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Análise|O risco político no caminho da nova presidente da Petrobras

Estatal será ainda mais valiosa, em todos os sentidos, se continuar a crescer e a explorar com eficiência e criatividade o mundo da energia, sem desmandos e interferências desastrosas do poder político

Foto do author Rolf Kuntz

Gerar lucro, respeitar a lógica empresarial e atender aos interesses dos acionistas são promessas da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard. A executiva é a segunda pessoa indicada para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em menos de um ano e meio. Para “atender aos interesses dos acionistas”, ela terá de levar em conta os desejos do presidente da República — e isso poderá representar um de seus maiores desafios.

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Atenção às palavras de alguns ministros também será necessária. A expressão “acionista controlador” deveria indicar o Tesouro Nacional e, indiretamente, o governo central. Mas com frequência se pensa, mesmo, nas pretensões e conveniências de quem manda no Palácio do Planalto.

Empresa estatal, no Brasil, é instrumento de poder e quanto a isso pouco se distingue dos órgãos da administração direta. Sendo uma grande empresa — neste caso, uma das grandes do mundo —, dificilmente será conduzida sem subordinação aos projetos pessoais e partidários dos governantes e de seus aliados.

A história da Petrobras, saqueada, endividada e quase quebrada num período recente, confirma da pior maneira esse padrão. Se alguém tiver dúvida sobre esses fatos, pense nos bilhões devolvidos à companhia por alguns dos envolvidos na aventura. De onde teriam surgido esses bilhões? Da conta de poupança de algum dos acusados?

Petrobras tem que lidar com interferências políticas Foto: Pedro Kirilos / Estadão

Mesmo com respeitáveis intenções, a “lógica empresarial” será subordinada a quem decide as controvérsias mais importantes. A nova chefe da Petrobras menciona a diretoria colegiada e o Conselho de Administração. Esses órgãos podem comandar a empresa, de fato, na maior parte do tempo. Mas ninguém deveria esquecer o acionista controlador e seu representante mais poderoso, o presidente da República.

Se for atento a formalidades e regras do jogo administrativo, esse governante respeitará os padrões normais da gestão empresarial. Se for mais inclinado a mandar e a intervir nos vários setores da administração, dificilmente deixará de dar palpites e de tentar impor seus planos. Se essa tendência prevalecer, os interesses da Petrobras poderão ser sujeitos, de novo, a políticas de preferência a fornecedores nacionais de insumos, equipamentos industriais, plataformas e navios.

Esses fornecedores poderão, talvez, ser mais eficientes do que foram há alguns anos. Mas o risco de perdas e de custos excessivos estará presente, de novo, se a gestão da petroleira for subordinada a objetivos estranhos a seus interesses empresariais. Reforçar as cadeias nacionais será uma preocupação respeitável, se essas cadeias forem razoavelmente competitivas. Mas a mistura imprudente de objetivos e de políticas será certamente, como foi no passado, desastrosa para a Petrobras e para o País. A presidente Magda Chambriard terá maior chance de êxito, em sua nova função, se conseguir evitar essa mistura.

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Não está claro, até agora, se o presidente Lula entendeu e reconheceu os erros cometidos em outros mandatos — seus e da companheira Dilma Rousseff. Desconhecer ou minimizar as necessidades e interesses empresariais da Petrobras levará a companhia a um novo desastre. A empresa servirá amplamente aos interesses nacionais se for dirigida com eficiência, gerando lucro e ao mesmo tempo avançando na produção de energia, na exploração de novas áreas e na busca de soluções energéticas inovadoras e ambientalmente sustentáveis.

Nada se ganhará com populismo nos preços, nem com a restauração de políticas de desenvolvimento já fracassadas. Muito importante para o País, a Petrobras será ainda mais valiosa, em todos os sentidos, se continuar a crescer e a explorar com eficiência e criatividade o mundo da energia — sem desmandos e interferências desastrosas do poder político.

Análise por Rolf Kuntz

Jornalista

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