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Insights de carreira com o headhunter mais influente do Brasil e um estudioso dos hábitos, comportamentos e habilidades que levaram os maiores líderes ao seu lugar de potência

Por que você não precisa de um propósito no trabalho para ser feliz

Vivemos em uma era na qual a busca por um propósito de vida se tornou quase uma obrigação, mas nem sempre o trabalho será sua realização

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Foto do author Ricardo Basaglia

“Minha vida não tem propósito, direção, objetivo, nem significado, e ainda assim, eu sou feliz. Não consigo entender. O que estou fazendo certo?”

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Essa frase do famoso autor e quadrinista norte-americano Charles M. Schulz reforça o quanto vivemos em uma era na qual a busca por um propósito de vida se tornou quase uma obrigação.

A sociedade nos pressiona a encontrar um objetivo claro que guie nossas ações e decisões. Mas será que realmente precisamos de um propósito para sermos felizes e realizados? Ou será que podemos encontrar felicidade e sucesso de outras maneiras?

Historicamente, a ideia de propósito esteve intimamente ligada à religião e à cultura. Na Antiguidade, as pessoas buscavam sentido por intermédio de deuses e mitologias que explicavam o mundo ao redor. Cada ação tinha um significado maior, guiado por forças divinas e tradições ancestrais.

Na Idade Média, a religião dominava a vida cotidiana, com a Igreja Católica fornecendo um propósito claro: servir a Deus e garantir um lugar no céu. Com o advento do Iluminismo e, posteriormente, com a Revolução Industrial, a busca pelo propósito começou a se transformar. O foco se deslocou do divino para o humano, e a razão passou a guiar nossas ações.

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Vivemos em uma era na qual a busca por um propósito de vida se tornou quase uma obrigação, mas nem sempre o trabalho será sua realização. Foto: pixel-kraft - stock.adobe.com

A ideia de progresso e a valorização do trabalho como um meio de alcançar a realização pessoal e social ganharam força. No século XX, movimentos filosóficos e psicológicos, como o existencialismo e a psicologia humanista, reforçaram a importância de encontrar um propósito individual como caminho para a felicidade.

Hoje, a busca por um propósito está mais presente do que nunca. Estudos mostram que pessoas que têm um propósito claro na vida tendem a ser mais resilientes, saudáveis e satisfeitas com as próprias vidas.

Uma pesquisa da Rush University revelou que indivíduos com um forte senso de propósito vivem mais e têm menos probabilidade de sofrer de doenças crônicas. No entanto, segundo dados do Pew Research Center, cerca de 30% dos trabalhadores nos Estados Unidos consideram seu emprego apenas um meio de subsistência, enquanto 50% veem o trabalho como uma carreira ou um passo para algo maior. Isso sugere que muitas pessoas ainda estão em busca de um propósito em suas vidas profissionais, mas nem todas o encontram em seus empregos atuais.

Atualmente, ter um emprego que permita a satisfação das necessidades básicas pode ser suficiente para que muitos se sintam felizes e realizados, mesmo que o trabalho em si não seja a maior realização de suas vidas. Isso porque somos mais do que nossos ideais. Nós somos também feitos de nossos talentos.

Scott Galloway, autor e professor na Universidade de Nova York, defende de maneira radical a seguinte premissa: “Não siga sua paixão, siga seu talento. Determine no que você é bom (cedo) e comprometa-se a se tornar excelente nisso. Você não precisa amar, apenas não odeie.”. Para ele, quanto mais cedo você conseguir identificar no que é bom e se comprometer com isso, mais você será recompensado. E é por esse caminho que a satisfação virá.

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Isso significa que propósito não é um fator importante? Longe disso. Fato é que é possível vivermos de maneira alinhada ao nosso propósito em diferentes âmbitos da vida, sem nos restringirmos à carreira. Praticar voluntariado, se engajar em causas sociais, se unir a grupos ou até mesmo criar conteúdo sobre um assunto pelo qual você seja apaixonado são formas de dar sentido e dar vazão ao seu propósito. Em seu artigo na Harvard Business Review, o professor Stephen Friedman, da Schulich School of Business em Toronto, defende justamente esse argumento.

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Ou seja, está provado de que existem maneiras de equilibrar a satisfação no trabalho mesmo que esta não seja a sua maior realização de vida.

Como lidar melhor com essa situação? A seguir, deixo seis dicas práticas para lidar com o complexo equilíbrio entre propósito e trabalho:

  • Aceite a incerteza: entenda que não ter um propósito definido não é um problema. A vida é cheia de incertezas, e abraçar essa realidade pode ser libertador.
  • Explore seus interesses: em vez de buscar um propósito grandioso, concentre-se em atividades que você gosta e nas quais você é bom. Isso pode trazer satisfação e realização.
  • Defina objetivos de curto prazo: estabeleça metas pequenas e alcançáveis que possam guiá-lo no dia a dia. Isso ajuda a manter o foco e a motivação.
  • Seja flexível: esteja aberto a mudanças e novas oportunidades. Às vezes, o propósito pode ser encontrado em lugares inesperados.
  • Conecte-se: envolva-se em comunidades ou grupos que compartilham seus interesses. Isso pode proporcionar um senso de pertencimento e apoio.
  • Cuide de si mesmo: priorize sua saúde mental e física. Um propósito de vida não vale a pena se for à custa do seu bem-estar.

A busca por um propósito é uma jornada pessoal e única. Nem todos precisam de um propósito definido para serem felizes e realizados. O importante é encontrar um equilíbrio entre seus interesses, habilidades e oportunidades, sem se deixar levar pela pressão externa.

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Ou seja, em vez de se preocupar em encontrar um propósito grandioso, foque em fazer o que você gosta e é bom. Deixe a vida te surpreender e aproveite as oportunidades que surgirem. A felicidade e o sucesso não estão necessariamente em um propósito definido, mas na jornada e nas experiências que você acumula ao longo do caminho. Abra-se para o novo, seja flexível e, acima de tudo, cuide de si mesmo. A vida é uma aventura, e cada passo é uma chance de aprender e crescer.

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