O Brasil tem exercido papel relevante em fóruns mundiais como Conselho de Segurança da ONU, G-20, Brics e nas Conferências da ONU sobre o Clima e a Biodiversidade. O reconhecimento da liderança brasileira em algumas frentes de negociações multilaterais, como a das mudanças climáticas, é evidente. Além disso, a participação de profissionais brasileiros em iniciativas globais como Forest Stewardship Council (FSC), Global Reporting Initiative (GRI), World Economic Forum (WEF), World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e World Wildlife Fund (WWF), entre outras, está consolidada. No entanto, a apresentação do País no exterior é errática e muitas vezes contraditória.
Existe a imagem consolidada de que o Brasil não cuida de seus recursos naturais, que sofrem com desmatamento, queimadas, garimpo ilegal e, mais recentemente, a relação entre degradação ambiental e narcotráfico. O que não está consolidada é uma percepção internacional compatível com a relevância econômica, tecnológica, comercial e ambiental de setores, por exemplo, de commodities, da mineração e energia do País. Enquanto interesses comerciais de países concorrentes influem na construção de uma imagem negativa do Brasil, do lado de cá parece não haver interesse desses setores em demonstrar a heterogeneidade de seus impactos ambientais e externalidades negativas e que ilegalidades não fazem parte de suas estratégias.
Em meio a jogos de poder geopolítico, há oportunidade para o País se firmar como líder nos campos da transição energética e da segurança alimentar e sua conexão com a crescente atenção ao capital natural e clima. O tema é exaustivamente comentado, em antecipação à próxima Conferência do Clima (COP-30), que ocorrerá em novembro, em Belém. As nomeações do embaixador André Corrêa do Lago como presidente e de Ana Toni como CEO da COP-30 são boas novas. As propostas indicadas por eles até o momento apontam a valorização do Brasil como um dos poucos países do mundo com soluções concretas e de grande escala para os desafios climáticos.

Para isso, porém, será preciso resolver as contradições existentes. Ações de comando e controle têm sido efetivas na redução do desmatamento, mas o combate às ilegalidades como incêndios criminosos, narcotráfico e garimpo ilegal, ainda estão aquém do aceitável. Nesse cenário, é preciso reconhecer o esforço do Instituto Brasileiro da Mineração (Ibram), que busca explicitar a diferença entre mineração e garimpo ilegal.
Entidades e lideranças empresariais do agronegócio poderiam seguir o mesmo caminho e apresentar os impactos positivos que proporcionam ao planeta, como a proteção de grandes extensões de áreas de preservação florestal, em conformidade com o Código Florestal brasileiro. Este, por si só, é um caso único de solução para o uso integrado da terra, que alia produção e conservação.
Ainda dentro do agronegócio, há casos concretos de sucesso que fortalecem o soft power brasileiro, associando posicionamento comercial, produção em grande escala, recursos naturais e agenda climática. Um exemplo emblemático é o suco de laranja, que chegou a responder por 80% das exportações mundiais. Estudos de pegadas de carbono e branding associaram o produto com novas gerações, como a campanha “I feel orange”, da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). O suco de laranja passou a ser visto como um alimento saudável, natural e de qualidade do Brasil.
Outro exemplo, mais recente, é a macaúba. Na COP-28 de Dubai, em 2023, a palmeira nativa do Brasil foi exposta, no prestigiado Museu do Futuro, como opção para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF). A estratégia da empresa Acelen associava o Brasil como provedor de um produto da bioeconomia capaz de atrair bilhões de dólares de um dos maiores fundos do Oriente Médio, o Mubadala.
O etanol e a carne bovina também enfrentaram barreiras reputacionais. A construção da imagem de uma carne de baixo carbono, sem desmatamento, com bem-estar animal e altíssima qualidade, é possível. Trata-se de um grande desafio de contra-narrativa. A virada do jogo, no caso da cana-de-açúcar, foi apresentar o etanol como uma das mais elegantes soluções de transição energética.
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Na COP-27, Mato Grosso, um dos campeões do desmatamento, mostrou como reduziu em 85% a derrubada de vegetação nativa nos últimos 20 anos, enquanto aumentou sua produção em 800%. Assim, apresentou como conciliou conservação e produção. O Estado contou com parcerias com organizações como The Nature Conservancy (TNC) e a IDH (iniciativa holandesa para o comércio sustentável) e programas como Produzir, Conservar e Incluir. Porta-vozes globais, como Nat Keohane, diretor da Leaf Coalition, e Rattan Lal, Nobel da Paz, apoiavam o Mato Grosso como novo modelo econômico para preservação de florestas, destacando, também, o potencial econômico do pagamento por serviços ambientais como alavancador de conceitos como PIB Verde. Trata-se da apresentação de casos concretos, positivos, associados ao reconhecimento de desafios em transformação.
Essa combinação de boas práticas, visão, superação de desafios ambientais e sociais, se observada com atenção, nos reserva boas surpresas. Uma delas vem da Amazônia e tem liderança feminina. Parte de uma família pioneira do norte do Mato Grosso, que enfrentou por três gerações o desafio de equilibrar a conservação ambiental com sobrevivência econômica, sete mulheres (a mãe e seis filhas) foram para o mundo estudar e construir carreiras. Com sólidas formações em administração de empresas, direito e marketing, elas se dedicam à construção de novas narrativas, que promovam o setor e o País no exterior. Os casos citados, intencionalmente escolhidos, foram conduzidos pela BGlobal, empresa criada por duas delas.
Com sedes em Washington e Brasília, a empresa é um exemplo de gestão de como a imagem do Brasil está sendo trabalhada de forma estratégica no exterior. O lado emblemático dessa iniciativa está associado à sua raridade e potência. Do coração amazônico, lideranças femininas se dedicam, de cabeça erguida e com muita coragem, a enfrentar os desafios das contradições brasileiras, propondo uma imagem do Brasil que ultrapassa jargões patrióticos. Exemplos para um País que ainda precisa conseguir se apresentar como o provedor de soluções efetivas para o contexto climático atual.