Quantas vezes você já sentiu que sua carreira está travada, apesar de todo o esforço que você dedica a ela? E se eu lhe dissesse que, muitas vezes, os maiores obstáculos que geram essas travas somos nós mesmos?
A verdade nua e cria é que você pode estar sabotando sua própria carreira sem nem ao menos perceber.
Poucas décadas atrás, a carreira era vista como uma linha reta. O progresso, então, era garantido pelo tempo e pela dedicação. Desde o início da era industrial ao surgimento do digital, as hierarquias eram claras e, portanto, seguir as regras era sinônimo de sucesso.
A progressão na carreira era lenta, mas segura. Trabalhadores dedicavam anos, muitas vezes décadas, a uma única empresa, subindo degrau por degrau na hierarquia corporativa. O esforço e a lealdade eram recompensados com estabilidade e, eventualmente, promoções.
Porém, à medida que a economia global evoluiu, a dinâmica no ambiente de trabalho mudou drasticamente. A transição para a era da informação trouxe consigo novas expectativas. A competitividade aumentou, as habilidades exigidas se diversificaram, e a pressão para se destacar nunca foi tão grande.
Nesse sentido, a digitalização e a globalização remodelaram o ambiente corporativo. As habilidades técnicas, que antes eram consideradas um diferencial, agora são requisitos básicos. Além disso, a capacidade de trabalhar remotamente e colaborar virtualmente se tornou essencial. A pandemia de Covid-19 apenas reforçou essa tendência, demonstrando que a flexibilidade e a adaptabilidade são fundamentais para o sucesso em um mundo em constante mudança.
Ao ler isso, talvez você mesmo tenha feito uma careta e pensado em “como as coisas eram mais fáceis no passado”. Eis aí o seu primeiro sabotador: o seu próprio pensamento.
Estudos mostram que a autossabotagem é uma prática comum entre profissionais de todos os níveis. Segundo artigo publicado na Harvard Business Review, comportamentos autossabotadores com frequência são motivados pelo desejo ou de se encaixar, ou de se destacar entre um grupo — neste caso, seu local de trabalho. Uma dualidade entre desejo de pertencimento e individualidade que pode ser extremamente prejudicial.
Mas, afinal de de contas, o que é a tal da autossabotagem? A autossabotagem é uma ação, ou inação, completamente desalinhada com a nossa noção sobre o que é melhor para nós. Ou seja, a autossabotagem implica que temos conhecimento de qual seria o curso de ação correto, entretanto agimos de forma contrária.
O grande problema é que esses comportamentos não apenas prejudicam o desempenho individual, mas também podem afetar negativamente as equipes e as organizações como um todo.
A seguir, vou destacar os principais fatores que podem estar sabotando a sua carreira — e a sua vida — sem que você se dê conta. E o mais importante: como lidar com cada um deles.
1. Zona de conforto: Permanecer na mesma posição ou evitar novos desafios pode limitar seu crescimento profissional.
Dica: Busque ativamente novas oportunidades e desafios. Aceite projetos que exijam habilidades novas ou ampliadas, e procure se expor a diferentes aspectos de sua área para estimular seu desenvolvimento contínuo.
2. Perfeccionismo excessivo: Tentar fazer tudo perfeitamente pode levar à procrastinação e ao esgotamento.
Dica: Estabeleça critérios realistas para a conclusão das tarefas e pratique a delegação quando apropriado. Lembre-se de que completar uma tarefa é frequentemente mais importante do que alcançar a perfeição.
3. Medo de falhar: O receio de cometer erros pode impedir que você assuma riscos que poderiam beneficiar sua carreira.
Dica: Adote uma mentalidade de crescimento, de forma que cada falha seja vista como uma oportunidade de aprendizado. Avalie o que deu errado, ajuste e tente novamente com uma perspectiva renovada.
4. Falta de objetivos claros: Não ter metas definidas pode resultar em falta de direção e motivação.
Dica: Reserve um tempo para definir objetivos de carreira específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais (isto é, de acordo com o modelo SMART). Revise esses objetivos regularmente para garantir que permaneçam alinhados com suas aspirações profissionais.
5. Procrastinação: Adiar tarefas importantes pode causar pressão desnecessária e impactar negativamente seu desempenho.
Dica: Divida as tarefas grandes em etapas menores e mais gerenciáveis. Utilize técnicas de gestão do tempo, como a técnica Pomodoro, para manter o foco e o ímpeto. Estabeleça pequenos prazos ao longo do caminho para evitar a necessidade de fazer tudo de última hora.
6. Relacionamentos profissionais inconsistentes: Não investir em construir uma rede de contatos ou manter relações interpessoais tensas pode restringir suas oportunidades de progresso.
Dica: Dedique tempo para desenvolver e manter uma rede sólida de contatos profissionais. Seja proativo em participar de eventos do setor, solicitar feedback, e melhorar suas habilidades de comunicação e colaboração.
Um artigo publicado na Science aponta os comportamentos de autossabotagem como um dos principais obstáculos de carreira desta era. Afinal, se o profissional está impedindo a si mesmo de crescer, quem é que poderá ajudá-lo a fazer isso?
Por isso, é crucial que os profissionais reconheçam esses padrões de comportamento e tomem medidas para superá-los, a fim de alcançar seu pleno potencial e contribuir de forma significativa para o sucesso de suas empresas.
Agora que você está armado com o conhecimento e as estratégias para combater esses sabotadores, é hora de agir. Não permita que hábitos antigos e padrões de pensamento limitantes ditem o futuro da sua carreira. Faça um compromisso consigo mesmo hoje para começar a implementar essas mudanças, uma pequena etapa de cada vez.
Lembre-se de que cada decisão consciente para superar esses desafios não apenas impulsiona sua carreira, mas também molda o profissional que você deseja se tornar. Assuma o controle, defina suas metas, e mova-se com confiança em direção a um futuro mais brilhante e realizado.
O sucesso está ao alcance daqueles que estão dispostos a enfrentar e superar os obstáculos internos que os limitam. Então, está na hora de transformar seu potencial em realidade.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
