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Riqueza do subsolo sustentou bom desempenho do Peru

Cobre, ouro e zinco e outros minerais responderam em 2013 por mais da metade das exportações do Peru, mas esse quadro deve mudar 

Foto do author Márcia De Chiara
Atualização:

Quem sai de Lima e percorre 200 quilômetros em direção ao sul do país pela estrada que margeia a costa do Pacífico fica intrigado com a falta de evidências da riqueza que tem sustentado o forte ritmo de crescimento peruano. Há poucas indústrias ao longo da rodovia e nem sinais de agricultura ou pecuária: a paisagem é desértica. É que o motor da economia peruana, a mineração, está debaixo da terra.

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Cobre, ouro, zinco e outros minerais responderam no ano passado por mais da metade das exportações do país. Dos US$ 41,8 bilhões vendidos ao exterior, US$ 23 bilhões vieram da receita obtida com minerais. Quando se considera apenas as matérias-primas, a fatia da mineração sobe para 70% das exportações. Com petróleo, a participação da mineração no Produto Interno Bruto (PIB) beira 10%.

O desempenho da mina de Cerro Lindo, a maior mina subterrânea do Peru em produção, que pertence à mineradora Milpo, controlada pela Votorantim Metais, reflete o ritmo frenético da indústria extrativa do país nos últimos tempos. A mina fica no distrito de Chavín, na Província de Chincha, a 263 quilômetros ao sul de Lima.

O vaivém de caminhões pelos 63 quilômetros que separam o litoral do Peru da entrada da mina, a mais de 1,8 mil metros de altitude, é intenso. A cada curva da estrada sinuosa há espelhos para dar visão ao motorista do tráfego no sentido contrário. Quase toda hora o trânsito é interrompido para dar passagem a um caminhão. Em média, são 40 carretas de minério que deixam Cerro Lindo 24 horas por dia.

Atualmente, a mina está perto de atingir a produção de 17 mil toneladas diárias, a maior parte de zinco e em menores quantidades de cobre e chumbo. Sete anos atrás, quando começou a ser explorada, a produção era de 2,5 mil toneladas. Se novas áreas não forem abertas, Cerro Lindo deve-se esgotar em 2025.

Centro da terra. Após uma hora e meia percorrendo essa estrada de paisagem quase lunar, inicia-se a viagem ao centro da terra. A mina subterrânea tem mais de 300 metros de profundidade, divididos em túneis de 30 metros de altura. Lá embaixo é uma verdadeira cidade, com ruas, refeitórios, vestiários e banheiros e até congestionamentos. Por esse labirinto escuro e úmido circulam dezenas de picapes com tração 4x4, máquinas que fragmentam as rochas depois de detonadas e caminhões que carregam os minerais brutos à superfície.

Grande parte dessa linha de desmontagem do subsolo é mecanizada. Já na superfície, esses fragmentos de rocha são levados por uma esteira até uma usina, onde ocorre a separação do metais - zinco, cobre e chumbo - por meio de reações químicas. Todo o processo, da extração dos metais até o carregamento dos caminhões e o desembarque no porto, é monitorado por câmeras. Das salas de controle em Cerro Lindo e no escritório da companhia em Lima, é possível obter informações exatas sobre a produção.

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Ao todo, trabalham na mina 2,4 mil pessoas, dos quais 580 da Milpo e o restante terceirizado. São dois turnos de operação, sem sábado ou domingo. Os trabalhadores ficam 14 dias na mina e depois retornam para as suas casas. O nível mínimo de escolaridade exigido é o secundário completo. O salário de um ajudante, a função mais básica, é US$ 800 mensais.

Segundo o diretor-presidente da Votorantim Metais, Tito Martins, os custos de produção no Peru são muito competitivos, especialmente em Cerro Lindo, por causa da facilidade de logística de transporte e da menor extensão geográfica. Além disso, observa, "o país tem regras claras e estáveis para o setor mineral e um ambiente de negócios muito bom em diversos setores".

Desde 2004 no Peru, quando comprou a Milpo da unidade de zinco metálico Cajamarquilla por US$ 210 milhões, a Votorantim Metais desembolsou US$ 420 milhões para assumir o controle da mina em agosto de 2010. A estratégia da empresa é crescer em metais básicos e, em particular, na mineração e metalurgia de zinco, que é usado na galvanização.

Mas, com a queda dos preços das commodities minerais, o cenário está mudando. Aumentar a produção mantendo a qualidade é uma espécie de seguro contra os preços baixos porque o custo da exploração diminui.

Em recente reportagem publicada no jornal peruano Gestión, o gerente-geral da Milpo, Víctor Gobitz, assinalou que a empresa pretende neste ano otimizar a produção das minas em operação. Cerro Lindo, que segundo a reportagem faturou no ano passado US$ 476 milhões e respondeu por 66% da receita da companhia, deve receber a maior parte dos investimentos, projetados entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões. 

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