Você já se perguntou o que faz um CEO ter sucesso? Durante minha carreira como headhunter, tive o privilégio de conversar com inúmeros executivos bem-sucedidos e, quando lhes pergunto o que os levou até o topo, ouço as mais variadas respostas. Todas convergem para o mesmo ponto: o que líderes bem-sucedidos têm em comum é abrir mão da vaidade e saber dar e receber feedback.
Pense no ambiente corporativo, onde cada decisão é submetida à avaliação e cada resultado é mensurado. Se um executivo ignora os sinais do mercado, não ouve seus pares e deixa a vaidade tomar conta, por mais experiente que seja, pode estar adotando a receita para o fracasso.
O artigo “The Feedback Fallacy”, da “Harvard Business Review”, destaca que o feedback positivo e construtivo pode acelerar o aprendizado e o desenvolvimento pessoal em até 40%. Mas os executivos de sucesso estão abertos, sobretudo, para o feedback crítico.
Eles o buscam ativamente, o absorvem e agem de acordo com ele. E eles o interpretam como uma ferramenta para aprimoramento contínuo, uma espécie de janela que se abre para perspectivas que não teriam de outra forma.
Rebobine um pouco a fita da história humana. Nos tempos dos caçadores-coletores, o feedback era instantâneo e visceral. Um erro ao rastrear a presa resultava em dias de fome. Por outro lado, um erro ao interpretar os sinais de um predador significava risco de vida para si ou para a prole.
Com nosso histórico evolutivo, a neurociência explica que o inesperado e o desconhecido servem também como gatilhos de ameaça. Ao identificá-los, o sistema nervoso central ativa o modo de hipervigilância e fuga, o que leva a uma resposta reativa. Isso explica por que a frase “Preciso te dar um feedback” gera tanta ansiedade.
No entanto, foi graças a ele que nós sobrevivemos e progredimos. No livro Culture and the Evolutionary Process, os autores Robert Boyd e Peter Richerson discutem como o aprendizado cultural, impulsionado pelo feedback, foi fundamental para a nossa evolução. Se muita coisa mudou ao longo desses milhares de anos, a importância do feedback para nossa sobrevivência permanece.
Bill Gates já disse que: “Todos nós precisamos de pessoas que nos deem feedback. É assim que melhoramos.” E ele não poderia estar mais correto. O pulo do gato é que não basta dizer o que nos vêm à cabeça.
Antes de dar qualquer feedback, o líder deve refletir: “Com qual sentimento eu quero que a pessoa saia desta conversa?” Não consigo imaginar alguém que responderia: “Meu objetivo é acabar com a autoestima do colaborador e fazer com que ele saia da conversa devastado.”
Por isso, é importante ter em mente estes cinco fatores na hora de dar e receber feedback, para que ele seja um momento de troca de valor mútuo, enriquecedor tanto para a empresa quanto para o colaborador:
1. Esteja Aberto: Nem todo feedback será agradável, mas todos têm valor. Aceite-os como presentes — o que você enxerga como o cavalo de Troia pode ser, na verdade, uma bandeira branca da paz.
2. Pergunte: Não espere que o feedback venha até você. Seja curioso. Pergunte como pode melhorar.
3. Reflexão é a chave: Depois de receber feedback, reserve um tempo para refletir e analisar o que ele revela sobre você.
4. Agradeça: Mesmo que não concorde com o feedback, agradeça. Alguém se deu ao trabalho de compartilhar uma perspectiva com você.
5. Dê feedback com coração: Quando chegar a sua vez de falar, faça-o com empatia. Lembre-se de que a sinceridade sem empatia pode soar como pura maldade. Por isso, evite dar feedbacks em momentos de estresse.
Neste mundo digital, as emoções, os sentimentos e as percepções humanas são bastante valiosos, pois são justamente o que nos diferenciam dos robôs. Precisamos ser espertos e saber usá-los a todo momento!
Lei Han, engenheira e especialista em gestão e inovação pela Wharton School, defende que a capacidade de dar e receber feedbacks está relacionada à habilidade de mediação. Isso favorece debates entre grupos com perspectivas distintas, viabiliza a resolução de problemas e abre caminhos para a inovação.
Já parou para pensar em quantas vezes cogitou a ideia de buscar coaching ou mentoria para evoluir na carreira e desenvolver, sobretudo, habilidades interpessoais? Isso nada mais é do que contratar um serviço especializado em dar feedback assertivo, para orientá-lo no processo.
Se você é do tipo que se esquiva do feedback, saiba que é um tremendo banho de água fria ter que encarar que, em algum momento, precisará pagar por algo que poderia ter tido de graça e na hora certa, mas que você escolheu rejeitar.
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