajular) alguém ou, pior ainda, fazer ter um tipo de comportamento que possa esbarrar na ética. Obviamente, não se trata disso.
É essencial entender que a “política” no mundo corporativo não se trata de manipulação ou de ações desonestas. Trata-se de construir relações de confiança, entender os diferentes pontos de vista, negociar e encontrar o equilíbrio entre os interesses pessoais e coletivos.
Esta habilidade milenar, que remonta às antigas cidades-Estado gregas, é fundamental não apenas para a sobrevivência corporativa, mas também para a prosperidade e o bem comum. Na essência da política contemporânea no trabalho, está a arte de cultivar relações, comunicar-se de forma eficaz e colaborar para o sucesso mútuo. Se você já se sentiu estagnado, questionando se falta “jogo de cintura” político para avançar, este artigo é para você.
Agora, tente trazer essa perspectiva para o ambiente de trabalho atual. Perceba como “ser político” não significa abandonar seus princípios ou agir de maneira desonesta, e sim cultivar habilidades de relacionamento, comunicação e colaboração.
Além disso, trata-se de construir relações de confiança, compreender diferentes pontos de vista e encontrar soluções que beneficiem a equipe e a organização como um todo. Basicamente, se pensarmos em “fazer política” no trabalho, estamos pensando em colaboração — palavra que certamente lhe parece muito mais atual.
Caso sinta que a sua carreira está estagnada porque não consegue transitar tão bem entre as pessoas, vale refletir: será que você não está usando a “política” para justificar sua falta de social skills e de habilidades de comunicação? Será que não estou deixando de construir pontes, estabelecer parcerias e compreender as dinâmicas da organização? Essa perspectiva é defendida pela psicóloga organizacional Madeleine Wyatt, no podcast da Harvard Business Review.
Em sua fala, Wyatt aponta que a construção de capital político no trabalho é a base para a formação do networking. Segundo ela: “Fazer networking é uma estratégia de longo prazo… Networking se trata de relacionamentos que são cultivados, de modo que tragam benefícios para ambos os lados.”
Para navegar com sucesso nesse contexto, aqui estão sete dicas para construir bons relacionamentos no trabalho, sem confundir política com puxa-saquismo:
- Aprimore sua inteligência emocional: ser capaz de identificar, compreender e gerenciar suas próprias emoções, bem como as dos outros, é crucial no ambiente corporativo. A inteligência emocional ajuda a criar empatia, facilita a comunicação e fortalece as relações interpessoais, todas habilidades essenciais para uma política saudável no trabalho.
- Seja um facilitador: posicione-se como alguém que facilita processos e projetos, ajudando a remover obstáculos para seus colegas e equipe. Isso não apenas melhora a eficiência e produtividade, mas também aumenta sua visibilidade e valor dentro da empresa, consolidando sua reputação como uma força positiva e cooperativa.
- Mantenha a transparência: em suas interações, esforce-se para ser transparente em suas intenções e ações. A transparência gera confiança e reduz mal-entendidos, criando um ambiente onde a política é vista como aberta e direta, em vez de manipulativa ou dissimulada.
- Aprenda a negociar: habilidades de negociação são vitais em qualquer ambiente corporativo. Saber negociar não apenas termos de contratos, mas também expectativas e responsabilidades, é crucial. Uma boa negociação pode resolver conflitos e promover interesses mútuos, aspectos fundamentais para uma política eficaz e respeitosa.
- Pratique a assertividade: a habilidade de expressar suas necessidades e opiniões de forma respeitosa, mas firme, é essencial. Ser assertivo ajuda a estabelecer limites claros e a defender seus pontos de vista sem ser agressivo ou passivo. Isso é particularmente útil em situações onde é necessário negociar ou quando conflitos surgem.
- Desenvolva a flexibilidade: no ambiente de trabalho, as situações mudam rapidamente e a habilidade de adaptar-se a novas circunstâncias e ajustar seus planos é crucial. Ser flexível e aberto a mudanças demonstra que você é capaz de lidar com a incerteza e pode ajudar a empresa a navegar por tempos de mudança.
- Cultive um mentor: desenvolver uma relação de mentoria com alguém mais experiente na organização pode ser extremamente benéfico. Um mentor pode oferecer conselhos valiosos sobre como navegar a cultura corporativa, além de fornecer insights sobre como manejar situações políticas delicadas, garantindo que você cresça com integridade e eficiência.
Concluir que a política no ambiente de trabalho é apenas uma questão de “jogos de poder” seria simplificar demais um conceito que é fundamental para o sucesso profissional e organizacional. Dados da Gallup indicam que 70% das oscilações no engajamento das equipes podem ser atribuídas à gestão. O que destaca a importância das habilidades interpessoais, incluindo a habilidade política, para líderes e gestores.
Além disso, uma pesquisa do LinkedIn mostrou que 80% dos profissionais consideram o networking — um aspecto essencial da política no trabalho — vital para o sucesso na carreira.
Esses números sublinham um ponto crucial: a política no trabalho, quando praticada com integridade e habilidade, é uma ferramenta valiosa não só para o avanço individual, mas também para o fortalecimento da cultura organizacional e para a promoção de um ambiente de trabalho mais colaborativo e engajado.
Assim, encarar a política como uma oportunidade para influenciar positivamente e liderar com empatia é o que separa os verdadeiros líderes dos meros participantes no ambiente corporativo.
Se você se sente travado na carreira por não ser “político”, talvez seja o momento de refletir: será que não estou confundindo política com habilidades de relacionamento e comunicação? Será que não estou deixando de construir pontes, estabelecer parcerias e compreender as dinâmicas da organização?
Lembre-se: crescer em uma empresa não se trata apenas de ser bom tecnicamente. Envolve também saber se relacionar, comunicar-se eficientemente, entender o ambiente e os objetivos da organização.
Em vez de rejeitar a política, abrace a ideia de se tornar um profissional mais completo, capaz de navegar pelas complexidades do mundo corporativo com integridade, autenticidade e habilidade.
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