A Conab anunciou as expectativas para a safra de grãos a ser colhida em 2023, com um possível novo recorde: 308 milhões de toneladas. O número é espetacular, representa 14% a mais do que foi colhido este ano e será a primeira vez que o País romperá a barreira dos 300 milhões - e apenas 8 anos após superar a marca dos 200 milhões. Boa notícia na celebração dos 200 anos de Independência do Brasil.
Mas o mais importante desse anúncio não está dito. Há muitos anos nos queixamos da falta de estatísticas confiáveis sobre estoques disponíveis e produções estimadas, por duas principais razões. Sem elas, o mercado funciona às cegas, a formação dos preços só depende das Bolsas internacionais e do câmbio
E, por outro lado, o governo fica com dificuldades de estabelecer políticas emergenciais para atender setores específicos: por exemplo, vai ter milho suficiente para atender à demanda de produtores de proteína animal, de etanol e da indústria de alimentos? Embora esse exemplo implique interesses do setor privado, sempre é possível alguma ação de governo que evite crise de abastecimento.
Pois, a Conab montou um forte esquema de pesquisa e verificação que vem melhorando as informações estatísticas, dando mais confiança ao mercado. E mais: além dela, o IBGE faz previsão de safra.
Um desperdício: dois órgãos do governo fazendo o mesmo trabalho, duplicando custos e gerando incertezas. Embora os números das duas instituições fossem parecidos, não eram iguais, e sempre ficava a dúvida sobre qual estaria certo. Pois, Conab e IBGE estão se acertando para unificar o trabalho.
Outro ponto importante: as estatísticas vêm acompanhadas de análise equilibrada de custos e de margens, o que ajuda o produtor a decidir sobre o que deve fazer, em especial neste ano em que os preços dos principais insumos tiveram uma volatilidade enorme em função da pandemia e da guerra na Ucrânia.
Os dados apresentados são interessantes: a produção de milho deve saltar de 114 milhões para 125 milhões de toneladas (mais 9,4%), boa parte em função de aumento de produtividade (mais 5,67%). Abastecido o mercado interno, poderão ser exportadas 44 milhões ou 45 milhões de toneladas. E a parcela de soja a ser exportada pode chegar a 91 milhões de toneladas.
Tudo bom, mas ainda temos muito a fazer: incluir os mais de 4 milhões de pequenos produtores rurais que não estão no mercado e, com isso, reduzir a grande chaga das desigualdades no campo. Missão para o magnífico movimento cooperativista brasileiro.
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