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Ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da FGV

Opinião | Plano de Safra deveria considerar financiamento para construção de infraestrutura

Custo de produção e preços na colheita são dois dos pilares que definem o lucro ou o prejuízo da safra

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Nos próximos dias, deve ser anunciado pelo Ministério da Agricultura o Plano de Safra para 2023/24, contendo indicações concretas sobre volume e custos dos recursos para o crédito rural. O ministro Carlos Fávaro já anunciou que a linha mestra dessa versão do plano será a agricultura de baixo carbono.

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É uma importante direção que se alinha ao modelo global de transição da economia tradicional para a economia verde.

Haverá uma ligação entre o crédito e a sustentabilidade da produção. O uso de bioinsumos e o incentivo à agricultura regenerativa farão parte do programa. Faz todo sentido.

Mas os agropecuaristas estão um pouco preocupados com o que virá, especialmente quanto às taxas de juros. Com a queda dos preços agrícolas nas últimas semanas – especialmente no caso de milho e soja –, os resultados econômicos da safra a ser plantada no próximo verão dependerão muito dos custos de implantação, e esses do modelo de crédito.

Custo de produção e preços na colheita são dois dos pilares que definem o lucro ou o prejuízo da safra, somados a um terceiro, que é o comportamento do clima durante o ciclo das culturas.

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A safra de grão que está sendo colhida em 2023 deve ultrapassar 300 milhões de toneladas. Não tem onde armazenar isso tudo. O Plano de Safra deveria considerar o financiamento para a construção de sistemas de armazenagem, seja nas propriedades rurais, seja nas cooperativas de produtores.

Mas um dos pontos mais importantes do plano deve ser o volume de recursos para subvenção aos prêmios de seguro rural. Em 2022, o seguro salvou os agricultores gaúchos de quebradeira por causa de seca tremenda.

Pois neste ano tem nuvens que toldam o horizonte de 2024: custos altos e preços baixos já são indesejáveis. Se o clima atrapalhar, podemos ter um desastre nas regiões agrícolas afetadas pela seca. Portanto, é essencial que os recursos referidos sejam o triplo dos últimos planos: R$ 3 bilhões.

Já teremos em 2024 outras questões complicadas, determinadas pelas regras aprovadas pela União Europeia quanto a importação pelo velho continente de produtos colhidos em áreas de desmatamento recente. Sem entrar no mérito dessa medida (positiva pelo ideal de preservação ambiental, mas negativa quando se transforma em barreira comercial não tarifária), essa regra vai aumentar custos para produtores que terão de comprovar a origem de suas colheitas. E isso é só o começo desse tipo de medidas. Ou seja, o Plano de Safra deve considerar essas nuvens escuras no horizonte, ou essas pedras cortantes no caminho.

Opinião por Roberto Rodrigues

Ex-ministro da Agricultura e professor emérito da Fundação Getúlio Vargas

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